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A informática como ferramenta para a educação

Por Fabiana Furtado e Mariana Nicodemus
15 de outubro de 2007

 

O Censo Escolar realizado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2005 mostrou uma situação alarmante no Brasil: em plena era da informática, apenas 32% das escolas públicas de ensino fundamental possuem computadores, dos quais 15% têm acesso à internet. No Ensino Médio, a conjuntura é menos preocupante. Quase 90% dos colégios contam com as máquinas, sendo 58% delas ligadas à rede mundial de computadores. Os dados despertam a atenção para uma discussão de longa data no país. Como garantir a educação digital a todos e de que maneira utilizar a informática como ferramenta de ensino?

dossie_01_fcamposDe acordo com a professora Fernanda Campos, do Departamento de Ciências da Computação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e integrante da Comissão Especial de Informática na Educação da Sociedade Brasileira de Computação, apesar de o MEC estar fazendo um esforço para possibilitar o uso de computadores em todas as salas de aula públicas do país, a iniciativa ainda não é suficiente para suprir as necessidades atuais da área. A professora afirma que o número de escolas municipais e estaduais que tem acesso à informática vem aumentando nos últimos anos, porém as máquinas acabam sendo subutilizadas por falta de investimento em qualificação de pessoal.

“O governo vem investindo há anos em um processo de informatização das escolas, mas a capacitação dos professores não é suficiente e o uso dos laboratórios não é adequado. Na maioria das vezes, os professores não dominam o uso de computadores como ferramenta de ensino e as salas costumam ficar fechadas, impossibilitando o contato direto do aluno com a máquina. Além disso, falta um técnico em informática que auxilie os estudantes durante a aula, o que dificulta ainda mais o uso próprio da ferramenta”, explica Campos.

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 Nova proposta curricular

Para a estudiosa, a rigidez dos currículos escolares brasileiros também impede o melhor aproveitamento da informática em sala de aula. “Os professores precisam apresentar certa quantidade de matéria em um período apertado. Eles não têm tempo para selecionar programas e sites interessantes e, como o nosso sistema de avaliação é muito tradicional, eles acabam achando mais fácil não utilizar a informática de maneira interdisciplinar”, comenta.

No entanto, Fernanda Campos acredita que, mesmo com as adversidades impostas a uma área em fase de desenvolvimento, é possível ultrapassar os obstáculos e integrar a informática à formação completa do indivíduo. “A informática na escola tem que ser usada na prática didática. Se ela não for incorporada ao dia a dia das atividades educacionais, ela nunca vai conseguir ser utilizada de forma adequada à educação”, afirma a professora.

Assim, a questão da informática como ferramenta de ensino passa pela valorização da disciplina na escola. “Os dirigentes de colégio têm que entender que o professor está desenvolvendo um trabalho sério e que o aluno não está usando o computador para brincar”, ressalta a professora, reforçando, ainda, que o ensino de informática precisa estar incluído no currículo da escola, sendo tão valorizado quanto o restante do conjunto de ações pedagógicas.

Desta forma, a utilização da informática em sala de aula deve ser feita de diversas maneiras, podendo, até mesmo, unir o conteúdo das disciplinas tradicionais com as possibilidades abertas pelo computador. Porém, Fernanda Campos destaca que o primeiro passo é a alfabetização para a informática. “O mais importante, a princípio, são os cursos básicos. O aluno tem que aprender a mexer no windows, a criar um texto no computador, a utilizar um browser de internet, e são essas as atividades que acabam sendo feitas nos ensinos fundamental e médio. Isso é a inclusão digital. É o que faz a pessoa ter a competência de realizar minimamente as ações diárias ligadas ao computador”, afirma.

Educação para a informática X Informática para a educação

É neste ponto que está o limite entre as diferentes maneiras de se utilizar o computador dentro do colégio. Segundo a professora Fernanda Campos, a educação para a informática é indispensável nos dias de hoje. “Todo mundo esbarra em situações cotidianas que exigem um domínio mínimo de computadores. Por exemplo, quando você vai a um banco, você precisa digitar um código para receber as informações solicitadas. Esses dados não só são gerados por computador, como chegam a você através de uma máquina”.

O futuro do jovem também pode ser influenciado pelo estudo da informática e, mais ainda, pela falta dele. De acordo com Campos, as universidades públicas, normalmente, oferecem programas de universalização da informática, o que dá a oportunidade de o acadêmico desenvolver melhor uma possível bagagem que ele tenha recebido em casa e no ensino fundamental e médio. Mas, caso o estudante não tenha essa chance, ele vai estar menos qualificado do que outro que tenha tido esse contato. “Na hora de conseguir um emprego, o aluno que estudou informática certamente vai estar na frente. Hoje, ter um mínimo de conhecimento é uma exigência, um padrão”.

Já a informática para a educação constitui uma ferramenta complementar. “Uma aula de história, por exemplo, pode se tornar mais interessante com a utilização de uma enciclopédia virtual ou do site de um museu. Não é preciso ter um computador para cada aluno, mas o professor pode utilizar a ferramenta para ilustrar a aula. A informática tem que estar incorporada ao dia-a-dia dos estudantes”.

Segundo Campos, é justamente a utilização de recursos digitais que motiva o aprendizado, interferindo na maneira como o jovem absorve as informações recebidas em sala de aula. “Enquanto no colégio a criança fica quatro horas olhando para um quadro negro, fora do ambiente escolar ela tem televisão e computador, seja nas lanhouses ou nos laboratórios comunitários oferecidos pelas prefeituras. Então, a utilização do computador em sala de aula é importante, mesmo que apenas como motivador, pois só em manter o aluno dentro da escola constitui um grande avanço. E existem vários programas de qualidade que podem complementar a matéria obrigatória. É uma questão de organização didática mesmo”, afirma.

