Com base nas experiências de outros países que enfrentam a crise causada pela Covid-19, há evidências que durante a internação hospitalar, alguns pacientes podem fazer uso de ventiladores mecânicos ou passar por outros procedimentos que limitam ou impedem a comunicação oral. Diante desse quadro, o projeto de extensão “Pranchas de Comunicação Alternativa para uso Hospitalar”, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), passou a auxiliar esses enfermos a expressarem as próprias necessidades. A iniciativa, inicialmente, implementada no Hospital Universitário (HU/Ebserh), pode vir a ser ampliada para uso em hospitais com atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS), em Juiz de Fora.

Baseada em uma projeto desenvolvido por um grupo multidisciplinar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o material favorece a humanização nas relações hospitalares, onde um paciente impossibilitado de dialogar tende a sentir-se angustiado. “Por meio da prancha, ele pode comunicar a um profissional da saúde a intensidade da sua dor, alguma necessidade, algum ajuste, e isso pode melhorar o seu processo de internação até a própria recuperação. Já está agendado, para a próxima semana, um treinamento com os profissionais do HU sobre o uso dessas pranchas, onde eles poderão oferecer sugestões e propor melhorias na ferramenta”, explica a coordenadora da ação na UFJF, professora Mylene Santiago.

O procedimento é desenvolvido a partir dos sistemas aumentativos e alternativos de comunicação (CAA) e podem ser úteis em variadas situações, entre elas, para pessoas impossibilitadas de falar. Segundo Mylene, a ferramenta representa um modelo comunicacional acessível, que pode favorecer outros pacientes, como, por exemplo, os encontrados em situações crônicas e de comorbidade. Além disso, as pranchas podem continuar em uso, para esses casos, mesmo após o término da pandemia.

“Por exemplo, um paciente que teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e que perdeu circunstancialmente a possibilidade de comunicação verbal pode fazer uso dessas pranchas de comunicação e ter a qualidade de vida e de recuperação melhorada em função do estabelecimento desse contato com os profissionais da saúde e familiares. Elas tendem a favorecer a comunicação entre o enfermo e aquelas pessoas que precisam saber como ele está, para poder contribuir com terapias ou com indicações terapêuticas”, ressalta.

Pedagogia hospitalar
Seguindo a proposta desenvolvida pela equipe da UFGRS, os cartões utilizam símbolos gráficos para permitir que o paciente comunique sentimentos, elabore perguntas simples, responda questionamentos feitos por familiares ou pela equipe de saúde e faça solicitações, como, por exemplo, pedir água, cobertor ou alguma outra necessidade. Dessa forma, basta apontar para símbolos ou para letras nos cartões. “O paciente pode construir pequenas frases ou indicar necessidades à equipe hospitalar ou aos acompanhantes. Além disso, é uma forma de inaugurar em Juiz de Fora, a Pedagogia Hospitalar, que seria um processo multidisciplinar em que a pedagogia contribui com formas de comunicação e de atendimento a crianças, jovens e adultos que precisam ficar hospitalizados. Essa modalidade educacional já está prevista em lei.”

De acordo com o professor da UFRGS, e também um dos coordenadores da iniciativa, Eduardo Cardoso, esses sistemas alternativos resultam da utilização conjunta e coordenada da escrita simples com um sistema de signos e símbolos enquanto estratégia para incentivar a comunicação, criando situações de interação. “A escrita pictográfica tem ganhado cada vez mais espaço no cotidiano das pessoas, fazendo parte da comunicação, seja nas redes sociais, por exemplo, seja nos espaços de educação e cultura. A substituição de palavras por imagens não é nada recente e está em todo o lugar, desde avisos até orientações em placas de sinalização, configurando, em muitos casos, uma linguagem universal”, diz.

Cooperação
Para a pró-reitora de Extensão da UFGRS, Sandra de Deus, a iniciativa potencializa o uso da comunicação alternativa em instituições de saúde. Além disso, pode potencializar outras ações, como, por exemplo, a formação de equipes na área de saúde, sendo usada nas escolas ou em atendimentos individuais por fonoaudiólogos e/ou terapeutas. “É importante lembrar também que essas pranchas estão sendo traduzidas para outras línguas, como inglês, espanhol, português de Portugal, chinês. francês e alemão. Desta forma, entendo que a extensão universitária cumpre mais uma vez com o seu papel de apresentar alternativas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas”, diz.

Já a pró-reitoria de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra, avalia que a realização desse projeto incide sobre uma questão de saúde pública importante, não apenas para Juiz de Fora, mas com potencial de atuação em uma escala mundial, o que representa a articulação da Instituição e os esforços conjuntos das universidades federais. “Apesar de estarmos em estados distintos, possuímos os mesmos princípios e objetivos relacionados à inserção qualificada da UFJF, assim como da UFRGS, em ações que possam trazer benefícios para a comunidade em vários campos e, diante da conjuntura nacional, especificamente na área de saúde.”

Como funciona a prancha alternativa de comunicação

Ações de acessibilidade
As coordenadoras do projeto, professoras da Faculdade de Educação (Faced), Mylene Santiago e Katiuscia Antunes, também coordenam o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI), onde têm sido desenvolvidos trabalhos no sentido de se pensar culturas políticas e práticas de inclusão na UFJF, junto aos seus departamentos e instituições de atendimento à comunidade, como o Colégio de Aplicação João XXIII e o Hospital Universitário (HU).

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