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Relatório da ONU revela que a pandemia contribui para o agravamento da fome

Covid-19 coloca em risco a segurança alimentar e nutricional de milhões de pessoas.

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No início do mês, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou, durante evento virtual, a edição 2021 do relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (SOFI 2021), que apresenta a seguinte constatação: a pandemia do novo coronavírus vem contribuindo para o agravamento da fome em todo o mundo. O relatório apresenta a primeira avaliação mundial da insegurança alimentar desde o início da pandemia, fornecendo informações atuais sobre a segurança alimentar e nutricional.

 

Na avaliação do representante da FAO no Brasil, Rafael Zavala, a pandemia de Covid-19 teve um impacto devastador na economia mundial, colocando em risco a segurança alimentar e o estado nutricional de milhões de pessoas, incluindo crianças. “Com a crise econômica, milhões de pessoas na região da América Latina e do Caribe foram levadas à situação de extrema pobreza, e a perda do poder de compra impactou diretamente o acesso das pessoas a alimentos não só em quantidade, mas também em qualidade. Outro ponto é que a pandemia expôs e continua expondo as fraquezas em nossos sistemas alimentares, que ameaçam as vidas e meios de subsistência das pessoas ao redor do mundo, especialmente das pessoas em situações mais vulneráveis”.

 

Rafael Zavala destaca que não há um dado preciso de quanto tempo a atual pandemia irá impactar a segurança alimentar nos países, mas que seus efeitos ainda serão sentidos por muito tempo. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) anunciou recentemente, que a economia latino-americana não vai crescer o suficiente para reverter a crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19. Esse impacto econômico será sentido pelas pessoas que não possuem renda suficiente para o consumo de alimentos, tanto em quantidade quanto em qualidade.

 

O SOFI 2021 aborda a temática “Transformação dos sistemas alimentares para a segurança alimentar, melhor nutrição e dietas saudáveis acessíveis para todas as pessoas”, trazendo uma reflexão sobre a necessidade de mudança nos meses que antecedem a Cúpula das Nações Unidas sobre Sistemas Alimentares, marcada para setembro deste ano. Rafael Zavala explica, que pela primeira vez, as Nações Unidas nos convidam a participar de um debate sobre Sistemas Alimentares com o objetivo de revisar e refletir sobre seu estado atual, a fim de buscar soluções globais que permitam gerar sistemas alimentares mais equilibrados, sustentáveis e inclusivos. “Estamos diante de uma oportunidade histórica, pois os números da fome e de todas as formas de má nutrição e pobreza continuam críticos”.

 

CENÁRIO BRASILEIRO

Dados do SOFI 2021 mostram a estimativa de 23,5% (49,6 milhões de pessoas) da população brasileira em situação de insegurança alimentar moderada ou severa, entre 2018 e 2020 – 12,1 milhões a mais do que entre 2014-2016. No Brasil, o impacto da fome atinge diferentes grupos e populações, sendo mais devastador para os mais vulneráveis. “Com a perda de renda causada pela pandemia, acredita-se que outros grupos, como aqueles que trabalham com serviços não-agrícolas (majoritariamente mulheres), como o turismo rural e artesanato, por exemplo, também serão impactados de forma mais severa do que outros setores”, destaca Zavala.

 

A Covid-19 aumentou a vulnerabilidade dos trabalhos e aumentou alguns preços locais de alimentos. Além disso, o aumento do desemprego e a queda da renda fez com que milhões de pessoas tivessem dificuldades em adquirir alimentos suficientes, ou optassem por alimentos mais baratos e com menor qualidade nutricional.

 

POSSÍVEIS SOLUÇÕES

No relatório da ONU SOFI 2021, a FAO junto com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e o Programa Mundial de Alimentos (WFP), indicam seis possíveis caminhos para a transformação dos sistemas alimentares: integração de políticas humanitárias, de desenvolvimento e de busca da paz em áreas afetadas por conflitos; ampliação da resiliência climática em todos os sistemas alimentares; fortalecimento da resiliência dos mais vulneráveis às adversidades econômicas; intervir ao longo das cadeias de abastecimento de alimentos para reduzir o custo de alimentos nutritivos; combater a pobreza e as desigualdades estruturais, garantindo que as intervenções sejam em prol dos mais pobres e inclusivas e o fortalecimento dos ambientes alimentares e mudança do comportamento do consumidor para promover padrões alimentares com impactos positivos na saúde humana e no meio ambiente.

 

Texto: Rodrigo Rueda.

Fonte: www.cfn.org.br