Por Talita Scoton
15 de outubro de 2007
Enquanto as escolas da rede particular vêm aumentando o uso da informática como ferramenta de educação, as escolas da rede pública têm se esforçado para promover a inclusão digital de uma parcela cada vez maior da população, em especial dos estudantes. Isso porque é quase impossível pensar, atualmente, na formação de qualquer aluno, seja na rede pública ou privada, sem que ele esteja preparado para usar as tecnologias da informação e comunicação.
A existência de uma cultura de informática numa escola significa, em linhas gerais, a utilização freqüente dos recursos informáticos por uma parcela significativa das pessoas que compõem os vários grupos da escola e do sistema escolar. A rede pública municipal de Juiz de Fora, no entanto, ainda enxerga o processo de informatização com binóculos. Poucas escolas da Prefeitura estão devidamente equipadas e prontas para as atividades tecnológicas de informática. Ao todo são 80 escolas municipais que possuem computadores em uso.
A viabilização de recursos depende da elaboração de um projeto que deve ser passado à Secretaria de Educação do município. Dentro do projeto, deve constar a disponibilidade da escola em criar um espaço físico apropriado estruturalmente para receber o maquinário e o programa de atividades destinadas ao local. Por isso, não é grande o número de colégios que têm seus laboratórios de informática já que, para viabilizar o projeto, as escolas precisam dispor de recursos próprios.
O custo dos computadores é um aspecto que chama a atenção nos ambientes modestos de escolas públicas. Mesmo porque computadores tornam-se ultrapassados em poucos anos. A escola municipal Cosette de Alencar tem hoje em torno de 1.200 alunos nos três turnos, sendo que à noite as aulas são para o EJA (Educação de Jovens e Adultos). O colégio possui um laboratório de informática porque, por uma iniciativa da administração da escola, o projeto foi enviado à Prefeitura no governo do então prefeito, Tarcísio Delgado. Depois da aprovação, a escola foi contemplada com dez máquinas e conseguiu estruturar o espaço físico destinado às atividades específicas.
Segundo a vice-diretora da escola, Tereza Cristina Neves, desde então não houve mais nenhum repasse financeiro da Prefeitura para a modernização e manutenção da tecnologia disponível no colégio. Por isso, as máquinas não foram substituídas e a maioria opera em situação precária. Algumas delas trabalham com 30 megabytes de memória, o que comporta poucos programas e deixa a máquina lenta.
Com recursos próprios, a escola conseguiu comprar mais seis máquinas e equipar a diretoria, a secretaria, a sala dos professores e a Sala de Recursos, um espaço destinado à inclusão digital de alunos com necessidades especiais. Essa sala foi montada com dois computadores preparados para atender os cegos e os de visão sub-normal. Em 1993, a escola conseguiu o seu primeiro computador para facilitar o trabalho desenvolvido com os alunos com deficiência visual. No ano seguinte, num trabalho dos professores e da comunidade, foi comprada a primeira impressora braile.
Utilização dos recursos no dia-a-dia da escola
Tereza conta que as atividades são realizadas no laboratório de informática, mas não como o desejado pela direção da escola. Ela e os professores pretendem melhorar as máquinas para aumentar a capacidade de desempenho e diversificar a forma de uso. “A qualidade dos nossos computadores só atende as atividades porque o acesso dos alunos às tecnologias ainda é muito pequeno. Principalmente para determinadas crianças. Então o pouco que tem aqui, é muito. Funciona? Funciona, mas a gente tem a consciência de que precisa ser melhor”. Ela espera conseguir equipar a escola com máquinas modernas que permitam o contato freqüente dos alunos com o que a tecnologia pode oferecer.
Os professores que pretendem usar a sala de informática devem criar um projeto junto com a coordenação e passar para professora regente, Roselana Aparecida Dias, responsável pelo laboratório de informática e atividades na área. Lana, como é chamada pelos professores e alunos, diz que as atividades mais comuns realizadas no laboratório são pesquisas e passeios virtuais na internet. Ela conta que mesmo com as máquinas já ultrapassadas, o Cosette é privilegiado entre os colégios da cidade. “Já trabalhei em outras escolas que não tinham nem metade do que o Cosette tem. A situação das escolas da rede pública é ainda muito precária. E do nosso jeito, com o que temos de recurso, a gente tenta fazer nosso trabalho da melhor maneira possível”.
Sob a supervisão da diretoria, Roselana mantém atualizado um site da E.M. Cosette de Alencar, hospedado na página da Prefeitura de Juiz de Fora (http://www.se.pjf.mg.gov.br) dentro da sessão da Secretaria de Educação. No site é possível encontrar todas as informações sobre a escola, um histórico completo, lista de corpo docente e funcionários, além de fotos de eventos e notícias recentes.
A escola e a comunidade
Isabela Megiollaro, 13 anos, é aluna do Cosette desde a primeira série. Hoje ela cursa a sétima série do ensino fundamental e diz gostar muito do ambiente cotidiano do colégio, mas lembra que as atividades de informática não acontecem com muita freqüência. “Os professores levam a turma pro laboratório só quando eles acham melhor pesquisar pela internet do que pelo livro. Mas a gente sempre tem que dividir o computador com um amigo e a máquina é muito velha. Aí não é tão bom.” Ana Aparecida de Oliveira Mendes, mãe de Isabela, escolheu o Cosette por causa da proximidade de casa e das boas referências que teve da vizinhança. “A informática não foi o fator decisivo para matricular minha filha, mas depois que fiquei sabendo que o colégio tinha esses recursos, fiquei ainda mais contente com a escolha”.
A comunidade participa das decisões tomadas pela direção da escola e tem liberdade de sugerir melhorias e fazer críticas ao sistema adotado. “Em todos os anos que estive em contato com escola, e já são sete anos, sempre vi o empenho dos professores e da direção em melhorar a estrutura do colégio, em trazer novidades, criar projetos educacionais. Nós, pais, participamos ajudando no que a gente pode”.
Tereza reconhece o papel da comunidade nas atividades e no desenvolvimento da escola e acredita que a informática só tem a acrescentar nesse processo. Como pedagoga, ela ressalta o potencial dos jovens ao lidarem com as tecnologias, em especial os mais novos. Mas ela afirma que para o sucesso dos planos elaborados, além da comunidade é preciso ajuda do governo. “Nenhum projeto de absorção de novas tecnologias pela escola pública terá sucesso sem o apoio da administração principal da rede escolar. A presença de novas tecnologias na escola pede estruturas de suporte que dependem de políticas específicas. Entre esses elementos, é preciso destacar o tempo de professores e de outros profissionais da escola que irão lidar com a parte técnica. Também é preciso criar estruturas de suporte para as novas tecnologias; serviços, suporte técnico, manutenção, atualização de equipamentos e programas. A escola precisa de coordenação diária das atividades com computadores, que deverá tomar parte do tempo de alguns funcionários e professores. A soma de todos esses recursos vai fazer surgir uma escola muito mais atraente”.
*Para acessar o conteúdo de vídeo dessa matéria, busque no principal site de vídeos na Internet, que está bloqueado para inserção em reportagens neste site. O interessado deve buscar pelo usuário /profile?user=tscoton, onde há três vídeos da entrevista com a vice-diretora da Escola Municipal Cosette de Alencar.