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A dura realidade da rede estadual

Por Lara Toledo
15 de outubro de 2007

 

Com a era digital, a utilização da informática como um instrumento eficaz na educação tornou-se fundamental. Para isso são necessárias políticas e projetos que vão além da compra de equipamentos e computadores para as escolas. Bem como a capacitação daqueles que vão ensinar.

Na rede estadual de ensino em Juiz de Fora são poucas aquelas que já possuem um laboratório de informática completo e em pleno funcionamento. Além disso, conforme reportagem da Tribuna de Minas do dia 13 de maio deste ano, computadores enviados pelo Estado acabam estragando por falta de uso ou são subutilizados. Estas máquinas deveriam ser utilizadas para auxiliar na inclusão digital e proporcionar um ambiente de ensino diferenciado.

Veja aqui a reprodução integral da matéria publicada na Tribuna de Minas.

O estudante da Escola Estadual Presidente Costa e Silva na Zona Norte, H., 15, diz que em sua escola não há um laboratório de informática específico para os alunos e que os professores não utilizam o computador como instrumento para ministrar as aulas. “Seria muito mais interessante para nós por que o computador ajuda a adquirir mais conhecimento, principalmente com a internet”, desabafa o garoto.

Os projetos e políticas

O governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Educação, instituiu o projeto Escolas em Rede. Este consiste em reduzir as desigualdades regionais implementando, em todas as escolas do sistema estadual de ensino, a cultura das novas tecnologias de comunicação e informação. Elas serão aplicadas tanto na parte educativa da escola, quanto na parte administrativa. A meta para 2007 é conectar 3.385 escolas em banda larga. A finalidade é abranger todas as 3.920 escolas estaduais de Minas Gerais.

Dentro do programa do Escolas em Rede está o Centro de Referência Virtual do Professor. Um lugar que possibilita aos educadores a continuidade de sua formação em diferentes ramos do conhecimento. O objetivo é estimular os professores a utilizarem as novas tecnologias e integrar comunidades virtuais de ensino. É um espaço onde estes profissionais poderão ter acesso a orientações pedagógicas, minicursos e uma biblioteca virtual.

Para saber mais sobre o CRV e o que este projeto oferece clique aqui.

O Escolas em Rede é um processo de interlocução que envolverá professores e alunos, eliminando o isolamento pelo qual muitas escolas passam, devido à extensão territorial do estado. Desta forma será possível a construção de uma rede de trabalho na qual todos poderão colaborar, abrindo caminhos e oportunidades para a instituição. O público-alvo do projeto engloba todos aqueles que fazem parte do universo escolar: dirigentes, funcionários, especialistas, professores, alunos e a comunidade como um todo.

Confira os objetivos do programa:

• O projeto prevê instalação de laboratório de informática em todas as escolas estaduais;

• implantação de sistema informatizado de gestão escolar em todas as escolas da rede estadual;

• instalação do Centro de Referência Virtual do Professor – CRV, portal destinado a tornar acessíveis a todos professores, serviços de orientação pedagógica e de recursos didáticos indispensáveis ao ensino de qualidade;

• desenvolvimento de projetos didáticos, via web, com as finalidades de explorar as possibilidades pedagógicas abertas pelas novas tecnologias e desenvolver a cultura do trabalho colaborativo em rede;

• atualização e adequação dos equipamentos de informática existentes e instalação de novos laborátorios de informática nas escolas estaduais que ainda não os possuem;

• conexão das escolas à internet de modo a facilitar a comunicação, o acesso e a publicação de informações;

• realização de cursos de Formação Inicial para o Trabalho na área de informática.

Marieme de Almeida Castro, coordenadora do Núcleo de Tecnologias Educacionais (NTE), informa que a jurisdição do núcleo abrange as 46 escolas estaduais de Juiz de Fora e mais 44 escolas de municípios da região. O NTE é um projeto em parceria com o Proinfo. Trata-se de um ambiente com infra-estrutura de informática e comunicação, fazem parte da equipe três pedagogos e dois técnicos, auxiliando as instituições públicas no processo de introdução das novas tecnologias.

