Fátima Salimena estreia a série especial da UFJF (Imagem: Leandro Mockdece / Arte: Gabriela Moroni e Gian Rezende)

Dando início à série especial da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em comemoração ao Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, te convidamos para conhecer uma mulher com quase cinquenta anos de atuação científica e universitária: Fátima Salimena. Recentemente, um grupo de pesquisadores nomeou um novo gênero de plantas em homenagem à docente aposentada da Universidade.

Essa é a primeira das reportagens em homenagem a pesquisadores que construíram um notável legado científico, impactando além das fronteiras do nosso campus. Ao trazer essas histórias à tona, nosso objetivo é estimular todas as gerações de cientistas, além de reforçar que a ciência é, acima de tudo, uma atividade humana e colaborativa.

Preservação da natureza e compromisso social

Antes da aposentadoria, Fátima Salimena construiu uma trajetória notável como professora e pesquisadora – exemplo disso são os mais de cem alunos orientados e a participação ativa na criação e consolidação do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação da Natureza, que na época era intitulado Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PGEcol). Hoje, ela segue presente como pesquisadora, atuando como professora convidada no Departamento de Botânica desde 2016, ano no qual se aposentou oficialmente.

No coração de suas pesquisas estão os trabalhos de campo, que envolvem a identificação da flora local, o transporte de amostras para o herbário e a análise das espécies encontradas. Assim, pesquisadora ativa e apaixonada, Fátima fala sobre a “visão míope” que é querer preservar a espécie por si só – quando, na realidade, é preciso preservar todo o ambiente onde as espécies ocorrem, bem como suas relações, suas cadeias e seus eventos de participação no ecossistema.

A pesquisadora se mantém ativa, atuando como professora convidada no Departamento de Botânica desde 2016 (Imagem: Leandro Mockdece / Arte: Gabriela Moroni e Gian Rezende)

Com o passar dos anos e o avanço das pesquisas e colaborações na área, Salimena foi compreendendo e, consequentemente, passando para seus alunos uma visão embasada sobre a importância da Botânica como instrumento da sociobiodiversidade. “É impossível conservar espécies somente com a ajuda do poder público, sem trazer a comunidade para esse processo. É preciso que a sociedade esteja envolvida: é ela que tem esse papel de conservação. Só colocar uma grade na área de conservação ambiental não funciona; é mais fácil educar e explicar o porquê dela ser importante para que as pessoas possam, de verdade, ajudar.”

Todos que estudaram (ou estudam) com Salimena aprendem, seja na pesquisa ou na sala de aula, a se sensibilizar para a importância do comprometimento social. Ela enfatiza que os estudantes não devem se limitar apenas às técnicas e metodologias, mas entender como o conhecimento adquirido pode ser aplicado para melhorar todo o sistema. “Falar em questão ambiental, na sociobiodiversidade, é também falar em segurança alimentar, em saúde psicológica e fisiológica”, exemplifica.

Legado imortalizado na Botânica

Tanta história, conhecimento e dedicação não cabem em palavras. Para Fátima Salimena, o trabalho dentro da universidade é construído diariamente, com paixão; já o estar no campo, coletando plantas e identificando-as em laboratório, é uma atividade que, além de enriquecedora, também a diverte. No entanto, mesmo frente às levezas, ela reconhece as responsabilidades inerentes à sua função: o papel essencial dos pesquisadores em promover a harmonia entre avanços científicos e o bem-estar sociobiológico. A aplicação consciente do conhecimento adquirido para o desenvolvimento sustentável e para a proteção da biodiversidade, reforçando a importância do envolvimento ativo da ciência na sociedade e no meio ambiente, é uma das missões de Salimena.

Planta Stachytarpheta salimenae, batizada em homenagem à Fátima Salimena (Foto: Cristiano Vidal)

A prova dos bons frutos dessa missão reflete para além das fronteiras de Juiz de Fora. Em 2021, uma colaboração entre pesquisadores da UFJF e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) levou à descoberta de uma nova espécie de planta, rara e exclusiva do bioma do cerrado. Em reconhecimento à contribuição significativa de Salimena à Botânica, a planta recebeu o nome de Stachytarpheta salimenae. E agora, há poucos meses, em maio de 2023, um artigo que reuniu pesquisadores da Argentina, da Austrália e dos Estados Unidos nomeia não uma espécie, mas todo um gênero de plantas, Salimenaea, também como homenagem à trajetória da pesquisadora.

Ao falar sobre a honra de ter um gênero de plantas levando seu nome, a cientista expõe a seriedade da situação. “Carregar um nome em um gênero é algo que se perpetua e carrega consigo um significativo senso de responsabilidade”, declara. Ela atribui sua contribuição à Botânica à paixão que nutre pelo campo. “Meu nome agora faz parte de uma história botânica, uma história que se desenrola no campo – que eu tanto valorizo e prefiro estar, acima de tudo.”

Salimena conclui com um pensamento que resume tanto sua filosofia pessoal quanto seu compromisso científico: a integração com a natureza nos permite sentir plenitude, pois somos intrinsecamente parte desse universo. “Quanto mais nos distanciamos da natureza, mais nos afastamos de nossas necessidades básicas e de nossas origens. Portanto, convido a todos a visitarem praças, parques e jardins botânicos – respirem o ar puro e experimentem a leveza que a natureza proporciona. Essa conexão é benéfica não apenas para o corpo, mas também para a alma”.

Relembre:

Pesquisadora é homenageada em nome científico de nova espécie botânica

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Prática de pesquisa e amor pela docência: os caminhos de Pedro Barbosa

As ciências do corpo ganham forma nas pesquisas de Maria Elisa Ferreira