Noventa anos é pouco? É muito? Seja como for, é suficiente. Para quê? Para se ver muita, muita coisa dessa vida, moço. Para poder contar. Presta atenção quem quiser, e for bom de ouvido, entendeu? E fica dada a resposta.
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Pobreza hoje não é nada, naquela ocasião sim é que o povo brasileiro era pobre, hoje está muito melhor. Que época é essa? Pode colocar aí uns 50 ou 60 ou mesmo 70 anos atrás. Juiz de Fora era assim pequenininha, um ovo de codorna, nem de galinha era. Nada de Dom Bosco, ou Serrinha, ou Chapadão, o nome era Alto da Boa Vista, que aparece até hoje nas escrituras mais antigas das casas do bairro. Casinha de sapé, tudo casinha de sapé, de sopapo, taipa trançada nas paredes, cheias de barro, telhado de madeira com palha em cima, ou uma cobertura que parece que vai cozinhar o cidadão, nada de laje, quando era de gente de mais posse aí sim é que tinha telha de cerâmica. Pela estrada de São Francisco se via de manhãzinha aquela tropa de burro trazendo de tudo nas cangalhas, sempre a madrinha na frente, e a cordilheira de animais seguindo atrás, devagar e sempre.
Juiz de Fora era bem atrasada. Comandada por coronéis, família Resende, e outras. Evoluída na educação mas parada em outras coisas. Quem é jovem muitas vezes não sabe de nada, não dá bola, devia saber mais da história, de onde vem, para entender melhor a vida. Ali era estrada de chão. Sem médico, nada disso. Nos anos 1930 uma epidemia de sarampo, coqueluche e catapora matou na cidade uma infinidade de crianças, Isaías escapou por pouco, perdeu três irmãos em uma semana, não havia remédio, vacina. Ele é irmão de Dorinha, a Doromar, que também sobreviveu a essa epidemia, eles moravam então numa casa onde está hoje o Grupo Espírita Semente.
Vida difícil, a de antigamente, relembra Isaías, sem saudades, sem nostalgia. Naquela época o povo não tinha roupa, não tinha calça para vestir, mil agulhadas para fazer com linha a roupa toda remendada. Não tinha essa higiene, o conforto era mínimo, hoje a parte social do trabalhador melhorou 100%. Conta Isaías: — Antes o povo andava com lêndea no cabelo, era assim que era, eu já tive, os crioulos hoje levam vantagem em um monte de coisa, mas deviam olhar o passado, os avós, os pais, todo mundo sábado e domingo passando querosene no cabelo para matar lêndea. Todo mundo era pobre mesmo. Só que tinha fartura, tomava leite tirado na hora das tetas das vaquinhas, está entendendo? Mangueira no quintal, um tanto de fruta e verdura, montão dessas coisas, é, mas sem dinheiro, o povo descalço pelas ruas de chão, com bicho-de-pé, penando para comprar arroz, açúcar, feijão e carne.

Todo mundo era pobre mesmo, tudo casinha de sapé, diz Isaías (Ilustração: Marlene Perlingeiro Crespo)
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Irmão mais velho de Dorinha, Isaías tinha dez anos quando o pai morreu. Ele conta mais histórias da família. Que a mãe, Maria Amália Carneiro Leão, só faltou um ano para tirar o diploma do magistério, mas mesmo assim foi a primeira professora do bairro. Que ela estudou piano, veio de berço de ouro, só que casou errada, gostava de um primo que não quis saber de nada com a moça, daí grudou no primeiro que apareceu, só de pirraça. Com Basílio Cruz, construtor, português, Maria Amália casou sem amor. Quando ele morreu deixou Isaías, Dorinha e duas outras filhas no asilo e foi gozar a vida, vivia viajando, até gastar o que tinha. Depois faleceu o avô de Isaías, aí houve a divisão do que sobrou. Os bens da família foram se desfazendo: as chácaras e imóveis de Barbacena, perto do Jardim do Globo e do campo do Olimpic, para lá da Boa Morte; antes, a venda dos cinco alqueires no Alto da Boa Vista, em Juiz de Fora, que bancaram a compra de duas casas na rua Silva Jardim, que foram vendidas na partilha do avô… Jogaram tudo fora! E acabou-se a família Carneiro Leão: muita mágoa, muita raiva, Isaías mandou eliminar judicialmente o Carneiro Leão, da parte da mãe, que tinha no nome, ficou apenas com o Cruz, da família do pai.
