Conheci pouco a Dorinha: coisa de trabalho, meio jornalista, meio pesquisador. Mas ela me ensinou muito. Por exemplo: tem gente que encara a velhice, e são essas que acabam mais cedo. Enquanto você puder fazer as coisas, andar, agitar, movimentar, não está velho não. Outra lição de Doromar Cruz de Oliveira, 82 anos, apresentada assim de graça, para quem quiser saber: a gente bem que dá conselho, avisa o que é certo, o que é errado. Tenta colocar no caminho direito. Agora, se quer seguir o trilho errado, bem, não adianta se martirizar. Mais um ensinamento: tem asilo que mesmo sendo de freira é como casa do diabo, porta do inferno, apanha demais. E outro: esse negócio de mau humor não dá certo. E outro…
Mas quem tinha o dom mesmo de ensinar era a mãe de Dorinha, Maria Amália Carneiro Leão. Conhecida mais por dona Mariquinha. Professora, e parteira, e empregada doméstica, e comerciante, sempre trabalhadora. Lá vai dona Mariquinha, andando pelo Dom Bosco, está à procura da casa da comadre, vai partejar mais uma criança. Ê dona Mariquinha! Que vida: ficou viúva com apenas 32 anos. Tinha então quatro filhos, que colocou no asilo, a caçula recém completara dois anos. Fazer o quê, não é todo mundo que suporta esse tormento. E se você tem que trabalhar, como cuidar das crianças? Ah!, essa história de creche da Prefeitura, nada disso existia não, essas coisas são de quem vive nos tempos de agora. E se seus parentes mais próximos morreram, como buscar ajuda? E se são de outra cidade? A alternativa, muitas vezes, era deixar a meninada com as freiras. Dona Mariquinha deixou os filhos no Asilo Bom Pastor, anos mais tarde iria buscá-los.
O pai de Doromar se chamava Basílio Cruz, português, tinha um armazém no Dom Bosco. Maria Amália ajudava em tudo, entendia bem do negócio, e dava muito mantimento para quem não tinha condição de comprar, praticou um tanto de caridade por ali. Fez o curso normal no Stella Matutina, das irmãs missionárias Servas do Espírito Santo, era internato e externato feminino. Isso antes da ampliação da avenida Independência desapropriar parte do terreno e dividir o colégio ao meio. Dona Mariquinha alfabetizou muita gente no Dom Bosco, por vários anos deu aula sem receber nada, era voluntária. Dizia: — Eu gosto de ensinar! Quero fazer o povo aprender! A ser brasileiro!
Dona Mariquinha casou, foi morar no Dom Bosco e depois no bairro Santa Cruz. Ali Basílio fez uma casa de pau-a-pique, mas haja pernilongo, mosquito, bicharada. Doromar era novinha, três ou quatro anos, chorava de tanta mordida de bicho, queria ir embora. O perigo era maior que a dengue dos dias de hoje. Partiram de regresso ao Dom Bosco, mas Basílio contraiu malária, morreu com 35 anos de idade. Na casinha velha, um barracão para onde foram tentando escapar da doença – onde é hoje um dos imóveis do Grupo Espírita Semente, na rua Belo Vale – dona Mariquinha ainda teve outros filhos, ao total foram 12, mas morreram sete. De verme, de lombriga, a medicina era meio fraca naquela época. Mais para uns do que para outros, sem dúvida.
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Dorinha ficou no asilo oito anos, dos seis aos 14. Ela, duas irmãs mais novas e o irmão mais velho. Ali foi sua infância. Eu queria ter ido lá, tirar fotos, acompanhar o dia-a-dia dos internos. A lembrança que Doromar tem é sempre de tudo muito grande: isso acontece mesmo, não é?, quando a gente é pequenininho, comigo é a mesma coisa. Uma das palavras que ela mais usa quando fala do asilo é a palavra “enorme”, arrastando os erres que nem carioca, dando um bom agudo e abrindo bem o “ó”. Ela levantava de manhãzinha, 5 horas da matina, para tomar banho… num tanque enóórrrrme. Vestia rapidinho uma tanga, para chegar antes das outras e pegar a água ainda limpinha, a danada. Mergulhava ali, coisa boa, água gelada, então acostumou a tomar banho assim, de água fria.
Depois do banho, as meninas todas se aprontavam, tinham de estar arrumadas para a missa, depois vinha uma parte boa da rotina, iam para o refeitório (enóórrrrme), tomava café (hummm…), daí ia para a classe e para os afazeres. Dorinha cuidava da varanda, que era, é claro, uma varanda enóórrrrme, com nada menos que 11 gaiolas de passarinho. Passarinhada, meu! Ela tinha que cuidar daquilo tudo, pendurava todas as gaiolas, jogava água na varanda, limpava as gaiolas, e quem só pensa em pássaro assim cantando bonitinho ou dando voltinhas aéreas pelo quintal é porque nunca teve que limpar a sujeirada, por exemplo, de pássaro preto, que quando come frutas cospe um monte para fora. Sem falar da cocozaiada.
