PEC 241 - Casa de cultura Foto Twin Alvarenga

Além do docentes, estudantes também participaram das discussões (Foto: Twin Alvarenga)

As mudanças significativas propostas pelo Governo federal na educação faz com que diversos segmentos da sociedade se mobilizem para debater. Na noite da última quarta-feira, dia 19, professores das redes federal, estadual e municipal participaram de uma roda de conversa na Casa de Cultura, a convite da Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

O evento é uma continuidade da agenda de mobilização promovida pela Faced que, na noite do dia 18, contou também com um debate na própria faculdade. O professor Alexandre Cadilhe abriu a discussão apresentando os principais pontos da Medida Provisória que reorganiza o ensino médio: a retirada da obrigatoriedade de disciplinas da grade curricular, como Educação Física, Artes, entre outras consideradas como temas transversais pelo documento, e a permissão para contratar profissionais com “notório saber” para atuarem como professores, mesmo que não sejam licenciados para lecionar. “Quando essas portarias começaram a sair, seja por projeto de lei, ou por Medida Provisória, esses documentos nos tomaram por assalto. Foi uma surpresa para muitos professores da faculdade e o primeiro movimento foi nos unirmos na própria instituição.”

A partir desse movimento, os docentes da Faced decidiram ampliar a agenda e integrar os professores do ensino público em suas discussões. O diretor da faculdade, André Martins, assume a responsabilidade de a Universidade propor esse tipo de espaço: “Nós assumimos essa responsabilidade política e acadêmica porque entendemos que a Universidade, no nosso caso, a Faculdade de Educação, é um centro, não só de formação, mas também de produção de conhecimentos críticos, e que possam permitir à sociedade entender a atual situação da educação brasileira. Então, quando nós nos mobilizamos, foi muito no sentido de estabelecer condições para que a Universidade e a faculdade cumpram sua função social, que é atender a essas demandas da sociedade, defender essa sociedade e ajudar a formar pensamento sobre a realidade que estamos vivendo”.

O anfiteatro da Casa de Cultura esteve lotado de professores de diversas escolas da rede pública,  tirando dúvidas e unificando o discurso para o movimento. A articuladora acadêmica da Faced, Ana Rosa Moreira, afirma que os objetivos do encontro eram, justamente, “saber quais são as ideias que os professores têm, como eles estão construindo significados a respeito da MP” e, também, para que os docentes da Faced pudessem trocar informações sobre o que está sendo discutido em relação a formação de professores. “Com tudo isso a gente vai construindo uma rede de suporte para questionar que qualidade de educação é essa que a gente tem e que a gente pode ter com essa reforma.”

Além de professores, participaram do encontro estudantes de graduação de diversas áreas de licenciatura. A aluna Júlia Fregadolli está finalizando o Bacharelado Interdisciplinar em Artes e Design para iniciar sua Licenciatura em Artes Visuais e já se prepara para as possíveis dificuldades a serem encontradas com a reforma proposta. “Eu já fiz o bacharelado e começarei a licenciatura. Quero fazer pós-graduação, mestrado, porque quero ser uma pessoa que vai fazer diferença na vida de quem tiver contato comigo. Ainda mais no estudo da arte, que muitas pessoas não levam a sério.” Júlia acredita que o espaço de conversas com professores atuantes na rede pública de ensino pôde agregar ainda mais em sua formação: “Como estudante de graduação, me deixa feliz ver que os debates estão sendo feitos. A informação que a gente tem não é aberta, não é real. E é muito bom poder ouvir e discutir com gente que sabe, profissionais que estão há mais tempo dando aula”.

O professor Marcelo Romero esteve presente, representando o Colégio de Aplicação João XXIII, e conta que uma comissão de docentes foi formada no colégio assim que a medida foi apresentada ao congresso, no final de setembro, a fim de questionar as medidas propostas. “De lá pra cá, compreendemos pelo menos dois pontos: o primeiro, que era a necessidade de esclarecimento da comunidade escolar em relação à medida provisória. Identificamos os pontos mais nefastos, desagregadores e, dali, nós também entendemos a necessidade de uma ação direta, uma manifestação na rua, que fizemos também na primeira semana em que essa comissão se organizou para isso.” A próxima ação conjunta dos professores será uma manifestação em frente à Câmara de Vereadores, na próxima terça-feira, dia 25, às 16h.