Por Liliane Barroso
15 de outubro de 2007
Escolas com computadores não são mais um sonho. Muitas instituições de ensino público já receberam equipamentos. Segundo o site do Governo de Minas Gerais, em 2004 foi implantado o Projeto Escolas em Rede, que já distribuiu computadores para mais da metade das escolas da rede estadual de ensino. Hoje o Estado possui 18.203 colégios estaduais em funcionamento. Só em 2006 foram distribuídos 24 mil computadores entre as instituições.
O sonho não acabou
Mas agora o sonho é outro: colocar os laboratórios de informática em funcionamento. Apesar de o Governo ter feito toda essa distribuição de material, ele ainda não contratou professores para este trabalho. Essa passa a ser uma tarefa da própria escola. Mas se toda a verba que recebe já tem com destino próprio, como pagar um professor exclusivo para isso? Os laboratórios ativos hoje, têm voluntários trabalhando ou contam com a ajuda das prefeituras. Um exemplo é a cidade Juiz de Fora.
Juiz de Fora
A Prefeitura municipal criou o projeto Trilhos da Paz, em que contratou professores de informática para dar aulas nas escolas, mesmo as do Estado. Uma beneficiada é a Escola Estadual Maria das Dores de Souza, no centro, que cuida de crianças portadoras de deficiência física, mental e auditiva.
Os computadores chegaram na instituição há três anos, mas só em 2007 começaram a ser usados por um profissional da área. A iniciativa veio de um dos pais dos alunos que ficou sabendo do projeto e informou à diretora. O laboratório tem 14 computadores, mas no momento apenas dez funcionam. Como cada turma tem só uma aula por semana e a carga horária da professora é de apenas 4 horas/dia, são duas turmas juntas por aula. Assim, ficam dois alunos por computador. O acesso à Internet está em fase de implantação. Foi autorizado pelo governo, mas por prudência, a diretora prefere esperar para ver se realmente vai ser pago.
Os computadores chegaram: e agora?
Há sete anos na direção da escola, Nilva Paiva informa que a escola recebeu este ano um computador adaptado para crianças com necessidades especiais, mas o equipamento ainda não está sendo usado. “Não adianta ter o computador e não ter quem trabalhar. Nem todo mundo tem 
habilidades. Aliás os professores de sala já fazem tudo, inclusive higiene dos alunos, alimentação.”
“Antes de a prefeitura contratar o professor para a escola, os próprios professores levavam os alunos para o laboratório, mas muitos equipamentos estragaram por causa disso e também por não serem usados com freqüência.”
O conteúdo das aulas é o mesmo dos colégios comuns, mas didaticamente diferenciado. São alunos a partir de 6 anos e todas as 20 turmas têm aulas de informática.
A professora ensina
A professora contratada pelo projeto, Lucimara Bellei, é pedagoga e pós graduada em educação infantil. Em sala, ela trabalha a auto-estima dos alunos, a coordenação motora, as cores e formas. Tudo através de jogos simples, tirados da Internet, ou softwares trazidos de seus trabalhos anteriores. Para ela, o fato de dois alunos ficarem juntos em um computador é visto com bons olhos: “assim eles aprendem a compartilhar”.
Professora de informática há cinco anos, agora faz seu primeiro trabalho com crianças especiais, e sua única capacitação foi na Faculdade de Pedagogia. Nem o Estado e nem a Prefeitura promoveram novo curso. “É uma experiência muito rica, uma troca bilateral. Estou sentindo dificuldade porque a maioria dos alunos precisa de total atenção e eu trabalho sozinha na sala”, diz a professora, “Eu busco aperfeiçoar o meu trabalho, então vejo o que mais chamou a atenção de cada um, a partir daí eu foco na maior dificuldade deles.” Sua intenção é integrar outras disciplinas com a informática, levando para o laboratório atividades ligadas a matemática e português, por exemplo: “Antes de dar esse passo, primeiro é necessário despertar a atenção do aluno para o computador e aumentar sua concentração. Já que comecei aqui em março, preciso de um pouco mais de tempo por causa das crianças.”
Lucimara está satisfeita com os resultados. Segundo ela, as crianças já estão mais interessadas, melhoraram a coordenação motora e principalmente a concentração. “Os outros professores dizem que essa é a aula preferida deles, os alunos nunca esquecem e sempre querem vir.”
O outro lado da moeda
Outras escolas da rede estadual de ensino ainda têm seus equipamentos encaixotados e outras “têm laboratórios maiores e que ficam parados. E o computador é uma forma de ajudar o aluno, uma forma de socializar”, completa a professora.
Segundo a diretora Nilva, para melhorar a educação, “o estado poderia colocar um profissional no laboratório, para orientar também os professores. É necessário um professor habilitado mesmo. Nem todos os professores de sala de aula sabem usar o equipamento. Hoje a educação está assim: a escola faz o papel da família”.