No asilo Dorinha aprendeu a rotina do trabalho de limpar, limpar, limpar. Havia um rodízio, a cada 15 dias as freiras trocavam as tarefas das internas. Durante 15 dias, então, Dorinha cuidava da varanda e dos pássaros, depois, 15 dias na copa, 15 no dormitório, na cozinha, lavar aqueles latões enóórrrrmes, catar feijão, 15 dias para as classes, varrer, passar pano, e daí então eu ia pra capela. O único lugar de que ela gostava era a capela: ali era só arrumar vaso, botar flor, enfeitar os santos, tirar pó, encerar o chão.
Era divertido, ela se lembra. Tinha que aprender, também, aquelas coisas que as freiras ensinavam. Estudou ali até o 2º ano do antigo ginasial, que é hoje a 6ª série, ou 7º ano do ensino fundamental. Aprendeu um pouquinho de piano, sabia a clave de sol, a clave de fá, e até pouco tempo Dorinha ainda tinha um piano em casa, depois vendeu. Aprendeu mais: bordado, tricô. Renda de bilro, renda de crivo, nossa amiga Dorinha era craque nessas artes quase esquecidas. Adulta, fez muito bordado, depois a vista foi ficando cansada de tanto desfiar pano. Hábil em movimentar os bilros na confecção da renda, trabalhava bem, sem barulho. Quer dizer, sem barulho com os bilros, porque adorava ficar batendo papo. E as freiras: — Dorinha! Cala a boca que você tá conversando demais! Olha o silêncio! Pois a menina se vingava na hora, ficava então batendo de propósito os bilros, pim pim pim, só para contrariar.
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Quer saber como é mesmo essa tal de renda de bilro? Uma possibilidade é procurar na internet – há muita informação no Inepac – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, do Rio de Janeiro. Ali descobri (graças, sempre, à Dorinha) que minha cidade, Campos dos Goytacazes, tem tradição em renda de bilro. Mas se quiser saber mais pela boca de quem tem prática, preste atenção no que diz Doromar: tem uma almofada, um papelão, ali você faz os furinhos, apanha um pedacinho da renda, faz os furos dela, e apanha, aí você amarra as linhas no bilro, essa linha branquinha, e amarra tudo nos alfinetinhos, faz o alfinete em cada buraquinho, que vai sair na renda, você amarra tudo naqueles alfinetinhos e ali você vai trançando, faz trança de quatro, vai trançando e vai tirando o alfinete de trás e vai pondo na frente, vai trançando, vai tirando os alfinetinhos, aí a renda vai saindo naquela cartolina… Aqui não tem não, já procurei pra ver se eu ainda lembro de fazer renda, lá no norte que tinha.
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Além de trabalhar, é claro que no asilo Dorinha também brincava. Acabou o almoço, meu Deus!, que farra. Jogar bola, brincar de pique-bandeira, de carniça. Carniça, pra quem não sabe, é aquela brincadeira em que um fica assim de quatro, e os outros pulam por cima, sabe? Por aí também chamam de pular sela. Levada, a menina, das 116 garotas do asilo era a que mais aprontava. Acabava o banho, antes de ir para o refeitório se aventurava no pomar com as colegas, uma subia para apanhar frutas, outra pegava com a saia e outra ficava vigiando, para avisar se chegava uma das freiras. O sinal combinado era fazer como que limpando a garganta, um pigarro era o alarme antifreira. O abacate, pegavam verde e esperavam amadurecer, comiam escondido. Se aparecia uma das irmãs ficava cada uma por si, Dorinha era a primeira a correr, escapulia por baixo do arame farpado e pé no caminho, aquela que estava apanhando as frutas com a saia é que quase sempre se lascava, coitada, com muita coisa para correr e com pena de abandonar os frutos. No caso, proibidos.
Amoras, só maduras, difícil guardar, só que daí não tinha como esconder, amora sempre deixa marca. Um dia, eram duas internas, comeram amora até não poder mais, todas de beiço roxo. Foram pegas, é claro. E colocadas no castigo. Ficavam no meio da classe, as colegas olhando para elas, e tinham que quebrar galhos de amoreira, ou, um dia em que estavam pegando laranjas, eram obrigadas a ficar mostrando a laranja para as colegas, como um ato de expiação, de vingança das irmãs. Mas Dorinha não se dava por vencida: com os galhos da amoreira fingia que eram asas de anjo, e brincava com a situação. Com a laranja, quando a freira não estava olhando dava uma chupada, até a laranja ficar murcha, murcha.
