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Motivação, no Carmel, é mais importante que aspectos legais

Fundação Adsis – Carmel

Bairro vive crise após desmoronamento de túnel do metrô

Dinamizadora esclarece que cada ponto Ómnia segue diretrizes gerais mas acaba sendo bastante influenciado pela gestão local

Montse Sánchez González é uma das poucas dinamizadoras que estão no projeto Òmnia desde a sua criação, em 1999. O telecentro em que trabalha está localizado na Fundação Adsis, no Carmel, em Barcelona. O Carmel é um bairro operário, que se expandiu a partir da migração interna espanhola das décadas de 50 e 60. Atualmente o bairro ainda está abalado pelos intensos efeitos do desmoronamento de um túnel do metrô ocorrido em janeiro de 2005, que levou à remoção de cerca de 1.000 moradores, no acidente mais vergonhoso da atual administração catalã (ver texto A tragédia no bairro do Carmel). Este telecentro é um dos poucos que conta com duas dinamizadoras, e fica aberto das 9 da manhã às 9 da noite, todos os dias.

Montse deixa claro que cada ponto Òmnia, embora siga as diretrizes gerais do projeto, tem características delineadas em grande parte pela prática da entidade gestora e pelo perfil do próprio dinamizador. Enquanto outros pontos evitam algumas ações, como baixar MP3, por ser em princípio algo que é ilegal, Montse ressalta: “Antes de tudo tenho que ver a motivação, se para um grupo de jovens que está na rua fumando maconha o dia todo a única motivação é baixar música, começarei por aí, e depois tento envolvê-los em algo que seja mais educativo”. Ela explica que ouvir música é uma das atividades preferidas por muitos jovens, sobretudo de origem árabe, mas que isso geralmente é feito em uma página web, sem a necessidade de descarregar música. “Inclusive porque o seu nível de conhecimento não chega a isso, não é muito alto.”

 

Ênfase em formação

A ênfase do ponto Òmnia dinamizado por Montse é a formação, cursos iniciais de informática, processador de texto, Internet, correio eletrônico, Messenger. “Geralmente são três meses, quando já sabem um pouco podem continuar, depende da lista de espera.” O chamado tempo livre tem pouco espaço no telecentro: “Em outros bairros a demanda é por uso livre, aqui não, necessitam de um professor, um guia”. Quem quiser gravar arquivos leva CD ou disquete. Os jovens podem imprimir material de escola ou dos cursos, mas se for algo pessoal, como fotos, o limite é de uma página por dia. “A tinta, quem paga é a entidade”, justifica Montse.

A dinamizadora esclarece que, embora a Fundação Adsis receba subvenção para pagar o seu salário, a demora da Generalitat em repassar a verba obriga a entidade a antecipar os recursos durante vários meses, até ser liberado dinheiro. Essa subvenção para os salários dos dinamizadores existe apenas no caso dos pontos Òmnia mais antigos, os primeiros 43, que são de 1999. Os demais 68, criados em 2001, contam com o apoio da Generalitat apenas para a compra dos computadores e para a manutenção técnica; o salário do dinamizador e o acesso à Internet são pagos pelas entidades parceiras ou pelas prefeituras e conselhos comarcais onde está instalado o ponto Òmnia.

Outro aspecto criticado por Montse é que as fundações coordenadoras do projeto centram o suporte nas questões pedagógicas, quando a maior reivindicação dos dinamizadores sempre foi suporte técnico. “Eles dão também apoio de hardware, não de software, os dinamizadores normalmente não são técnicos em informática, são pedagogos, educadores sociais, sabemos de informática mas não como um técnico em informática, quando acontece alguma coisa com os softwares sempre temos problemas”.

Trabalho com entidade do bairro

Além dos cursos, o ponto Òmnia da Fundação Adsis Carmel trabalha com entidades do bairro, como o Pretaller del Carmel, que desenvolve atividades pré-laborais, espaço lúdico e suporte escolar a jovens de 12 a 16 anos, e a Associação 3 Turons, que apóia portadores de doenças mentais. Nesses casos, cada entidade leva o seu educador ao ponto Òmnia, mas para um acompanhamento geral, pois quem planeja e conduz as atividades é a própria Montse e outra dinamizadora, Anna. Muitos freqüentadores do telecentro são imigrantes, em geral de origem árabe e latino-americana, que participam também de um grupo de Garantia Social – ação formativa de caráter profissionalizante para jovens entre 16 e 22 anos.

Montse afirma que, embora a Fundação Adsis, responsável pela gestão do telecentro, seja uma entidade cristã, isso não implica nenhuma interferência no dia-a-dia do ponto Òmnia, em termos de imposição de valores. “Funciona de forma bastante independente, nem se trata do assunto, sempre aproveitamos o melhor de cada coisa”.

A presença da entidade, no entanto, está bem visível na web do ponto Òmnia Adsis Carmel, onde se destaca o trabalho da Fundação. Essa web não é feita pelos jovens do ponto Òmnia, e sim pela entidade, apesar dos esforços das dinamizadoras. Em 2004 foi criada uma página web do telecentro por jovens que o freqüentavam, mas depois essa web foi retirada do ar e substituída pela atual, que é de cunho mais institucional. “Nos interessava fazer essa página com os rapazes que vinham aqui, e que fossem eles que colocassem ali as informações, que fizessem a atualização, a manutenção da página. Mas eles têm hoje 19 anos, estão agora trabalhando, e não têm tempo para isso”.

Há outras atividades bem diversificadas de uso comunitário que o ponto desenvolve, como elaboração de receitas culinárias, almoços e participação em festas do bairro. “Apesar de serem mais raras, são essas as atividades que prefiro”, diz Montse.