Há cinco anos, Rafael Barra de Almeida chegava à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para o dia da defesa de mestrado. Aluno da turma inaugural do Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação (PGCC), seu trabalho seria o primeiro apresentado pelo (ainda jovem) curso. Naquele 25 de janeiro de 2013, o PGCC contava com 11 professores — e outros 14 estudantes, além de Rafael –, e não dispunha de sua própria sala.
“A Pós-graduação começou muito pequena. Na época, o professor Rubens de Oliveira — então diretor do Instituto de Ciências Exatas (ICE) — arrumou uma salinha para que tivéssemos ao menos um lugar de encontro. Com o processo começando a engrenar, conseguimos mandar nossos alunos para várias conferências (até internacionais), movimentando mais a pesquisa”, relembra a professora Regina Maria Braga, primeira coordenadora do PGCC.
Oriundos do Departamento de Computação do ICE, os professores que formaram o corpo docente do curso já atuavam em outros programas de Pós-graduação. “Havia um anseio muito grande — de professores e alunos da Computação — para que se criasse um curso de mestrado voltado para as questões da Computação mais pura. E, ao final de 2010, conseguimos submeter o projeto para formular o programa.”
Atualmente, o curso conta com 19 docentes e recebe cerca de 40 alunos por ano
Refletindo o empenho dos professores com o sucesso do recém nascido programa, porém, Rafael conta que, mesmo nesse complicado período inicial, o processo de orientação foi bastante cuidadoso. “Os professores acompanharam de perto cada etapa do processo, olhando com extrema paciência tudo o que era produzido. Nós conseguimos publicar quatro trabalhos antes da defesa, em bons periódicos, nacionais e internacionais, o que auxiliou muito no momento de juntar todo o material para a dissertação. Além de ajudar na aceitação do trabalho pela banca, porque oferece um aval externo a Universidade do que estava sendo feito.”
Apresentando a pesquisa “Análise e contra-ataque à poluição e whitewashing em sistemas P2P de vídeo ao vivo”, o então mestrando tratou da segurança na transmissão de vídeos ao vivo de forma peer-to-peer, quando vários computadores interagem sem que haja uma entidade central. “No trabalho, buscamos formas de evitar que usuários dessa rede realizassem ataques de poluição no sistema. Por exemplo, você está assistindo a final da Copa do Mundo na sua casa pela internet e, de repente, começa a aparecer vídeos de outras coisas. Isso ocorre quando um atacante entra no sistema e começa a transmitir algo sem autorização.”
Conforme o professor Alex Borges Vieira — orientador do trabalho e, atualmente, vice-coordenador do PGCC –, o exemplo mais atual do campo pesquisado por Rafael é o Bitcoin: “Nele, não há um banco centralizado. As pessoas que tem a moeda virtual participam monitorando umas as outras, certificando que as transações são válidas. O que ele fez foi criar um sistema para identificar pessoas mal-intencionadas nesses sistemas, e de alguma forma, bloqueá-las. Os resultados dele foram animadores. Mesmo em condições severas de ataque — quando os atacantes geram uma identidade falsa — o método desenvolvido mostrou-se capaz de barrar um ataque.”
Suscitando uma animada discussão entre a banca examinadora — que contou com professores convidados da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) –, o trabalho de Rafael foi indicado entre as 10 melhores dissertações daquele ano, pela Sociedade Brasileira de Computação. “Além disso, esse trabalho consegui publicações em uma das mais importantes conferências nacionais (Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos), em uma conferência internacional (IEEE International Conference on Communications) e no importante periódico Elsevier Computer Networks.” Ainda segundo Vieira, a dissertação de Rafael contribuiu para firmar uma parceria entre o PGCC e a UFRJ que dura até hoje.
