Uma vida dedicada à construção de uma nova sociedade. José Paulo Netto, professor e militante reconhecido nacionalmente na área do Serviço Social, associa teoria e prática em uma trajetória intelectual que se cruza com a política. É diante deste contexto, que foi lançada na noite de ontem, no Museu de Arte Murilo Mendes, uma série de textos do autor, “José Paulo Netto. Ensaios de um marxista sem repouso”. No ano em que ele completa 70 anos, e que coincide com o centenário da Revolução Russa, foram compiladas quase cinco décadas de trabalho intelectual, pelo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Braz.
Juiz-forano, do bairro Vitorino Braga, José Paulo Netto fez questão que o lançamento da antologia fosse primeiro em sua cidade de nascimento e isso o tocou de maneira especial. Como professor, teve uma trajetória na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), de 1987 a 2013. O trabalhador dos livros, como se reconhece, dedicou seu trabalho e ainda atua na difusão da teoria marxista. Se formou nas lutas e nos embates da sua geração, tendo vivido a ditadura, a época da redemocratização do país e a atual conjuntura política. Segue suas pesquisas na produção de textos, organização de antologias, traduções, apresentações, ensaios, artigos e oferecendo aulas na Escola Nacional Florestan Fernandes, vinculada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Suspensório e cachimbo, tradicionais na figura de José Paulo o acompanharam também na noite de homenagens. Na solenidade, o professor recebeu as falas de elogio com muita humildade. Olhando a homenagem às vésperas de seus 70 anos, ele destaca que é “um momento de vida que vale a vida”. Para José Paulo, as conquistas sociais são fruto da expressão coletiva: “do ponto de vista individual eu não mereço isso, a história é feita por mulheres e homens cujos rostos não conhecemos”. O professor acredita em um só caminho: o do socialismo: “um mundo onde os homens façam três refeições por dia, respirem poesia e tracem projetos para o futuro.”
O organizador, professor Marcelo Braz, já foi aluno e orientando de mestrado e doutorado de José Paulo. Posteriormente, se tornou colega na Escola de Serviço Social da UFRJ e hoje nutre uma relação de amizade com ele, num total de 20 anos de trajetória compartilhada. Foram reunidos textos de 1960 à 2016, que representam a história do professor. Para Marcelo, homenagear um autor como José Paulo é colocar suas ideias em debate. “O livro tem um mérito, que consegue reunir essas obras, numa só, inclusive muitos dos textos que estão inacessíveis para os leitores dele. O livro tenta demonstrar uma visão panorâmica da obra de José Paulo”.
Além do homenageado e do organizador do livro, outras pessoas que se relacionam com a história de José Paulo e da Faculdade de Serviço Social da UFJF, estiveram na mesa para prestar suas homenagens. A professora Elisa Melo, ex diretora da Faculdade de Serviço Social da UFJF e que já foi professora de José, fez uma fala afetuosa. Eles conheceram as salas de aula no final dos anos 60. “Foram tristes dias os da ditadura, onde o debate de ideias era tão difíceis”. Elisa ressaltou o ideal sempre presente e vivo no homem de luta contínua que é José Paulo. “O conhecimento e a sabedoria que você tem, não foram adquiridos na sala de aula, vieram da militância e da sua ânsia e procura por conhecimento”, destacou.
A pró-reitora de extensão, Ana Lívia Coimbra, representou o reitor Marcus David. Ela, que é professora da Faculdade de Serviço Social da UFJF e que já foi orientanda de José Paulo, destacou a importância de persistir e continuar a resistência para reagir aos ataques. “Lançar esse livro e reforçar as ideias, é de fundamental importância, numa época em que há o cerceamento da produção de cunho crítico”. Também da instituição, a atual diretora da Faculdade de Serviço Social, Cristina Simões Bezerra, fez sua fala no sentido de compreender a realidade para agir e transformá-la. A estudante Ana Guimarães, representou o Diretório Acadêmico Padre Jaime Snoek, da Faculdade de Serviço Social, e destacou o compromisso do professor com a classe trabalhadora e com um novo projeto de sociedade.
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