Órgão publica relatório de avaliação do cenário da crise sanitária e retomada econômica.
A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou nesta quarta-feira (29), o relatório “Covid-19 e Desenvolvimento Sustentável: avaliando a crise de olho na recuperação”, revelando que a pandemia afetou todos os países, mas com impactos maiores para as nações com maior desigualdade econômica, como o caso do Brasil.
O material é resultado do trabalho dos especialistas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
Na avaliação do nutricionista Élido Bonomo, presidente do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), o aumento da desigualdade social é cada vez mais sentido pela população brasileira, tanto no campo como nas grande cidades. “O Sistema CFN/CRN enxerga com grande preocupação a atual realidade brasileira. Antes da pandemia, a extrema pobreza e a fome já eram motivos para preocupação, pois o cenário já apresentava elementos da crise econômica e do desemprego de 14 milhões de pessoas. A crise sanitária escancarou de vez o tamanho do abismo social já existente e isso pode ser ainda mais grave caso não sejam tomadas medidas efetivas não somente no plano econômico, mas de recuperação da rede de proteção social desmontada nos últimos anos”, destacou.
De acordo com o documento da ONU, embora o país tenha registrado avanços importantes nas últimas décadas, a pandemia atingiu em cheio a população mais vulnerável, ressaltando ainda mais as diferenças sociais evidentes na sociedade brasileira. Neste cenário, uma recuperação eficaz dependerá de esforços coletivos, para fortalecer os sistemas de saúde e proteção social para criar oportunidades econômicas. O estudo analisou 94 indicadores para mostrar a situação do Brasil com a chegada da pandemia desde março de 2020, quando o país já apresentava problemas estruturais que influenciaram na crise sanitária, social e econômica.
O relatório aponta que o processo de recuperação pós-Covid-19 é uma oportunidade histórica para as sociedades na implementação de mudanças necessárias para o alcance de um futuro melhor para todos. O material apresenta parâmetros para o acompanhamento desse processo de recuperação ao longo dos próximos anos, auxiliando e orientando ações em todo o Brasil, levando em consideração as diversas realidades locais.
Vale lembrar que, em abril de 2021, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan) publicou uma densa pesquisa (clique aqui) que já apontava a grave crise de insegurança alimentar nos lares brasileiros, agravada pela pandemia. Os resultados mostraram que em mais da metade dos domicílios (55,2%) os habitantes conviviam com a insegurança alimentar. O que representou um aumento de 54% em relação a aferição de 2018 (36,7%). Em números absolutos, 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos.
Em setembro de 2019 foi a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2016-2017), promovida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que já apontava para o grave quadro de insegurança alimentar da população. De acordo com o relatório (clique aqui), concluído a partir da aplicação de perguntas da Escala Brasileira de Medida Direta e Domiciliar da Insegurança Alimentar (EBIA), 36,7% (o equivalente a 25,3 milhões) estavam com algum grau de Insegurança Alimentar (IA): IA leve (24,0%, ou 16,4 milhões), IA moderada (8,1%, ou 5,6 milhões) ou IA grave (4,6%, ou 3,1 milhões).
Nesta pesquisa, destaque para os índices de Insegurança Alimentar proporcionalmente mais expressivos nos domicílios na área rural. Nessas regiões, a IA grave foi de 7,1% (676 mil domicílios), acima do verificado na área urbana (4,1%, ou 2,5 milhões de domicílios).
Outro dado importante foi com relação a preparação dos alimentos. O uso de lenha ou carvão foi mais frequente nos domicílios com IA moderada (30%) e IA grave (33,4%). Já o uso de energia elétrica foi mais frequente (60,9%) nos domicílios em SA e menos (33,5%) nos domicílios com IA grave.
O relatório “Covid-19 e Desenvolvimento Sustentável: avaliando a crise de olho na recuperação” já pode ser acessado em nosso site. Clique aqui.
Edição: João Paulo Oliveira
Texto: Rodrigo Rueda
Fonte: www. cfn.org.br/noticias