O pai, muito querido… comerciante, tinha uma venda. Se o freguês não tinha como pagar, fazer o quê? Oitenta anos depois, a família ainda tem conta a receber. Basílio comprava 20 sacos de 50 quilos de café, vendia o que dava, e o resto era quase dado de graça, para quem precisava e quem não precisava. Era político, o pai de Isaías. Político porque gostava de política, não político de hoje, vereador e deputado e empresário desses que andam por aí. Era comunista! E não se podia falar em comunismo naquela época, anos da Intentona, de Luiz Carlos Prestes, de Olga Benário. Isaías, rapazinho, chegou a participar de algumas reuniões com o pai. Basílio escapou de morrer baleado pela polícia, na rua Dr. Romualdo, onde foi assassinado o camarada Luiz Ude. Por sorte o pai de Isaías havia chegado de Barbacena, e dona Mariquinha demorou um pouco para avisar do encontro, providencial atraso.
No dia em que Isaías foi buscar o diploma do curso primário encontrou em casa o pai para morrer. Órfão, não pôde nunca mais voltar a estudar. Com dez anos, acompanhou a mãe nas idas e vindas dela, ficou rodando o mundo, entre Rio, Juiz de Fora e Barbacena, diz que foi jogado nas ruas. E começou a vida de trabalhador. Fez de tudo. Trabalhou em casa de família, de um oficial militar, na rua Oswaldo Aranha. Era lavador de cachorro e limpador de jardim. De lá foi para a casa de um português, perto da Casa d’Itália, na Rio Branco, depois para a Fluminense, que seria mais tarde filial das Lojas Americanas em Juiz de Fora, também de um português, seu Almeida. Cheio de português na vida de seu Isaías. Trabalhou no escritório e no chão de fábrica de uma tecelagem, e também em armazém, e foi garçom, e ficou muitos anos como gerente do Bar Salvaterra, ao lado do Cine-Theatro Central, na rua Halfeld, lugar de gente importante, cadeiras finas, toalhas de linho, casa de chá da ex-exuberante Manchester Mineira. Orgulho de lidar com a elite. Foi para o Exército, onde ficou cinco anos. Serviu sem nenhuma estrela, mas recebe um auxílio militar, e aposentadoria do INSS – sempre trabalhou com carteira assinada. Assim foi a nossa vida, tá?
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— Eu entrei para ser militar antes da guerra. Estava para embarcar num navio e ir para a Itália, e alguém foi lá, minha mãe, o comandante Saldanha era parente, e me fizeram recuar de dentro do navio. Me puseram para fazer o serviço de patrulhamento e vigilância do litoral, correndo esse litoral inteiro do Brasil. Aqui no bairro quem serviu na Itália foi o Geraldo da Silva, já morreu, e também o João e o Guilherme, deram baixa em 8 de maio de 1945, ao meio-dia. Receberam 15 mil cruzeiros, um deles comprou uma casinha ali embaixo.
Isaías conhece história, explica que a 2ª Guerra começou mesmo quando a Itália invadiu a Abissínia e cometeu os maiores absurdos, mutilava, cortava fora os punhos dos africanos lá. A cúpula do Exército não entrou em guerra nenhuma, quem entrava eram os negros, exemplo racista, a divisão de soldados negros dos Estados Unidos é que recebeu os pracinhas brasileiros. Oficial era tudo branco. Foram 25 mil soldados brasileiros para a guerra, morreram cerca de 450. Menos da metade dos que morreram nos navios atacados por alemães… ou pelos americanos mesmo, para forçar o Brasil a entrar na guerra. Getúlio recebeu de presente dos gringos a usina de Volta Redonda, para compensar a entrada do Brasil no conflito. Daí que trocaram 25 mil homens por uma fábrica, está entendendo?