Daí levava puxão de orelha. E apanhava. E mais puxão de orelha. Orelha vermelha direto, coitada. As freiras usavam dedal e com ele na mão davam cocorotes – cascudos – na cabeça das meninas, para doer mais e não machucar as imaculadas mãos. Qualquer coisinha, pum! na cabeça de uma. Dorinha reclama, pum!, não gostava daquela freira não, pum!, ô freira ruim, vai pro diabo. Pum! Com 14 anos, resgatada pela mãe, já estava pum! doida para sair de lá. Da família, só recebia visita muito de vez em quando. No dia em que se foi do asilo saiu falando: porta do inferno! E nunca mais aceitou ficar enclausurada, em lugar nenhum.
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Antes de ir para o asilo Dorinha já aprontava, na casa dos avós portugueses, em Barbacena. Isso foi antes do pai morrer. A mania de Doromar nessa infância de fazer bagunça: pedir tostão. É, pedir tostão por aí, na rua. A mãe ficava fula: — Nada de pedir esmola, Dorinha! E dava-lhe uma tunga. Ela nem aí: saía e repetia, me dá um tostão? Por que tudo que acontece não pode virar brincadeira? Aí a pessoa achava engraçadinho aquilo, ela tão pequenininha, e dava. Dorinha punha a mão assim, estendida. E pintava a rua, pintava o sete, tudo escondido da mãe, um dia pintou a calçada de roxo, passou o padre, e ela não teve dúvida: — Ô padre! Ô padre! Me dá um tostão! Aí o padre: — Não vou te dar não, porque você vai morrer! Ela, criança, assustada: — Vou morrer por que, padre? Porque suas unhas já estão ficando roxas! E sai Dorinha correndo para lavar as mãos, tirar a roxidão todinha. A mãe, na lata: — Vem cá sua sem-vergonha, você estava na rua pedindo esmola, conheço a tua cara!
Para não ser apanhada – e apanhar da mãe, Dorinha corria. A experiência serviria de treino para depois escapar das freiras. A mãe vinha, e ela, pimba!, embaixo da cama, igual à cachorrinha que tem hoje no Dom Bosco. A avó portuguesa falava com aquele sotaque da terra de Camões: — Ô Durinha! Ô Durinha! Sai debaixo da cama que tua mãe vai te baiteire. E quanto mais a mãe enfiava a vassoura para pegar a menina, mais ela se encolhia, se protegia. Depois a mãe cansava, ia cuidar dos afazeres da casa, a avó avisava que ela já podia saiire. Outra vez se escondeu no barril que o avô usava para fazer vinho, ficou lá quietinha, sabe-se lá o que havia aprontado. O avô percebeu, deu uma bronca em bom português de Portugal mas não contou nada, até que a mãe desanimou de procurar e ela abandonou o barril. Ê Dorinha!
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Depois de oito anos com os filhos no asilo, dona Mariquinha tirou-os de lá. Ajeitou-se como pôde – com certo rancor, uns dizem que ela vendeu tudo, outros que o pai é que perdeu o que tinha, sem deixar nada de herança. Casou de novo e levou todos para morar no Rio de Janeiro. Maria Amália alternava a vida um pouco entre o Rio e Juiz de Fora, e Dorinha, com 14 anos, ficou morando com um tio, que lhe ensinou a trabalhar no comércio. Começou na tinturaria dele. Moravam na rua Humaitá, no Botafogo. Depois Doromar foi para a casa de outra tia, em Realengo, arrumou emprego no Instituto Bioquímico, na rua Voluntários da Pátria. Em seguida foi para a Camisaria Progresso, na praça Tiradentes, número 2, lembra-se com precisão. Prédio histórico, mais tarde destruído por um incêndio. Trabalhava de balconista, sessão de embalagens. Depois foi para a Ótica Inglesa, outra referência na avenida Sete de Setembro; depois…
No Rio de Janeiro Dorinha morou 22 anos. Numa época em que o Rio era mais tranquilo para se viver. Mas o batente do dia-a-dia era aquele, nada fácil: levantava às 5 horas da matina, não tinha chuveiro, o banho frio era de caneca, enquanto o primo preparava o café no fogão de querosene. Pegava o trem das 6h40, que vinha de Campo Grande até a Central do Brasil. Empurração danada no trem! Mas sempre alguém guardava um canto para a moça se esconder do tumulto. Não dava tempo para ir até em casa almoçar, comia numa pensão da rua Silva Jardim. Pensão que serve refeição boa, comida caseira e barata, nada por quilo. Na volta, ora essa, é claro que cochilava, ia até Santa Cruz dormindo, de repente despertava e lembrava da estação, toca para casa. No escuro mesmo, sem medo. Nunca aconteceu nada de ruim.