Informação em rede

Hoje em dia, a informática pressupõe a utilização da internet. A facilidade de acesso acaba por atrelar as duas ferramentas de maneira indissociável. Fernanda Campos concorda. Para ela, é a rede que torna o processo de troca de informações possível. Nesse sentido, o papel do professor é selecionar os sites adequados para a complementação do conhecimento. “Cabe ao mestre organizar os caminhos que o aluno deve seguir quando conectado. Pode-se até usar um cd-rom, mas, hoje, a informação compartilhada está na internet e isso tem que ser disponibilizado para os estudantes para que eles aprendam a pesquisar naquele ambiente”, destaca a especialista.

A maior dificuldade é garantir que o aluno saiba utilizar a internet como ferramenta escolar, e não apenas como entretenimento. Em um momento em que uma revolução nas comunicações torna programas de mensagens instantâneas e sites de relacionamentos cada vez mais populares, atrair a atenção dos jovens para a pesquisa virtual requer um trabalho bem estruturado, como explica Fernanda Campos: “O uso da internet precisa ser contextualizado e o aluno não pode ficar tão livre. O docente tem que dispor de certo tempo para garantir que o estudante chegue às páginas onde estão as informações interessantes e, acima de tudo, corretas. Essa indicação do professor é que vai priorizar o que será utilizado em sala de aula”.

Em Juiz de Fora

A professora Fernanda Campos afirma que, em Juiz de Fora, os relatos de aproveitamento da informática nas escolas são muito pontuais. Ela acredita que a cidade está no mesmo nível do restante do país em termos de utilização de recursos digitais em sala de aula. “Existem algumas experiências interessantes, com professores esforçados. No Rio Grande do Sul, por exemplo, esse movimento é mais intenso, mas, nos outros estados, e, conseqüentemente em Juiz de Fora, ele vem sendo muito isolado. As ações partem mais de um desejo dos professores engajados do que do processo pedagógico em si, que não procura incluir este tipo de atividade no programa”, afirma Fernanda Campos.

É o que comprova a professora de informática educativa da rede pública e particular do município, Adriana Carvalho Dominato de Almeida. Segundo ela, nas escolas públicas, a falta de equipamentos ou a precariedade dos mesmos dificulta o trabalho dos professores. “É preciso muita criatividade e disponibilidade de materiais próprios para desenvolver as atividades nas salas de aula”. Adriana conta que, como em muitas escolas públicas os computadores não possuem internet, ela recorre a jogos. “Muitos alunos do supletivo, por exemplo, chegam à escola sem nunca ter tido contato com a máquina. Tenho que ensiná-los a mexer no mouse e teclado com jogos didáticos para que eles percam o medo do computador”, ressalta.dossie_01_gabriel_e_hugo

A professora acredita que a troca de informação com outros profissionais da área deve ser uma constante justamente para driblar estes contratempos e afirma que a atuação dos educadores está condicionada à filosofia de cada instituição, o que varia muito. De acordo com Adriana, a melhor maneira de transformar a informática num instrumento eficaz de educação é desenvolvendo projetos interdisciplinares. “Estou sempre em contato com os outros educadores para saber no que a minha disciplina pode contribuir”, acrescenta.

Segundo Adriana, o uso dos computadores nas escolas não significa um livre acesso à internet. “É preciso direcionar os alunos e ter um objetivo claro, associando os conteúdos de outras disciplinas às aulas de informática”, destaca. E é neste ponto que configura-se o maior desafio para os educadores, o de transformar o recurso da internet em fonte de conhecimento e pesquisa.

“Muitos alunos usam a ferramenta somente para os sites de relacionamentos e conversas instantâneas e esquecem de que, através da internet, é possível buscar informação sobre qualquer assunto”, revela Almeida. O crescente interesse pelo orkut e messenger obrigam as escolas a bloquearem estes endereços eletrônicos. “É impossível controlar o que eles estão escrevendo”, justifica a professora.

Para Adriana, o uso do computador e da rede complementam o aprendizado. “Através deste instrumento, o aluno está conectado com o mundo e é a maneira como ele o manuseia que irá determinar se é algo válido para o ensino ou não”, considera. De acordo com a professora, os sites, como o google e o “cadê”, auxiliam nas aulas de história, geografia e biologia, enquanto as aulas de matemática e português são desenvolvidas, em sua grande maioria, por jogos de digitação e lógica.

Outro aspecto importante apontado pela educadora é a questão do “copiar e colar”. Ela considera de extrema importância conscientizar os alunos sobre os direitos autorais. “Incentivo a interpretação de tudo que eles lêem para evitar o vício do control c control v e, conseqüentemente, problemas futuros”, avalia. Adriana também destaca os vícios de linguagem gerados pelo uso freqüente do computador. “A língua portuguesa tem sido influenciada pela virtual, que é muito simplificada e, por isso, está acarretando problemas na escrita dos alunos”, constata.

A professora revela a latente exclusão digital. “Para a maioria dos estudantes da rede pública, o contato com o computador acontece somente nas aulas de informática. Em uma turma de 30 alunos, quatro ou cinco possuem computador em casa”, conta Adriana, que conclui: “Quem não dominar este recurso, logo será considerado um analfabeto, pois o computador já faz parte do nosso cotidiano e as tecnologias evoluem muito rápido.”