Se os ítalos vencem iam acabar com o judeu, garante o ex-militar. Mas nasce aqui e brota ali, antigamente só podia casar judeu com judia, agora a coisa foi mudando, a vida está moderna. A liberdade foi aparecendo, é a liberdade que as mulheres têm hoje. Hoje os homens futuros vão ser dominados pelas mulheres! Já estão sendo! Você hoje vê mulher no Exército, mulher na Marinha, mulher no Corpo de Bombeiros, mulher em toda camada, mulher comandante, mulher capitão, mulher coronel, na polícia. Em Pernambuco quem comanda um batalhão lá é uma mulher, né?! Então futuramente você pode preparar, botar uma sainha, porque as mulheres é que vão dar ordem, viu?! Talvez tenha mais cabeça, que a mulher é mais inteligente que o homem. Eu estou falando verdade, a mulher pensa mais do que o homem, ainda mais esses homens de hoje, hoje o homem mesmo acabou, nem dentro do Exército tem mais homem, tem pederasta, que no meu tempo não tinha, né?! Era preciso ser homem de verdade, hoje o Exército está mesmo escangalhado.

Isaías: eu entrei para militar antes da guerra (Ilustração: Marlene Perlingeiro Crespo)
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Falam tanto do Getúlio Vargas, mas quem deu as leis trabalhistas não foi ele, e sim o doutor Arthur da Silva Bernardes, mineiro de Viçosa, que governou Minas Gerais e depois o Brasil. Mas ele queria lançar a consolidação trabalhista aos poucos, e veio o Getúlio e lançou tudo de uma vez só. Eu fui amigo do Getúlio, para você ter ideia, eu conheci todos os presidentes da República, minha filha! Só não lidei com o Fernando Collor de Melo, com o Jânio Quadros, e o Sarney. O resto me dei com eles todos, como estamos conversando aqui, viu? Getúlio foi o melhor brasileiro que tivemos, e fez o Brasil andar. Iniciou tudo, mas só governou na época da ditadura, na democracia ele caiu, na democracia todo mundo manda e ninguém manda. O Geisel, esse não comia maionese de jeito nenhum. Eu, se alguém perguntar, Isaías, você quer ser presidente da República?, eu agradeço, porque agora é assim, executivo fica executando alguma coisa que é determinada por terceiros, tá entendendo?
Meu pai era político, eu sou apolítico. É. Eu já fui convidado algumas vezes pra ser candidato a vereador aí na cidade. Ainda há pouco tempo, o doutor Valério me convidou pra fazer parte desse Partido Verde. Eu falei: — Doutor, eu quero deitar cedo e levantar cedo! Político não tem sossego, né? E nunca vale nada! Político tudo é sem vergonha, minha filha! Antigamente os políticos ainda avançavam, hoje é só burocracia, antes eles vinham na casa dos outros, davam quinhentos tijolos para construir ali, davam caminhão de areia, cimento. Isso acabou! Hoje tem que ser jovem, até pra ser presidente da República tem que ser jovem, vou te explicar a razão. Porque hoje o mundo é diferente.
Pessoa tem que buscar comércio lá fora, tem que viajar. Nego fala do Lula viajar muito, Fernando Henrique viajava, mas hoje é assim! Agora botar um velho pra ficar dentro do escritório lá, não adianta nada, tá bom? Todos os presidentes, o Obama está viajando, né? Tem que viajar, pra entrelaçar. O Jânio, por que ele foi deposto? Porque aquilo não é renúncia nada. Saiu, foi direto preso no navio que ia embora pra Inglaterra, jornalistas a um quilômetro, não podia chegar perto dele. Foi deposto porque quis abrir uma segunda frente comercial, quando o Brasil não podia negociar com outros países, a não ser com autorização do americano. Aconteceu o mesmo caso com Dom Pedro II, foi a mesma história, ele chegou já tinha o paquete, que era o navio da época, já levaram a família imperial toda pra dentro do navio! Hoje o Brasil está liberado.
O Juscelino era um vigarista de primeira linha, lidei com ele muito tempo, era médico da polícia. Malandro, mulherengo, homem de cabaré da zona, essas coisas. Quando era governador, antes de lançar a Pampulha comprou os terrenos dos pobres que viviam ali, a preço de banana, e levantou o valor de tudo, era muito vivo. Pra mim não é homem pra ser presidente da República, no meu entender. Ah!, 50 anos em 5, conversa fiada! O mundo é que evoluiu. Antigamente tinha que abrir a estrada com lombo de burro, couro de boi, hoje arrasa quilômetros de estrada num dia.
