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O trabalho de Marta Gutiérrez com os imigrantes do Raval

Associação Infantil do Raval

Marta, no Raval, administra 3 salas de informática

Entidade desenvolve múltiplas iniciativas para a melhoria das condições de vida de meninos e meninas de rua

Marta Gutiérrez González é uma das poucas dinamizadoras da cidade de Barcelona formada na área de exatas (engenharia técnica, curso de 3 anos). Ao nos receber para a entrevista na Associação Infantil do Raval desempenhava há apenas dois meses a função. Mas, por outro lado, já possuía significativa experiência em outros projetos de educação social, como cursos de reciclagem profissional para desempregados, além de uma vivência de dois anos no Paraguai, em um projeto de informática para a Universidade Católica de Assunção, e em outro com mulheres camponesas.

Na Associação Infantil do Raval o dia-a-dia é pesado, como em muitos outros pontos Omnia (mas não em todos). A tarefa da dinamizadora, nessa entidade, é a de coordenar 3 salas de informática, cada uma com cerca de 15 computadores. Parte das atividades ela mesmo implementa e muitas outras são desenvolvidas por monitores, professores ou voluntários da Associação, criada em Barcelona em 1983 e que está voltada para a melhoria das condições de vida de crianças e jovens em situação ou em risco de exclusão social (ver http://www.casaldelraval.org/principal.asp). A Associação oferece serviços educativos, acompanha as crianças e jovens em diversos momentos de sua vida, lhes dando suporte material e ocupacional, atividades de inserção laboral, reforço escolar, assessoria jurídica às suas famílias. Mantém, com apoio do governo da Catalunha, uma Unidade de Escolarização Compartida, instituição educacional voltada para jovens que abandonaram o ESO – Educação Secundária Obrigatória, e que é muito comum em bairros de grande a evasão escolar. Quase todas essas atividades, em um momento ou outro, utilizam as salas de informática da entidade, com participação de Marta na gestão do espaço.

Das atividades que Marta desenvolve pessoalmente, as mais importantes são aquelas do chamado “tempo livre”, divididas em faixas etárias. “O horário dos jovens está sempre cheio, é para eles um espaço lúdico, de lazer, eles vêem para chatear, jogar futebol no computador. Já o tempo destinado aos adultos tem crescido, talvez porque agora seja primavera e no inverno dá muita preguiça. Nesse tempo livre eles vêm escanear fotos, ver páginas web, preparar um curriculum, e também para praticar aquilo que aprenderam nas oficinas. Mas tudo isso a partir de seus próprios conhecimentos, pois no espaço livre apenas resolvemos uma ou outra dúvida, não é um espaço de formação, fazer formação personalizada seria uma loucura!” O trabalho dos voluntários, que desenvolvem os cursos, é acompanhado, nas 3 salas, por Marta. “Não posso pedir, também, para os voluntários ficarem sós com os jovens, se não eles os ‘comem’. É muito trabalho direto com as pessoas, e tem sua parte dura.”

Na maioria, imigrantes

Os jovens são, em 95% dos casos, imigrantes ou filhos de imigrantes, na maioria de origem paquistanesa. Vivem no bairro cerca de 60% dos paquistaneses de Barcelona, 45% dos filipinos e 25% dos marroquinos. Muitos dos jovens que chegam à Associação não falam nem castelhano nem catalão. “Pois lhes ensinamos informática apesar da barreira do idioma. Eles avançam no conhecimento do idioma e também em informática, é uma mistura muito curiosa, porque adquirem os conhecimentos às vezes por intuição, vêem o que o computador faz e já traduzem para sua língua”, comenta a dinamizadora.

Já os adultos são, em geral, pessoas mais velhas, moradoras do próprio bairro, catalães de origem ou filhos de migrantes de outras regiões da Espanha, como Andaluzia. Muitos deles querem repetir os cursos, uma, duas, três, quatro vezes. “As atividades aqui são uma forma de entretenimento para eles, que também custam muito a aprender. Aqui vem gente que nunca tocou num computador. Mas tampouco há sentido que faça um curso cinco vezes, e outras pessoas fiquem sem lugar”, ressalta Marta. Com isso, formam-se filas de espera para algumas atividades, ou fica gente de fora no horário do tempo livre. O Raval tem uma população, em média, menos instruída que o resto de Barcelona, assim como moradias são menores e mais velhas que a média, o aumento da renda ocorre em ritmo mais baixo, o desemprego é mais alto. Também é maior no bairro, do que a média de Barcelona, a incidência de mortes causadas por doenças como cirrose, câncer de pulmão, câncer de mama e a mortalidade infantil em geral.

A principal dificuldade que Marta relata é a de não ter tempo para planejar melhor as atividades, ou mesmo para conhecer outros pontos, visitar outras entidades. O trabalho interno de gestão lhe ocupa todo o tempo, impedindo-lhe – e a muitos outros integrantes dos pontos Òmnia – dedicar-se também a um trabalho em rede, com os demais dinamizadores. Conversam pelo MSN, o que para ela é muito limitado. A Associação Infantil do Raval tenta tirar o máximo de rendimento dodinamizador, que tenta tirar o máximo de rendimento das salas de informática, e com isso vive-se o tempo todo no limite, fator que se soma ao baixo salário e à precariedade laboral para fazer com que a rotatividade seja talvez o principal problema do Projeto Òmnia. Os pedidos de contratação de mais pessoal em geral são rejeitados, pois as entidades gestoras dificilmente têm recursos extras para destinar ao projeto. Apesar disso, alguns pontos Òmnia conseguiram, após muito esforço, contar com dois dinamizadores. Essa é a batalha de Marta, e de outros responsáveis pelo Òmnia que se deparam com uma grande demanda de pessoas que querem acessar as novas tecnologias, mas têm para isso que “entrar na fila” e esperar a vez.