IMG_8685A integração social dos indivíduos e suas particularidades é uma preocupação crescente de governos e empresas, seja pela obrigação da garantia universal da qualidade de vida, seja pela progressiva participação das parcelas mais negligenciadas da população na economia e na comunidade. Para as pessoas com deficiência, a inclusão é um movimento recente e, em parte, motivado pela consolidação da população idosa no país, que trouxe à tona uma nova percepção: grande parte de nós, um dia, terá alguma forma de limitação motora. Nesse sentido, a possibilidade de acesso aos espaços públicos e de autonomia na vida cotidiana é parte fundamental do processo de integração.

Motivado por essa preocupação, o professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-DEP AUR), Emmanuel Sá Resende Pedroso, coordena uma série de trabalhos voltados para o tema da acessibilidade, dos quais o mais recente é o projeto de treinamento profissional: “Acessibilidade em Instituições de Longa Permanência para Idosos”, iniciado ainda em 2016. Essa pesquisa procura aproximar os alunos do curso de arquitetura (e sensibilizar a comunidade, consequentemente) do conceito de acessibilidade e conscientizá-los da necessidade de elaborar espaços adequados às necessidades dos idosos.

Focado na promoção de soluções, muitas vezes simples, nas habitações desse público, o grupo de pesquisadores selecionou algumas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) em Juiz de Fora para serem avaliadas. Esses centros de vivência servirão de suporte para a formulação de ferramentas que permitam a acessibilidade e a conexão dos idosos com suas moradias.

Apropriação e acessibilidade

Para essa observação inicial, os pesquisadores utilizam alguns critérios preestabelecidos, tendo como base conhecimentos específicos sobre as necessidades dos idosos (limitações motoras e psicológicas que surgem com o avanço da idade do indivíduo) e os mais amplos, sobre acessibilidade em geral. Esses parâmetros, formados por conhecimentos específicos sobre as necessidades da pessoa idosa e por aqueles sobre acessibilidade em geral, são divididos em duas categorias: a apropriação e a acessibilidade propriamente dita.

A apropriação se refere ao controle do individuo sobre o seu ambiente, tanto física quanto mentalmente, e pode se manifestar na presença de itens pessoais, memória do espaço e a capacidade do sujeito de formar mapas mentais do ambiente. Já a acessibilidade diz respeito aos recursos que o ambiente oferece para a interação do individuo, considerando as suas limitações, como a facilidade de deslocamento e as formas de orientação disponíveis no espaço, as possibilidades de uso dos seus elementos e de comunicação, entre o ambiente e o indivíduo ou mesmo entre os vários sujeitos que ocupam esse local, no caso de espaços coletivos ou públicos.

“O trabalho é sempre fundamentado nesses dois pilares, buscando verificar se o ambiente é, além de acessível, passível de apropriação. Num espaço compartilhado, é um desafio muito grande trabalhar com as necessidades pessoais de cada indivíduo ali abrigado. Nosso foco é, claro, a promoção da acessibilidade nessas construções, dentro das normas técnicas. Mas também trabalhar para que o idoso se sinta confortável naquele ambiente, que tenha esse ambiente como algo seu”, explica Emmanuel.

Conexão com o ambiente

Em sua experiência com trabalhos anteriores nesse tema — que vêm desde sua graduação na UFJF, em 2004 –, o professor percebe que as adaptações físicas das edificações são, muitas vezes, a parte mais simples do processo, envolvendo a eliminação de desníveis e outras barreiras no ambiente, bem como a escolha de um tipo mais adequado de pavimentação (correções frequentemente já compreendidas pelas normas atuais).

A outra parte desse processo, mais complexa, diz respeito a conexão do indivíduo com o ambiente, observando as formas pelas quais o idoso se orienta e se comunica com esse espaço, desde sinalizações até mesmo pontos de encontro, onde as pessoas se reúnem e se informam.

No próximo momento da pesquisa, serão feitos levantamentos de dados de cada instituição (planta baixa), por meio dos quais já é possível fazer uma avaliação primária das condições de acesso dessas construções, como um todo ou especificamente de cada setor da instituição. Observando um trabalho similar do professor Pedroso, “A apropriação de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos: estudos em espaço pessoal e territorialidade”, publicado em 2012 pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET), essas instituições se dividem em setores administrativo, de convívio interno e externo, áreas pessoais (como os quartos), setores de apoio (cozinha, lavanderia) e de assistência médica. A acessibilidade deve ser avaliada na integração entre essas áreas e na facilidade de locomoção e orientação entre elas.

Essa análise a distância será acompanhada de trabalhos de campo, quando os pesquisadores visitam as ILPIs em datas alternadas para observar a rotina dos moradores nas áreas coletivas e entrevistá-los para cobrir os usos dos espaços pessoais, sem prejuízo a privacidade, além de avaliar com mais precisão as condições espaciais da construção. Ao fim do trabalho, os pesquisadores irão propor as adaptações necessárias e auxiliar os responsáveis pelas instituições na execução das mesmas.

Estabelecendo novos parâmetros

As ferramentas desenvolvidas na pesquisa servirão, também, como referência para outras habitações individuais ou coletivas. Um exemplo desse uso é a oficina “Casa Para o Idoso”, realizada em outubro do ano passado, com pouco mais de 50 pessoas idosas, numa parceria entre a Universidade e o Centro de Referência em Assistência Social (Cras Sul). Presidido pelo professor Emmanuel, o evento teve como pauta a acessibilidade nas residências. “Parte do trabalho consiste na sensibilização dos alunos participantes, das instituições visitadas, dos idosos (que tomam consciência das possibilidades de solução e da importância do direito de acesso) e da sociedade em geral. Ano passado, nós realizamos um trabalho em que os alunos foram à rua simulando deficiências físicas, utilizando cadeiras de rodas, vendas e bengala… O resultado disso foi um debate muito interessante entre eles, que se espalhou para os colegas de outras turmas e outros cursos, por exemplo”, contou Pedroso.

“Ao trabalhar com o ambiente acessível, você favorece vários grupos: a pessoa idosa, o obeso, a gravida, o deficiente físico. Muitas vezes, as soluções de acessibilidade existem e estão dentro das normas. Você tem uma plataforma de elevação para cadeiras de rodas, por exemplo. Mas tem lá uma plaquinha, dizendo: ‘para utilizar esse equipamento, procure um funcionário do prédio’. Isso não promove a autonomia do indivíduo com deficiência, então é acessibilidade?”, conclui.