Grupo de estudo da UFJF monitora o comportamento das formigas conhecidas como lava-pés (Foto: Stefânia Sangi)

Grupo de estudo da UFJF monitora o comportamento das formigas conhecidas como lava-pés (Foto: Stefânia Sangi)

Classificada como uma das mais importantes pragas invasoras e de difícil controle tanto no Brasil como no exterior, a formiga conhecida por lava-pés é o objeto de estudos do grupo de pesquisa liderado pelo professor da Biologia, Fábio Prezoto. O intuito inicial dos pesquisadores foi monitorar o comportamento desses animais em busca de melhorar a eficiência no combate à praga e reduzir os custos com inseticidas e a contaminação do meio-ambiente.

O grupo monitorou durante cerca de um ano centenas de colônias encontradas no próprio campus da UFJF. Com base nesse levantamento, foi observada a influência das estações climáticas sobre o surgimento de novos formigueiros e suas dimensões. O estudo considerou quatro tipos de ambientes: o natural, perto de árvores e troncos caídos; a grama; a interseção entre vegetação e ambientes artificiais, como a borda de uma calçada em contato direto com a grama; e ambientes artificiais, como calçadas e passeios. A influência do clima e do habitat foi observada inclusive no desenvolvimento da complexa estrutura social dessas que são chamadas também de formigas-de-fogo (Solenopsis saevissima).

Recentemente, o projeto “Como reduzir acidentes com formigas Lava-pés (Solenopsis saevissima) no Campus da UFJF” foi aprovado no Programa de Pesquisa de Qualidade Ambiental. A pesquisa indica que, para um combate mais eficiente e menos agressivo ao meio-ambiente, o inseticida deve ser aplicado durante o período de seca (de abril a setembro). Seu resultado foi publicado pela revista “Florida Entomologist”, em junho deste ano.

Conhecendo o animal

formigueiro

O projeto “Como reduzir acidentes com formigas Lava-pés (Solenopsis saevissima) no Campus da UFJF” é um dos resultados apresentados pelo grupo de pesquisa (Foto: Stefânia Sangi)

Considerado um inseto endêmico do continente americano, a formiga lava-pés é encontrada, principalmente, na Floresta Amazônica, mas sua presença pode ser facilmente constatada em grandes centros, devido à facilidade que possui em explorar recursos e encontrar locais propícios para construir seus ninhos. “Estamos desenvolvendo um estudo da história natural dessa espécie”, explica Prezoto. “Tudo isso ajuda a definir qual o melhor momento para fazer o controle.” A bolsista de mestrado do projeto, Elisa Fernandes, esclarece o porquê do nome “lava-pés”. “Quando se entra em contato com o ninho, as formigas sobem rapidamente e em grande quantidade pela nossa pele, além da picada ser muito dolorida. Elas são difíceis de controlar. Nosso objetivo final ao compreender a biologia desses animais, entendendo seus hábitos e comportamentos, é conseguir traçar uma medida de controle mais perto da eficácia completa possível.”

“A gente vê que está no caminho certo”, afirma Elisa. “Realizamos vistorias pontuais aqui no campus, principalmente pela Faculdade de Educação Física, pelo jardim da Reitoria e nos arredores do Restaurante Universitário (RU), onde observamos o maior número de ninhos. Utilizamos aparelhos de temperatura e de GPS para ajudar no nosso monitoramento.”

A importância do monitoramento das formigas, principalmente em locais bastante frequentados como a UFJF, é ressaltada por Mariana de Castro, aluna de doutorado. “Os acidentes com elas podem se tornar potencialmente graves em idosos, crianças e até mesmo adultos que sejam alérgicos. As pessoas, muitas vezes devido ao costume com a presença das formigas, não se atentam para isso. Nosso intuito é atuar da melhor maneira possível para controlar os danos ambientais, reduzir e até evitar que os acidentes ocorram em grande escala.”

“Existem muitas espécies no Brasil, só as reconhecidas passam de duas mil. Nós calculamos que, desse número, apenas cerca de 30 a 50 são consideradas pragas. Porém, todas as formigas podem ser muito benéficas para os ecossistemas, pois desempenham várias funções ecológicas importantes. É preciso encontrar o limiar entre os benefícios e prejuízos”, salienta Mariana.

formiga

Pouco estudada, a formiga lava-pés é uma das mais importantes pragas invasoras e de difícil controle no Brasil (Stefânia Sangi)

Mariana de Castro realça que a pesquisa realizada pelo grupo possui várias vertentes: sua tese de doutorado, por exemplo, é voltada para o monitoramento de formigas em ambiente hospitalar e é realizada no Hospital João Penido, em Juiz de Fora. “As formigas tem potencial e capacidade de transportar microorganismos patogênicos, ou seja, um fungo ou uma bactéria. Elas podem, por exemplo, sair de um ambiente contaminado e transmitir esses microorganismos em outro espaço.”

“Meu foco, no entanto, é buscar entender melhor o comportamento nesse ambiente. Existem vários trabalhos que explicam o que elas são capazes de vetorar, mas meu interesse é compreender como elas fazem seus ninhos, quais são as espécies mais abundantes nesse ambiente, se uma espécie inibe a outra, entre outros”, descreve a doutoranda. “Esperamos gerar um relatório que ajude positivamente o hospital, uma vez com essas informações, eles poderão determinar com mais eficiência qual produto usar e programar o controle. Queremos diminuir o impacto de contaminação ambiental na região e reduzir os químicos, consequentemente diminuindo o risco de infecções hospitalares e beneficiando a saúde pública.”

Conquistas renomadas

O professor e orientador Fábio Prezoto conversou a respeito de uma parceria importante para o grupo da UFJF: a colaboração estabelecida com o Centro de Estudos de Insetos Sociais, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), através do professor Odair Correa Bueno. “Ele foi o primeiro do Brasil a ingressar na pesquisa e metodologia do estudo de formigas em ambientes urbanos”, informa Prezoto. “Nessa cooperação, ele vem nos fornecendo material e suporte logístico, nos incentivando em nossos estudos. Tudo o que produzimos sobre as formigas lava-pés é uma novidade. A área é carente de estudos e nossos resultados podem gerar bons reflexos em todo o país.”

O projeto da UFJF orientado por Prezoto também angariou conquistas com seus artigos científicos sobre o comportamento biológico de formigas. “Fomos aceitos em um congresso internacional, o que prova que estamos expandindo e internacionalizando os resultados da pesquisa”, aponta o pesquisador, que se refere ao 4° Congresso Colombiano de Zoologia, previsto para dezembro. O grupo também será representado com trabalhos no XXV Congresso Brasileiro de Entomologia, no mês de setembro, em Goiânia.

Outras informações: (32) 2102-3215 ou 2102-3218 (Departamento de Zoologia da UFJF)

Mestrado em Ciências Biológicas – Comportamento Animal

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