Brasília: capital do Brasil que seria Brasília não é de Juscelino, vem de uma lei do Império. Getúlio não fazia porque as finanças não davam e ele não queria sacrificar ninguém, né? Juscelino quis fazer de uma arrancada só, vaidoso, é o autor da inflação que nós estamos pagando até hoje. Ele fez Brasília, mas fez fiado, pra quarenta gerações pagar. Getúlio tentou segurar a remessa de lucro, e Juscelino escancarou, um repórter fotografou lá no cais do porto a saída de recursos brasileiros pro estrangeiro, botou a boca no trombone, sabe onde que está o repórter? Eu também não sei. Sumiram com ele. Getúlio defendia o Brasil.
Está dada a sua resposta.
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Isaías já perdeu três filhos, um deles de acidente, outro de homicídio, foi assassinado na praça Antonio Carlos, no centro de Juiz de Fora, se desentendeu com o motorista de um ônibus, ia para uma festa, um show, o motorista desceu e acertou um tiro no peito do moço. Isaías perdeu também a esposa, que se apaixonou por outro homem, foi embora, e morreu no ano seguinte de infarto, ela era diabética. Tem hoje apenas um filho, Vanderlei, que mora com ele, a filha morreu há pouco tempo. E tem netos, bisnetos, alguns casaram, outros amigaram. Mas ele só quis saber de cuidar dos seus filhos, quem tem que os crie.
Bem que tentou antes criar uma neta. Quando a filha estava para casar Isaías preparou enxoval, 30 metros de cretone para fazer lençol, coisa de rico. Pois o camarada abusou dela e sumiu, hoje é crente, está com parte de Jesus no bairro. A filha ficou com medo da família descobrir que ela estava grávida, foi-se embora para o Rio de Janeiro, o vagabundo pegou a moça e levou para uma doutora de Leopoldina cuidar dela, numa fazenda em Queimados, quebrada difícil de encontrar. Isaías suou para achar a filha, foi para o Rio só com uma capa, um 38 na cintura e a bolsa de munição. Da Estação Dom Pedro se enfia num ônibus, segue pela Dutra e chega em Queimados, pergunta daqui e dali, briga, dá tiro para cima, vai para a delegacia até que encontra a filha com a ajuda da polícia. A moça falou da gravidez, não queria que a mãe soubesse. E Isaías: — Bem, se ficou grávida o que quer que eu faça? Podia passar a mão no gatilho e matar o camarada, pouco custa, mas vai resolver o problema? Não vai. Falaram em tirar a criança, mas Isaías disse não, nasce que eu crio. Voltaram para Juiz de Fora, e nasceu Débora, a primeira neta, que ele criou até os 8 anos.
Pois foi batizar a menina, no São Mateus. O padre H. chamou os padrinhos e perguntou o nome do pai da criança. Ao saber que era filha natural não queria batizá-la. Isaías ficou furioso: — A criança por ventura tem culpa de ser filha natural? Chamou o padre de lado e ameaçou: — Seu pilantra, safado, sem-vergonha, todo mundo sabe que você tem um caso com minha sobrinha, vai batizar sim senhor, se não eu vou no jornal, no juiz, vou fazer um escândalo. E o padre: — Tio da Luiza? Vou batizar, perfeitamente. Aí enrolou uma meia dúzia de palavras, estava batizada. Isaías tirou o dinheiro para pagar o serviço, colocou no envelope, o padre não queria cobrar, mas ele fez questão: — Isso aqui é casa de comércio, o senhor cobrou o batizado que não haveria nunca de cobrar, então está aí em cima. Bênção.
Isaías criou a neta, até que, quando ela tinha 8 anos, chegou a mãe, queria a filha de volta, e levou, a menina foi embora meio tristonha. A filha de Isaías acabou se casando com o pastor da Igreja Quadrangular, que depois deu uma coça nela e se separaram. O pastor cuidou das duas meninas que teve com a filha de Isaías, uma delas é medica radiologista, mora em Franca, Estado de São Paulo, e a outra quer ser jornalista, amigou com um sargento, o mundo é hoje assim mesmo.