No Rio é que começou mesmo a vida de trabalhadora de Dorinha. Não tinha tempo de ter amizades. Diversão, só no final de semana. Alegria era pegar uma praia, e ir ao cinema, sempre que podia: filmes de Oscarito, de Carlitos, de capa e espada, de luta. E a lembrança de uma parentada divertida, bem-humorada como ela, uma vizinhança onde nos finais de semana um ia almoçar na casa do outro. De mocinha, não pensava em namorar, queria é brincar. Ajudava a tia no trabalho doméstico e se divertia com as primas, morava tudo junto, casa cheia, muita alegria.
E foi dessa época de festa o primeiro casamento de Doromar. Assim: Dorinha deixou a Ótica Inglesa, onde vendia óculos, e virou empregada doméstica. Não por causa do trabalho, mas porque achava longe aquele transporte todo desde o Realengo até o centro. Entrar em casa de família tinha a vantagem de poder dormir no emprego. Foi então que começou como copeira, ajudante de cozinha, no Catete, Largo do Machado. O futuro marido trabalhava ao lado, era motorista particular. E a morena ali ao lado, recém-chegada no emprego novo… Não tinha celular, nem sms, nem mesmo telefone, então para cantar a mineira ele fazia sinais, mandava bilhetinho por cima do muro, pelo outro ajudante de copeiro, um rapazinho, mandou até uma foto.
Dorinha sempre foi muito, muito decidida. Com 15 dias de serviço falou: — Vou sair desse emprego, quero ver qual é a desse rapaz. Aí escreveu para ele um bilhete dando o endereço certinho, falou que morava no Realengo, rua Olímpio Esteves, número 415. E rapou fora do trabalho! Pediu as contas, a patroa queria que ela ficasse, tão boa de serviço, a moça que vinha já treinada pelas freiras, mas sem chance, não quero trabalhar mais de copeira não. Chegou em casa, contou para a tia. Uns 15 dias depois já estava deitada, hábito de dormir cedo também adquirido no asilo, vem a prima, larga a roda de conversa da turma, e avisa Dorinha que havia um rapaz lá fora andando de um lado para outro. Procurava o número da rua e as duas mangueiras que a casa tinha na frente, outra referência indicada por Doromar. — Vem ver! Vem ver! Quem sabe é o seu namorado! Ela chegou no portão, dito e feito, era ele, que conversou com a tia, com a mãe, com o padrasto, e começaram a namorar.
Época boa, de Dorinha! No fim de semana o moço levava o carro do patrão, ia com Dorinha e a mãe para Santa Tereza, Pão de Açúcar, Morro da Urca, bondinho, tomava uma cervejinha, um vinho num bar lá em cima, que tinha as eletrolas, escolhiam a música e dançavam no salão. Pegou gosto pela dança. Ia outras vezes com o tio e a tia na Associação do Comércio para dançar, depois também sozinha, época de respeito, dançava bolero, foxtrote, muita música castelhana, Pedro Gregório, quizá, quizá, quizá…
Namoraram um ano, casaram em Juiz de Fora. O marido também havia morado em asilo, depois serviu no Exército, e no quartel aprendeu a dirigir, tirou carteira de motorista, quando saiu foi trabalhar de motorista. Com 21 anos. Casaram na Igreja São Mateus, foram morar no Rio, com parentes dele, em Botafogo. Veio a filha mais velha, mas o marido começou a aprontar com Dorinha. E, com ela, vacilou dançou. Rapou fora de novo! Largou dele, e, já que estavam acostumados, deixou-lhe um bilhetinho de despedida. Já tinha duas filhas, a história se repete, ambas ficaram internas em institutos de caridade, um era no morro de Santa Tereza, o outro Dorinha não lembra.
E ela, bem, voltou ao Realengo, para lá e para cá, dos tios para a irmã, e de volta onde estava antes… Para não dar e nem ter despesa, foi de novo trabalhar em casa de família, a melhor saída era comer, beber e dormir no emprego mesmo. Trabalhou de babá na Urca, cuidou de uma menina chamada Maria Inês; depois, em Copacabana, de um menino chamado Paulo César; e também da Andréia, da Mirtes… Aí começou a trabalhar de faxineira e arrumadeira. Só largou quando voltou para Juiz de Fora. Pegou as filhas de volta nos asilos, e ficou em casa, cuidando da família – incluindo um novo companheiro.
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No retorno a Juiz de Fora, Dorinha conheceu o Pidiu, como era conhecido um grande festeiro do bairro Dom Bosco, o Eugênio. Ela foi ao forró do Clube Serrano e um compadre lhe apresentou o moço, que estava lá vendendo cafezinho. Ela, doida para esquecer a dificuldade de criar as filhas. Por causa das meninas é que enfrentou a situação. Com a firmeza de sempre: deu-lhe um prazo de 15 dias para arrumar casa, ajeitar tudo, caso contrário voltaria para o Rio de Janeiro. Pois não é que em 15 dias o danado do homem deu conta de tudo? Arranjou casa, pagou o primeiro aluguel, 600 cruzeiros, ficaram ali mesmo no Dom Bosco. E foram morar juntos, deram aquele almoço de fartura para comemorar, vieram mãe, padrasto, avó, Dorinha chamou todo mundo.
