Por Manoela Borges
15 de outubro de 2007
Os dados são claros. De 2001 a 2007 o número de escolas com laboratórios de informática saltou de 16% para 45%. Em seis anos foram instaladas 26 salas equipadas com computadores nas escolas municipais de Juiz de Fora. Mas o que esta reportagem revela é que o crescimento desses números pouco tem a ver com política e planejamento na área de inclusão digital. O dado pode ser explicado pela ação isolada de algumas dessas escolas.
Como a Secretaria de Educação não possui projeto de informática, ficou nas mãos dos educadores a iniciativa de montar seus laboratórios. Parte da verba da educação é destinada às próprias escolas para manter o aluno. Foi com esse recurso que a maioria das escolas conseguiu montar os laboratórios de informática. O montante deve ser gasto na formação do estudante, sendo que os diretores possuem autonomia para investir o dinheiro. Segundo a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Educação Municipal, cada unidade recebe o valor de acordo com o número de estudante. A quantia é de R$47 por aluno. O recurso anual é dividido em três parcelas.
Cabe à equipe pedagógica dos colégios avaliar suas necessidades e investir no que for viável financeiramente, essa é a lógica do processo de autonomia. Ainda de acordo com a Assessoria, muitas unidades pedem ajuda às empresas para poderem terminar os projetos, pois nem sempre o dinheiro é suficiente.
A escola possui a autonomia parcial, pois a Secretaria de Educação fiscaliza e aprova os projetos antes que sejam executados. Para liberar a compra das máquinas é exigido que a escola faça um projeto descrevendo qual a necessidade dos computadores e a disponibilidade do espaço físico. A unidade deve ter um professor técnico responsável pelo laboratório.
O que a educação municipal faz para incluir seus professores? Em 2001, das 108 escolas existentes naquela época na rede municipal, 17 contavam com o Laboratório de Informática Educativa, projeto que integrava o Sistema de Incorporação de Tecnologia à Educação. Segundo a técnica do Departamento de Ações Pedagógicas – DAP, Miriam Tavella, as escolas da rede municipal podem receber máquinas de três origens: Proinfo, Prefeitura ou doações de empresas.
Atualmente existem 95 escolas municipais, que atendem a 60 mil alunos. Dentre elas, 43 possuem laboratório de informática, sendo que 23 estão conectadas à internet. A técnica do DAP diz que existem cerca de 55 professores – técnicos de informática educativa, que orientam os alunos no uso dos computadores.
Falta investimento para esses profissionais. O espaço destinado a atualização, valorização e reestruturação pedagógica ainda atende um número reduzido de pessoas. O Centro de Formação de Professores possui apenas um laboratório de informática, com capacidade para 14 lugares. A supervisora do Centro, Leila Cláudia Machado, diz que os educadores têm mostrado grande interesse em se atualizar e as turmas ficam sempre lotadas. No espaço são oferecidos três cursos de formação:
- Básico: ensina a utilizar as ferramentas do Windows.
- Informática educativa: aplicação da técnica digital na pedagogia. Ensina a usar o computador como ferramenta pedagógica.
- Internet na escola: explora a internet nos laboratórios.
Desde o mês passado o laboratório do Centro está parado e não funcionará até o ano que vem. Segundo Leila, o espaço está fechado para reformas. A capacidade do Centro será aumentada após a chegada de novas máquinas com o sistema operacional Windows XP.
Leila explica que havia um projeto em 2001 focado nos estudantes. O objetivo era formar um aluno monitor. Para ela, esse era um dos melhores trabalhos do Centro. “Havia interesse do aluno em aprender, para depois poder ajudar os outros colegas, o que contribuía também para diminuir a evasão escolar”, explica a supervisora. Ela diz que não sabe por que o trabalho acabou.
Em relação à política de utilização do Centro, a supervisora afirma que para o ano que vem ainda não há nada definido. No próximo mês, o Conselho formado pelo Departamento de Políticas de Formação irá determinar a metodologia a ser aplicada em 2008.
Desatualização – As titias estão se tornando vovós
A utilização das máquinas é livre na maioria das escolas, é o que diz a técnica do DAP, Mirian Tavella. Contata-se que ainda existe uma enorme barreira entre informática e educação. Muitos profissionais ainda utilizam mimeógrafo, sentem medo e vergonha de encarar a tela do PC. Não se pode exigir que essas pessoas tenham conhecimento técnico de informática, já que não há obrigatoriedade de freqüentar um curso de atualização. Daí a importância da formação de um educador, com habilidade técnica e pedagógica para poder usar o PC como ferramenta na educação, e não somente como instrumento de entretenimento.
Constata-se que o sistema oferece pouca estrutura para uma categoria de 5 mil profissionais. Verifica-se que os professores têm demonstrado interesse em trabalhar com essa nova tecnologia. Mas ainda precisam de apoio, para poder superar dificuldades acumuladas com o tempo.
De acordo com matéria do jornal Tribuna de Minas publicada em setembro passado, o número de professores que está se aposentando é considerado muito alto, o que causará deficiência no sistema educacional, resultado da diminuição do interesse pela área de ensino no país. O profissional é mal remunerado e trabalha muitas vezes em situações precárias. Escolas antigas e estrutura física comprometida, mal possuem uma sala de aula equipada com boas cadeiras, imagine ter estrutura para manter um laboratório de informática?
Grande parte das escolas da periferia de Juiz de Fora não possui salas com computadores, é o que conta Mirian. Segundo ela, existem problemas que dificultam a instalação de computadores nessas unidades. Dentre eles, o mau funcionamento da rede elétrica, a falta de espaço apropriado e falta de segurança. Nas escolas de periferia que possuem computadores, a inexistência de cabos impede a conexão com a internet.
Um outro obstáculo para essas escolas é a falta de segurança. Existem profissionais com receio de que sua escola seja furtada. O custo desses laboratórios não termina no momento em que as máquinas são instaladas. A manutenção é algo que precisa ser feito rotineiramente. Por isso é preciso planejamento e políticas de inclusão. Não há como delegar essa função somente aos educadores. São necessárias iniciativa e vontade de mudar.
JF – Investimentos na informática está abaixo da média nacional
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) , do Ministério da Ciência e Tecnologia, revela que o Governo Federal é o que mais investe em projetos de inclusão digital. O chamado terceiro setor (empresas sem fins lucrativos) vence no número de programas, com 3.600 pontos de acesso.
Segundo esses dados, Juiz de Fora está abaixo da média nacional em relação ao número de projetos que possui. Mesmo sendo considerada pólo regional da educação, a cidade ainda investe muito pouco na informatização educacional. Os trabalhos desenvolvidos nos laboratórios são atitudes independentes dos diretores das escolas e não uma diretriz política estabelecida pela Secretaria de Educação.