Porque vale mais amigar do que casar, se amigou e não deu certo um vai pra cá e outro pra lá, mas se casar fica preso em papel. Hoje que a própria lei do casamento já modificou quase tudo, né?! As mulher caça-dotes também já acabaram. Automaticamente quem tem 70 anos casa com separação de bens, é automático. Não existe mais aquele negócio de dar golpe, me dá aquele coronel que eu caso com ele lá e tal!
Alguma pergunta mais?

Isaías: as mulheres hoje têm liberdade, você vê mulher em toda camada (Ilustração: Marlene Perlingeiro Crespo)
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Seu Isaías é uma pessoa bem crítica, um homem de opinião, sobre muitos assuntos: sobre o bairro, a política, a vida… É contra as leis que restringem crianças e adolescentes de trabalhar, diz que é proteger a malandragem, trabalho deve ser dado desde que a pessoa nasceu. É contra o sistema de construção por mutirões, como fez o ex-prefeito Tarcísio Delgado, porque no mutirão você vai trabalhar para eles e eles é que vão faturar, se é para melhorar cada um que faça com seu dinheiro.
É contra a intensa presença afrodescendente no bairro Dom Bosco, para ele a família Beghelli é em parte responsável, pois vendeu terrenos a preços baixos, então fez uma posição de quilombo, porque 89 por cento aqui era de pessoal escuro, black, aqui foi um quilombozinho, tinha poucos brancos aqui em cima.
É contra a avacalhação do uso da língua portuguesa, no português hoje vale tudo, assiste a uma novela da TV em que as pessoas, até advogados, não têm a menor ideia de como usar os pronomes. De vez em quando, quando surge a oportunidade, conversa com os alunos de ensino fundamental que passam defronte a sua casa e lhes explica direitinho, não só o uso dos pronomes como regras para memorizar a grafia de muitas palavras.
É contra a violência, a falta de esforço da juventude de hoje, vê a moçada na rua, reclama que a garotada não quer estudar, que vai passear e depois chega batendo nas professoras, a droga está generalizada, os jovens todos na maconha, na pedra, no êxtase, no crack, não apenas os pobres, mas também os ricos, o que vai ser da mocidade.
Cético, fala que é como São Tomé, só acredita vendo. Muitas leis são letra morta, como a legislação de proteção aos idosos, que obriga os filhos a proteger os pais na velhice. — Isso não acontece nunca, nunca, somente em raríssima exceção! Diz que esse mundo não se endireita mais, não tem Jesus Cristo que venha salvar a humanidade. Conta que não pediu para vir ao mundo, não sabe para onde vai, mas que essa é a lei da natureza: nasce, vive e morre.
Mas seu Isaías não é só contra, é também a favor: defende a liberação da maconha, mas não de outras drogas, mais potentes, pois acredita que se liberasse haveria menos interesse envolvido no comércio, no consumo, na violência por causa da erva. É a favor de que os padres possam se casar, ter filhos. Acha que haveria assim menos padres sem-vergonha se eles pudessem ter uma vida normal, como as outras pessoas, sem esse tipo de sacrifício.
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Defende também que, se você puder, deve buscar outros rumos, está perdendo tempo quem fica em Juiz de Fora. A ex-Manchester Mineira recebeu o rei Alberto, da Bélgica, foi a Princesa de Minas, industrial, e hoje não tem mais nada. Isaías vê Juiz de Fora como cidade de estudante, que vive de mesada, não tem dinheiro para gastar, vive em carrocinha comendo hot-dog, e funcionário público que também não ganha lá grande coisa, não é mesmo? Não tem mais fábrica, Belo Horizonte carregou tudo para lá, acabou. Ninguém põe azeitona em prato de ninguém não, minha filha! Viu?! A verdade é essa.
E está dada a sua entrevista. Alguma pergunta a fazer mais, estamos às ordens! Pode fazer, se for possível eu falo. Não devo ocultar nada de ninguém não. Não devo nada a ninguém… Perdi minha mulher, perdi meus filhos, perdi tudo, fico isolado aqui. Você dá um abraço no Fernando Henrique lá pra mim … diz que o seu Isaías mandou dar um abraço.