Casar não casaram: o companheiro era separado, tapeou Dorinha, só quando estava grávida do primeiro filho dele é que Eugênio disse que já era casado, mas havia se separado, essas coisas. Ah!, safado sem vergonha! Mas Dorinha continuou com ele, que não apenas havia de fato largado a ex-mulher, como tinha antes casado três vezes, e três vezes havia enterrado as esposas. Mas Doromar não teve medo: — Eu é que vou enterrar você! Viveram juntos 16 anos, compraram um terreninho, construíram, tiveram cinco filhos, que se somaram às duas filhas que Dorinha já tinha do primeiro casamento. Eugênio trabalhava no laboratório da FEEA – Fábrica de Estojos e Espoletas de Artilharia, empresa depois absorvida pela Imbel. Foi colocado ali por um coronel alemão que gostava dele. Aposentou-se por doença, morreu por volta do ano de 1966.
Eugênio era negro, e naquela época não havia muitos casais preto com branco, assim botafogo, saíam na rua e muita gente ficava reparando, de olho torto. E ele era mais velho, meio coroa, ela novinha, bonitinha. Dorinha e Eugênio, na deles: um olhava para a outra, e a outra para o um, e seguiam em frente. Para as festas, principalmente. Dá-lhe festa: Pidiu trabalhava na FEEA, mas gostava mesmo é de se divertir e divertir os outros. Era o festeiro do bairro, fazia o Carnaval, fundou a Unidos da Serra. Dorinha virou a rainha do Dom Bosco, saiu no carro alegórico, já que ninguém mais queria, no começo era só acanhamento, depois era briga para ir lá em cima. O carro quebrou numa das subidas de morro, mas isso não ia estragar a folia, ainda mais depois do desfile oficial da cidade, tiraram 2º lugar! Foi por causa do Pidiu e do Carnaval que Doromar ficou conhecida, até hoje, pelas pessoas mais antigas da região. Fiquei famosa!
Uma das brincadeiras preferidas de Eugênio era fazer a mula ruana; pegava um saco de linhagem, entrava ali dentro, só a cabeça é que aparecia para fora, ficava brincando de mula com a garotada. O pessoal adorava, pedia mais. E ele: — Pidiu? Brincou! Parecido com a mula era a cachorrinha Violeta. Ele fazia uma cachorra de pano, de orelha caída. A cachorra ele amarrava assim a coleira nela, aí ele falava, pula, Violeta! Aí ele fazia assim, a cachorra ia e pulava! Desce, Violeta! Aí ele ia e punha a Violeta no chão. Aí o pessoal ria, ria com a palhaçada…
Gostava também de fazer teatro, no porão de uma casa da parte alta do bairro, a Serra de Cima. Enchia de gente, pessoal alegre, tinha muita diversão. No Clube Serrano, o lance era dançar forró. Ele fazia máscaras, improvisava até com escova de dente velha para fabricar os adereços. Chegou a brincar de televisão, quando o aparelho era coisa que ainda não tinha chegado ao Dom Bosco. Aí, simples: Eugênio fazia bonequinhos de papelão, juntava duas cadeiras, punha um lençol e ficava por trás das cadeiras com uma vela, fazendo aqueles desenhos no ar com a chama, e as pessoas vendo a sombra no lençol. E a criançada, tudo sentada. Os vizinhos iam lá para ver, pensando que era televisão de verdade. Só depois que eles tiveram televisão. Foram os primeiros do bairro. O povo, já acostumado, continuava indo lá, é claro. Dia de sábado Dorinha arrumava a casa, encerava, que era tudo de taco, vinham as crianças e iam todos assistir o Almoço com as Estrelas, na Tupi. Era divertido, era bom! Alegrava o bairro Dom Bosco.
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Falta das festas, isso Dorinha sente mesmo, e muito. Da geração dos festeiros, dos parentes alegres, daquele pessoal junto brincando, do segundo companheiro, palhacento, no qual as crianças grudavam como mosca varejeira, das histórias que ele contava aos filhos, de todo mundo dizendo para o Pidiu, Faz a mula! Faz a Violeta! Depois ele morreu, acabou tudo, conta Dorinha. Não tem mais ninguém no bairro que leve a alegria como ele fazia. E finou-se também a geração festeira da família. A última era a tia com quem ela morou no Rio de Janeiro. Mesmo depois que voltou a Juiz de Fora, enquanto essa tia era viva Doromar ia ao Rio passar com ela o Natal, festejar com a família, antes era uma alegria sem fim, sabe? Parece que uma das primas, Inaiá, ainda está viva, talvez more em Santos Dumont, isso se vendeu as coisas no Rio e foi para Minas, mas Dorinha não sabe, nunca mais teve contato. Com as filhas das primas também não. Perdeu de vista, não tem ideia, foi-se.