Atualmente, Rafael continua na UFJF, agora atuando como analista de Tecnologia da Informação (TI) no Centro de Gestão do Conhecimento Organizacional (CGCO). “Trabalhando aqui com infraestrutura de redes, eu consigo aplicar diretamente tudo o que aprendi, durante a graduação e o mestrado. Toda a questão de segurança de redes pôde ser generalizada para os outros aspectos do trabalho. Aqui no CGCO, cuidamos dos servidores e da segurança do acesso desses serviços oferecidos pela UFJF”, conta o mestre.
Crescimento exponencial
Desde sua defesa, o PGCC cresceu em um ritmo acelerado. Saindo daquela primeira salinha onde eram realizadas suas reuniões, a Pós-graduação conquistou um espaço para laboratórios, salas de professores permanentes e convidados; o corpo docente de 11 professores cresceu para 19. Com as melhorias da infraestrutura, cresceu também a capacidade de orientação e, atualmente, o curso recebe cerca de 40 alunos por ano.
“Na minha opinião, as principais mudanças estão relacionadas à pesquisa: cresceu o número de projetos financiados por órgãos de fomento e aportados por empresas”
Alex Borges
“Mas, na minha opinião, as principais mudanças estão relacionadas à pesquisa: cresceu o número de projetos financiados por órgãos de fomento — como o CNPq e a Fapemig –, além de trabalhos aportados por empresas como a Microsoft e a globo.com. Além disso, praticamente todos os grupos de pesquisa têm projetos de cooperação internacional, principalmente com grupos dos EUA, da França e da Itália”, aponta Vieira. De acordo com o professor, o interesse pelo PGCC aumentou em escala nacional e internacional, partindo tanto de alunos quanto de professores interessados em colaborar com o programa.
“Começamos a atrair alunos de outras regiões do país e estrangeiros. Atualmente, temos alunos da América Latina e pesquisadores estrangeiros com interesse em trabalhar como professores visitantes.” Outra métrica utilizada para avaliar o sucesso do curso é o acompanhamento dos egressos. “Há um grande número de mestres formados no PGCC cursando doutorados nos principais programas do Brasil. “Nossos egressos também ocupam cargos de destaque na região e, praticamente, todas as instituições de ensino da região tem como colaborador algum profissional formado aqui, seja como professor, seja como técnico administrativo.”
Desafios atuais
Com a experiência conquistada nesses cinco anos, o curso agora mira em levar a Pós-graduação para um novo patamar, criando um curso de doutorado. O desafio, explica Vieira, é ampliar o volume de produções acadêmicas e conquistar o nível 4 na avaliação da Capes.
“Os desafios e metas se confundem nesse momento. Para criação de um doutorado, nós temos que aumentar a nota de avaliação do curso frente a Capes. Isso é um desafio, pois para aumentar essa avaliação, temos que aumentar a produção acadêmica. Para isso, necessitamos de recursos, tanto para desenvolver a pesquisa, quanto para divulgar seus resultados. E, claramente, passamos por um momento com fortes restrições de recurso.”
Olhando para trás, porém, os professores do PGCC parecem confiantes na superação desse impasse. Trabalhando na conclusão de seu próprio data center — projeto iniciado em 2013, em parceria com outros programas de Pós-graduação da UFJF — o curso continua, gradativamente, construindo um caminho crescente. “No começo do programa, tinhamos dúvidas se conseguiríamos galgar esses passos na pesquisa, sendo um grupo ainda jovem. Hoje, ver o número de publicações e o número de dissertações defendidas, além de toda a estrutura desenvolvida, é muito gratificante”, avalia Regina.
“Nós trabalhamos com grande empenho pessoal de todos os envolvidos no PGCC, realizando parcerias com empresas e desenvolvendo intensamente projetos de pesquisa. Com isso, buscamos vislumbrar um caminho para melhorar o curso. Para conseguirmos construir o doutorado, o mais importante é termos os professores muito qualificados e aumentar o número de publicações. Temos todo o planejamento estratégico para isso e todo o corpo docente engajado nessa meta.”