 

Segundo a coordenadora, a proposta atual é utilizar dos computadores de duas1 formas na educação. Uma delas é a informática aplicada na educação, ou seja, os computadores como ferramenta pedagógica na aprendizagem, como um incentivo para os alunos na medida em que as aulas se tornam diversificadas. “Cada escola recebe, em média, 10 computadores.
A idéia é dividir a turma e enquanto uma parte dos alunos está no laboratório com o professor, a outra parte ficará em sala de aula, seja com um monitor ou supervisor, desenvolvendo uma outra atividade”, explica Marieme.

 

2O outro projeto, voltado para o ensino médio e executado nas escolas referência, é o de iniciação e preparação para o mercado de trabalho. São oferecidos seis cursos, Linux, Websites, Editoração Eletrônica, Ilustração Digital, Computação Gráfica e Multimídia na Educação. Ele consiste em dar uma base para o quem está formando e deseja trabalhar na área da informática. “Quando o aluno se forma ele fica pensando se vai ou não fazer vestibular e de repente ele prefere trabalhar nesta área”, complementa.

Ainda de acordo com Marieme, o núcleo também possibilita a capacitação dos professores da rede pública, eles também podem se inscrever juntamente com a escola, nos cursos propostos pelo NTE. O objetivo é transformar estes profissionais em multiplicadores da tecnologia. Assim eles serão também técnicos educacionais e terão como instrumento de ensino o computador. Ao todo foram capacitados 93 professores, desde 1998. Deste total, 51 no programa de informática aplicada a educação e os outros 42 no informática para o trabalho.

 Esperança

3Não são todas as escolas da rede estadual em Juiz de Fora que se encontram nesta situação, ou seja, fora da realidade da inclusão digital. O Instituto Estadual de Educação já possui o seu laboratório de informática montado e funcionando para os alunos, conforme matéria da Tribuna. Lá, crianças de seis anos de idade aprendem a ler e escrever através de um programa chamado Jogo de Palavras. Além disso, os alunos também desenvolvem o ato de socializar-se e a coordenação motora.

Para a diretora da Escola Estadual Fernando Lobo, Solange Lopes Araújo, as perspectivas na rede de ensino de Minas Gerais são muito boas. Ela diz ser otimista com relação a este tema, mesmo acrescentando que não existam ainda projetos pedagógicos por parte do governo que trate da didática digital em salas de aula. Em sua escola serão montados três laboratórios de informática para os alunos, os computadores ainda estão nas caixas aguardando apenas o término das instalações da rede lógica. Para Solange a escola tem que ter um diferencial e não apenas carregar a simples classificação de instituição de ensino. “Estamos sempre abertos a receber visitas e dispostos a mostrar os nossos projetos àqueles que vêm nos visitar”, diz a diretora.

No caminho certo

Não diferente da maioria dos diretores e dos alunos, Solange concorda que o computador e tudo que ele pode oferecer é um ótimo instrumento para o aprendizado do aluno. “Eles ficam mais interessados no conteúdo passado e prestam mais atenção.” Mas é importante também que os professores passem por uma atualização e capacitação, para isso eles participam dos cursos oferecidos, e já citados nesta reportagem, pelo NTE em parceria com a Secretaria Estadual de Educação.

Ela ainda informa que o grau de conhecimento e intimidade de crianças e adolescentes com as máquinas é considerável. “Hoje em dia se um aluno não tem computador e internet em casa, ele vai numa lan house ou utiliza o do amigo.” Alguns dos alunos do ensino médio no Fernando Lobo se tornam monitores devido ao conhecimento que possuem de informática.

Solange Lopes acredita que todos estes avanços e projetos desenvolvidos pelo Estado trarão resultado em médio prazo. “Ainda tem muita coisa para se analisar e melhorar. Por exemplo, contamos apenas com um técnico do NTE para atender todas as escolas. Também não posso dizer que não recebemos nenhuma verba caso contrário não teríamos realizado tudo isso, porém não é aquilo que almejamos para que a educação com base na inclusão digital se consolide.”

Contudo conclui-se que ainda falta muito para diminuir a exclusão digital no panorama educacional e social. Algumas escolas são modelos como, por exemplo, o Instituto Estadual de Educação em Juiz de Fora, que já possui o seu laboratório funcionando, e a Fernando Lobo que está em fase de adaptação. Todavia, aquelas que precisam de atenção nesta parte de informatização são muitas e para que esta realidade se modifique, serão necessárias não só a criação de novos projetos pedagógicos e políticas governamentais, mas a cooperação de toda a sociedade.