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Enquanto Eugênio era vivo Dorinha não trabalhou fora. Cuidou dos filhos, cumpriu a obrigação de mãe, dar almoço na hora certa, banho, tudo que podia. Mas passou aperto. Só com o salário do Pidiu não era fácil. Então, muita coisa ela não comprava, pedia nas casas ou ganhava. Na época de Natal recebia trouxas com roupas e brinquedos, as crianças ficavam doidas para chegar em casa e abrir para ver o que era. No Rio de Janeiro, o marido de uma prima trabalhava na Marinha e conseguia muita coisa. Das freiras da Lins de Vasconcelos, também no Rio, essa parenta conseguia sapatos, vestidos, roupas para as crianças. Juntava durante o ano, e no Natal Dorinha ia lá buscar, para os meninos não ficarem com nada em falta.
Mas Eugênio morreu, e Dorinha acabou com a pedição, voltou para a faxina, para o trabalho de doméstica, no que encontrava. O dinheiro dava certinho para sobreviver. Sempre de bom humor, cantava, cantava enquanto lavava fraldas e fraldas, que levava amarradas para lavar numa das bicas que havia no bairro, perto da Universidade. Lavava e quarava. Tudo na mão e na escova, nada de máquina nem de fralda descartável. Pegava as fraldas sujas de manhã e entregava tudo limpinho à noite – e no dia seguinte, repete, porque neném, você sabe, né? Numa das casas em que trabalhou, ia para o tanque e gostava de cantar uma música da Kátia Cega, do Roberto Carlos. A colega cozinheira da mesma casa, Marília, lembra até hoje da cantoria da Dorinha.
Criou muitos laços nesses conhecimentos de trabalho, hoje somente algumas poucas dessas relações ainda perduram. Ficou 30 anos como acompanhante de dona Andréia, uma senhora idosa que morava apenas com a filha, Elisa. Pajeava dona Andréia, cortava as unhas, passava pomada para cuidar de feridas, papeava até Elisa voltar do serviço, no SESC. Elisa agora passa tempos em Brasília, onde mora a família, e quando viaja até hoje Dorinha vai lá olhar a casa, molhar as plantas, deixar tudo limpo e pagar as contas – a patroa deixa o dinheiro, e quando volta está tudo certinho em cima das mesa, o troco e os recibos, confiança total na Doromar. Se vem uma irmã visitar essa senhora, Dorinha vai lá ajudar na cozinha, fazer faxina. E também vai lá a passeio, bater um papo, falar da vida.
Antes de ir para a casa de Andréia, olhar a senhora e esperar a filha chegar do serviço, Doromar cuidava de dona Antonieta. Essa também morreu. Mas o viúvo de Antonieta, seu Nivaldo, sempre que havia precisão ajudava Dorinha no que podia, não sabia o que fazer por ela. A casa de Dorinha vivia dando problema – o telhado ficava podre debaixo de sol quente, de tanto cupim e broca nos caibros, e vinha abaixo. Caía a casa na seca, não na chuva. Pois um dia isso aconteceu e seu Nivaldo num instantinho foi num tal de João Leite que tinha ali, que vendia madeira, comprou madeira, comprou as coisas, aí meus filhos se juntaram, reuniram os colegas e levantaram a casa de novo. A casa onde mora até hoje Doromar caiu assim umas três vezes. Parou de cair apenas quando fez uma laje, mas virou uma goteira só. Seu Nivaldo também morreu. Dorinha constata, sempre rindo, que esse seu povo todo vai morrendo, e ela, vai ficando sem serviço…
Também os amigos foram indo. Geralda, vizinha e colega, era a caixa econômica de Dorinha, quando precisava de dinheiro Geralda ia lá nos guardados e emprestava. Doromar sempre pagava. Pois Geralda morreu, e também dona Antonieta, que também ajudava. Agora é a vez de Elisa, que dá uma força para quem cuidava da mãe, se precisar Doromar vai lá, pede 50 reais, mas sempre devolve, sempre. Pode acontecer, não é mesmo?, pois a aposentadoria por invalidez que Doromar recebe do INSS é coisa bem pouca. Ela quebrou o cóccix ao cair de uma escada com sabão. Algum problema sempre sobra, mas não gosta de ficar parada, não quer saber de estar à toa, procura se distrair, pois então o tempo passa mais rápido.
