A pesquisadora Elisabeth Murilho conversou com alunos do 9° ano da Escola Estadual Duque de Caxias (Foto: Iago de Medeiros)
Moda e futebol parecem dois assuntos extremamente distintos. Esta ideia é, possivelmente, resultante de construções sociais: gostar de bola é coisa de menino, enquanto vestir boneca é brincadeira de menina. Mais tarde, os homens vão vibrar pelo futebol e as mulheres vão acompanhar os desfiles de moda. A verdade é que esse tipo de estereótipo é completamente equivocado, visto que esportes não são restritos a um gênero e a moda é parte do cotidiano de todos as pessoas adeptas ao uso de roupas e acessórios. Além disso tudo, essas duas coisas podem estar diretamente ligadas.
A professora Elisabeth Murilho, do departamento de moda do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), dialogou nesta segunda-feira, 19, com os alunos da Escola Estadual Duque de Caxias sobre a conexão destes assuntos. O encontro foi promovido pelo projeto “A ciência que fazemos”, que tem como objetivo mudar a forma como o cientista é visto – como, por exemplo, um homem excêntrico que passa o dia isolado em um laboratório.
Afinal, qual é a relação?
Elisabeth contou um pouco de sua trajetória acadêmica aos alunos do 9º ano, que ficaram entusiasmados ao saber que parte dos estudos da pesquisadora foram feitos na França. “Isso é o que pode acontecer quando você estuda”, disse ela, respondendo várias manifestações de admiração. Ela explicou que a pesquisa que juntou as duas áreas veio do desejo de unir os estudos de seu mestrado sobre torcidas organizadas e doutorado sobre moda.
Murilho introduziu a palestra, intitulada “A troca de passes entre a moda e o futebol: moda de luxo e modelos de sucesso”, explicando a relação histórica entre o futebol e a propaganda. Inicialmente, os melhores e mais conhecidos jogadores faziam propaganda para consumidores de produtos baratos. Todos se surpreenderam ao descobrir que o chocolate “Diamante Negro” foi criado em homenagem ao ex-jogador Leônidas Silva, que ganhou tal apelido dos comentaristas. Os ex-jogadores Garrincha e Pelé foram citado como outros exemplos de personalidades que participavam frequentemente de campanhas publicitárias direcionadas às massas.
Quando o futebol brasileiro se tornou internacional, os jogadores que retornavam ao país eram vistos como homens sofisticados e o que passou a ser vendido não eram apenas produtos, mas também um estilo de vida refletido em roupas e acessórios. O mesmo aconteceu em vários outros países e pode ser exemplificado por jogadores conhecidos, como David Beckham, Neymar Júnior e Cristiano Ronaldo, que são vistos por homens ao redor do mundo como uma meta a se atingir. “Os homens não veem o corpo de um modelo ou de um ator como algo alcançável, mas o jogador de futebol – como futebol é uma prática que eles tem aos fins de semana – é algo mais próximo”, explicou Elisabeth. Segundo ela, a identificação é importante para que se deseje tal estilo de vida e funciona tanto que, mesmo quem não tem recursos para consumir os produtos mais caros veiculados pelas publicidades, se empenha em, por exemplo, reproduzir o mesmo estilo de cabelo dos jogadores.
Cientista pode pesquisar isso?
Quando a professora se disponibilizou para responder perguntas, um dos alunos quis saber qual era o objetivo dela ao apresentar sua pesquisa. Ela respondeu que a ciência não é só o que comumente aparece na mídia, mas também é refletida em pequenas descobertas feitas sobre aquilo que alguém gosta ou está próximo dessa pessoa. “Então, isso é para inspirar vocês, nos seus futuros trabalhos, a pensar se vocês têm o desejo de serem pesquisadores também.”
Para a aluna Wanessa Santos, foi surpreendente descobrir que algo que ela tinha interesse poderia virar um estudo. Ela afirmou que a imagem construída em sua cabeça sobre como é um cientista era completamente diferente da que teria dali pra frente e que “não sabia que você podia ser cientista e estudar moda – achava que moda era mais coisa de desfile. Não sabia que pode se aprofundar tanto”, completou.
Fonte: Reproduzido integralmente de: https://www2.ufjf.br/noticias/2018/11/20/a-troca-de-passes-entre-a-moda-e-o-futebol/