Maria Elisa Ferreira, uma das 50 cientistas mais influentes da América Latina, encerra a série especial da UFJF no Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador (Imagem: Vitor Ramos)

Na véspera do dia em que comemoramos o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) encerra sua série especial com a pesquisadora Maria Elisa Caputo Ferreira, que figura entre os 50 cientistas mais influentes da América Latina. Ela é firme em sua definição de ciência: trata-se de um “moinho d’água”. Cada correnteza, na sua concepção, é uma pessoa (docente, aluno, pesquisador, colaborador) e é a união dessas águas que faz com que o conhecimento se movimente.

Ao relembrar cada etapa da sua carreira, é a metáfora do moinho que ela retoma consistentemente. “Penso que posso dizer, com segurança, que tenho uma trajetória de sucesso. E um dos melhores reflexos disso é o sucesso das pessoas que passaram pelo Labesc”, conta, se referindo ao Laboratório de Estudos do Corpo. Justamente por esse ser o seu principal objeto de estudo – o corpo –, Ferreira presta uma atenção minuciosa aos movimentos e às histórias que a rodeiam. E, não à toa, transita por mais de uma área de conhecimento para desenvolver pesquisas multidisciplinares.

Graduada em Serviço Social, Ferreira formou-se mestre em Educação Física e doutora em Educação. Como orientadora científica, atuou em dois programas de Pós-Graduação da UFJF: de Psicologia e Educação Física. Mesmo hoje, quando está aposentada há um ano, a pesquisadora segue como convidada e orienta duas alunas de doutorado: uma dedicada a um modelo teórico de gratidão e apreciação corporal para adultas jovens brasileiras; outra, à relação entre dependência ao exercício, insatisfação corporal e motivação de atletas brasileiros de esportes de resistência. “É um privilégio”, ela brinca, enquanto caminha pela Faculdade de Educação Física (Faefid) da UFJF, “se aposentar e sentir saudade, todos os dias, do meu local de trabalho.”

O corpo como fio condutor de pesquisa

Fundado por Maria Elisa Ferreira em 2004, o Laboratório de Estudos do Corpo (Labesc) é dedicado a aprofundar o conhecimento sobre saúde, qualidade de vida e diversidade. Com quase duas décadas em atividade, o laboratório tornou-se um centro nacional de referência em estudos sobre imagem corporal e a associação da mesma a outras variáveis de saúde e psicológicas.

Entre as conquistas do Labesc está o desenvolvimento de uma escala de silhuetas tridimensionais para pessoas com deficiência visual (Foto: Arquivo pessoal)

Um dos trabalhos mais marcantes nasceu de uma pesquisa de mestrado, orientada por Ferreira e desenvolvida por Fabiane Morgado, feita para validar uma escala de silhuetas tridimensionais acessíveis para pessoas com deficiência visual. Os primeiros modelos, construídos em gesso, permitem que as pessoas entendam melhor suas próprias percepções corporais. O sucesso foi tanto que uma série de parceiros internacionais quis encomendar as silhuetas corporais; para facilitar, o Labesc firmou uma parceria para desenvolver modelos virtuais baseados nos originais que, por sua vez, podem ser replicados em qualquer lugar do mundo por meio de uma impressora 3D.

Nos últimos anos, especialmente devido ao “turbilhão de transformações motivados pelas mídias digitais”, como cita Ferreira, os estudos do laboratório convergem no objetivo de estudar a complexidade da corporalidade, da motricidade (conjunto de funções nervosas e musculares que permite os movimentos do corpo) e da diversidade cultural. “A imagem corporal idealizada em redes sociais, revistas, filmes e novelas acaba resultando em uma perseguição desenfreada por uma ‘meta’ de beleza, muitas vezes sem levar em conta as consequências dessa busca.”

De acordo com a pesquisadora, a equipe de cientistas tem um compromisso em estabelecer uma base sólida para uma análise teórica e crítica no âmbito do conhecimento sobre o corpo, em um esforço para compreender como esses elementos influenciam e moldam a maneira como percebemos a nós mesmos e aos outros. “Nossa contribuição é promover uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas sociais e individuais.”

Uma das 50 cientistas mais influentes da América Latina

Em 2022, mais uma consequência do empenho de anos de Maria Elisa Ferreira na pesquisa ficou evidente quando a pesquisadora figurou entre os 50 cientistas mais influentes da América Latina no campo da Educação, de acordo com a plataforma AD Scientific Index. O reconhecimento se baseia na produtividade e no impacto das publicações científicas, onde Ferreira ocupou a 37ª posição.

Mesmo após a aposentadoria, Ferreira continua ativa e relevante na pesquisa (Imagem: Vitor Ramos)

Além disso, a pesquisadora também marca presença na lista dos 50 pesquisadores mais influentes na área de Educação entre os países integrantes do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), onde figura na 49ª colocação. A AD Scientific Index avaliou, ao todo, 58 pesquisadores da UFJF, tendo como base o índice h, que considera o número de citações recebidas por publicações, e o i10, que contabiliza artigos com dez ou mais citações.

Esse destaque para Ferreira chegou quando a pesquisadora estava prestes a se aposentar. Na época, ela compartilhou que o reconhecimento de seu trabalho, citado em mais de 5.200 publicações na área da Educação (mais de 3.500 delas entre 2017 e 2022) é particularmente gratificante – especialmente quando uma das publicações mais decisivas para esse reconhecimento é o livro “Educação Inclusiva”, fruto de doutorado de Ferreira na Universidade de São Paulo (USP) que, mesmo concluído no início dos anos 2000, ainda hoje se mantém relevante.

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