Para isso a televisão até que ajuda. Faustão, Sílvio Santos, todos estão ali com Dorinha nos domingos. Ou Gugu, no fundo tanto faz, o bom é passar de um para outro, para outro, e de novo para aquele primeiro, vendo um pouco de cada, assuntando, distraindo. Durante a semana, ela gosta é de novela, às vezes enjoa, parece tudo sem graça. Doromar curtia mesmo as novelas no rádio, o tal de Jerônimo, o Herói do Sertão, que passava na rádio Nacional. Depois foi adaptada para tevê. Big Brogui também eu vejo, assim, no dia da saída. Porque eu fico apostando quem é que vai sair! Notícias, jornal, mais ou menos, porque não quer saber das coisas ruins que aparecem.
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Não dá para ficar quieta, também, porque muita coisa ainda cai nas costas largas da Dorinha. Quatro netos vivem com ela, de 10 a 17 anos, um filho, de 44 – o pai desses jovens -, e as despesas são todas por conta de Doromar. Água, luz, comida, tudo em cima dela, que fica no vermelho. Não tenho ajuda de ninguém, para nada, nada, nada. Com as contas, faz assim: a mais atrasada paga na frente, a adiantada vai ficando pra trás, entende?, até ver como é que fica. Quando consegue um emprestimozinho assim, de uns 300 reais, paga as contas que pode. Os móveis são todos ganhados. A televisão é antiga – mas funciona, pelo menos pega três canais, e é colorida.
Tudo faz sozinha, arruma a casa, lava a roupa. Tem os cinco que moram ali, e mais uma filha que mora nos fundos, e que almoça e toma banho na casa de Dorinha, a roupa também é a mãe que lava. Essa filha vendeu tudo, geladeira, fogão, botijão, até a porta da casa, pede esmola para cuidar de sete cachorros, isso porque já morreram vários. Morava com um rapaz, que foi embora, ela caiu em depressão, entrou na droga. O filho dela, neto de Dorinha, também, por isso está preso.
Depois que cresce cada um segue aquilo que dá na cabeça. O certo, o errado. Os pais avisam, né? Os netos da geração de agora, esses é que preocupam, os filhos todos trabalham, a maior parte faz biscate, e as filhas, essas cuidam de casa, só aquela uma que não. Uma das filhas, Noêmia, já morreu. Ficaram quatro mulheres e dois filhos homens. Os netos… Tenho medo de se meterem em briga, hoje os moleques tão matando à toa, qualquer coisa finca a faca, quando vão para a aula eu rezo, vão com Deus, voltem bem.
Ela segue a rotina, bom mesmo é sábado, dia de não fazer nada, de manhã cedo ela rapa fora para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, irmão para cá, irmão para lá, nada de gritaria, reza ajoelhado, pede a Deus perdão pelos pecados, sejam lá quais forem, às vezes vai ver que não tem nenhum, aí facilita. Fica na igreja até certa hora, depois vai para a casa de uma das filhas, toma um café bem gostoso, deita no sofá e tira aquele sono. Então volta para a casa dela, está tudo arrumadinho, que na sexta-feira ela adiantou a arrumação para ficar à vontade no sábado.
E nas quintas-feiras, quando dá na ideia, Dorinha segue para os bailes da AMAC. Danço sozinha, os velho lá são muito chato, cada um tem sua velha, e eles não podem dançar com a gente que as velha briga. Também, não por menos: Doromar segue vaidosa, cuida do corpo, passa creme, só não usa pintura, não gosta. E pinta o cabelo, quem ajuda é uma neta, que também corta a unha do pé, outra passa esmalte, não pinta as unhas das mãos porque trabalha. Nunca pensei nisso, mas Dorinha explica: você conhece pessoa limpa pelo calcanhar. Se vê o calcanhar rachado, sai fora, essa daí não. Garante que é moda carioca, carioca olha muito pro pé. Quando era moça Doromar usava até aqueles saltinhos fininhos, na época chamava Luís XV, salto carretel, assim ia para os bailes, toda elegante, muito magrinha, cintura fina. Mas depois que ficou viúva do Eugênio nunca mais namorou, gosta é de papear, jogar conversa fora.
Hoje vai nos crentes do Sétimo Dia, mas antes frequentava a igreja católica. Até que um dia, faz pouco tempo, passou na rua Barão de Cataguases, entrou de curiosa, gostou dos adventistas. E lá eles dão roupa, não vendem não. E antes dos adventistas e dos católicos Dorinha foi por muito tempo na umbanda. Levava os filhos ao centro para benzer. Isso na época do Seu Manoel Pé-de-Ferro, dono do terreiro da rua Pirapora, no Dom Bosco, o terreiro Santo Antônio. Começou a ir porque a mãe, dona Mariquinha, já frequentava, era umbandista. Um dia a mãe a levou para benzer, Dorinha cismou com um preto velho, pôs fé nele, foi para perto do pai Vicente.
— Ah, cheguei, ele pôs a mão assim em mim, quando ele começou a me benzer, eu não vi nada! Escureceu minhas vista, e eu não vi nada! Nada! Terreiro cheio! Fiquei até com vergonha depois que me contaram! Diz que eu saracupiei lá, rodei, falei umas língua estranha, que ninguém entendeu.
Começou a ir sempre, e nunca não via nada. Diz que falava lá um tal de Ogum! Ogum!, ficou vários anos nesse centro. A mãe recebia lá o caboclo Giramundo, dava passe. A mãe de cabeça de Dorinha é Inhasã, Iansã, Orixá guerreira. E o pai de cabeça, Ogum, também Orixá poderoso, guerreiro, senhor do ferro e do fogo.
Dorinha acredita e desacredita, faz anos que não vai ao terreiro. Via muito fingimento, aí foi se afastando. Mas largou mesmo porque o pessoal da época dela foi tudo ficando velho, morrendo. Falou para si mesma, Vou sair para não morrer, está morrendo todo mundo, deixa eu sair fora senão eu morro também! Igreja ou centro, ela segue firme como mulher que tem fé, muita fé. Mesmo que os filhos não sigam religião nenhuma, não fizeram nem a primeira comunhão. E daí? São unidos, não brigam: — Aqui, na hora do pega pra capar é todo mundo, na hora do vatapá, é todo mundo também.
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Para ver todos juntos é que Dorinha montou o ninho. Dá para perceber que um dos sentimentos mais fortes em Dorinha é aquela sensação de insegurança que enfrentou por passar muitos e muitos anos sem ter um lugar certo para viver. Morou primeiro com a família, mas em seguida em asilo, depois ficou perambulando de casa em casa, tio, tia, avô. Até que ela comprou o terreno – com o dinheiro de lavar e passar roupa para fora – e Eugênio construiu. Doromar não queria que os filhos tivessem que passar pelo que ela enfrentou. No terreno cada um tem seu pedacinho: duas moram nos fundos, outra em cima. O cantinho deles está garantido, no futuro, mesmo quando Dorinha deixar de existir. Queria ter uma casa melhorzinha, mais conforto, pois gosta de tudo enfeitado, arrumado, mas se conforma com o que já conseguiu.
Os filhos que não fincaram pé naquele espaço vivem também no bairro. Os netos, na maioria ficam também por ali, seguem seu caminho, uma das netas virou freira, irmã de caridade, vive no Acre, enclausurada. Os que estão por ali no Dom Bosco têm com Doromar uma convivência sem brigas. Vai cuidando cada um da sua vida. Fez dever? Fez! Tem jantar? Tem. Não tem? Não tem! É assim.
Se tivesse alguma opção de lazer no bairro certamente nós veríamos Doromar por lá direto. Um clube, uma praça, um parquinho para as crianças, ela poderia ficar vendo a meninada brincar. Reclama que o Dom Bosco não tem diversão nenhuma, só violência, droga, muito bebum, muita história de que fulano vai matar cicrano, fincar a faca. Queria que tivesse ali policiamento, uma guarita da PM, um baile por ali mesmo, para não ter que ir até os forrós da AMAC.
Admirável a disposição de Doromar para a vida, a garra, a vontade, mulher guerreira, como disseram os orixás. Problemas de saúde? Nada! Fazer o quê em médico? Falar que eu tô sentindo o quê, se eu não tô sentindo nada! Sempre fez muito chá caseiro, pegava muito chá, erva de Santa Maria, socava, punha no leite e bebia, para matar os vermes. Chá de hortelã, chá de picão, era assim, fazia chá, e dava certo, banho de ervas. Até comprou um livro que ensinava a fazer, a quantidade certinha.
E a memória, excelente. O que mais pede a Deus é que conserve sua lucidez, não esquece de nada. Tem medo de ficar com mal de Alzeihmer, como uma prima da mãe, que volta para o passado, vem para o presente, nem percebe o que faz, nem repara direito em quem está com ela. Dorinha quer continuar sempre lúcida.
— Nem esquento cabeça com velhice, com negócio de idade! Tem gente que encara a velhice. A gente não pode encarar a velhice não, deixa a velhice de lado! As pessoas que encara a velhice é que até acaba cedo. Eu não encaro com a velhice não! Deixa ela aí, vindo devagar. Sou igual artista, deixa vim devagar. Enquanto eu tiver força, saúde, porque a velhice pra mim é doença. Porque se você adoecer, você não vale mais nada, então você já ficou velho! Você não pode lavar um prato, você não pode fazer nada.
Diz ter uma impressão, a de que vai partir assim, de repente. Que nem um passarinho. Enquanto isso segue a vida, com a mesma garra de sempre. E dando risada, fazendo caçoada. Como as freiras a conheceram no asilo.