Pedro Barbosa é o segundo homenageado da série em comemoração ao Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador (Foto: Carolina de Paula | Arte: Gabriela Moroni e Gian Rezende)

Na segunda reportagem em homenagem a pesquisadores que construíram um notável legado científico, apresentamos a trajetória de Pedro Gomes Barbosa que se graduou na UFJF, atuou na Marinha, fez mestrado e doutorado na UFRJ e depois regressou à Instituição como docente do curso de Engenharia Elétrica. Atualmente, o cientista é bolsista de Produtividade de Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora do CNPq. A série é uma referência ao Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, celebrado em 8 de julho.  

O interesse pela Engenharia vem desde a infância, mas o contato com a área de Elétrica chegou no ensino médio, sobretudo com a disciplina de Física. A graduação foi um momento de descobertas, e sua paixão não se abalou com as dificuldades do curso, pelo contrário, as descobertas o motivaram. “Cada período ficava mais interessante, com mais desafios, mais temas novos para estudar, mais tecnologia e fui me encontrando”, relembra o engenheiro.

Na UFJF, a sua carreira foi marcada pela participação ativa na criação do curso de mestrado em Engenharia Elétrica no ano de 1998, onde viu a oportunidade de construir o Programa de Pós-Graduação para que fosse diferente daqueles que já tinha passado. “O mestrado em Engenharia Elétrica estava começando, tinha sido aprovado na Capes na época, e eu pensei que iria fazer a diferença. Coisas que não me agradavam em outros locais que estudei e convivi, pensei ‘poxa, lá a gente pode fazer diferente e eu vou ter a chance de imprimir uma personalidade nesse curso’, então me integrei ao grupo.”

Em sua concepção, a dupla personalidade de professor e pesquisador se configura de forma colaborativa: “Estou fazendo pesquisa numa ponta, mas na outra eu estou ensinando. Acabo trazendo muitos desses conhecimentos para a graduação, para capacitar esses futuros profissionais, para quando eles chegarem ao mercado estarem capacitados com essas novas tecnologias”, assegura. 

Praticar ciência e consolidar pesquisas contribui para o crescimento da Instituição, e muda o paradigma de que a universidade é um local apenas de aprendizagem. “A universidade deixou de ser um colégio, e começou a produzir conhecimento. Antes os alunos vinham para aprender, mas agora a Universidade também produz”, ressalta Barbosa. Sua linha de pesquisa em específico resulta em frutos para toda a UFJF, onde parcerias com outras instituições, como a Petrobras, registros de patentes e projetos de inovação geram e multiplicam conhecimento.

A docência como legado

“A gente não consegue fazer pesquisa sozinho, você tem que fazer pesquisa com pessoas, junto com grupos, e ter pessoal qualificado”, opina Pedro Barbosa (Imagem: Leandro Mockdece | Arte: Gabriela Moroni e Gian Rezende)

“Uma coisa que me deixou emocionado foi o primeiro dia de aula aqui como professor. Foi emocionante, porque foi algo que tinha perseguido, falei ‘vou me transformar em professor’, então no primeiro dia que eu entrei em sala de aula depois de ter sido aprovado no concurso, sempre me marcou.” As lembranças do primeiro dia abriram portas para várias gerações de engenheiros que passaram por suas salas de aula.

Em sua perspectiva, o legado de um docente passa por três pontos: pelo lado humano, que forma mão de obra para a sociedade; pelo conhecimento, que as pesquisas proporcionam para a comunidade; e pela visibilidade, que agrega confiabilidade para a instituição. O ano de 1998 foi só o começo de uma trajetória promissora para a Pós-Graduação em Engenharia Elétrica na UFJF, “esse amadurecimento não só meu, mas dessa equipe com quem me integro, de professores e pesquisadores no mesmo perfil, estamos deixando esse legado para a universidade e para a sociedade.” 

Ainda que seus alunos estejam em instituições diferentes, o sucesso caminha junto à experiência com a Engenharia. “Alguns estão trabalhando aqui, outros estão em outras instituições, como a UFMG, a UFOP, a UFRJ, são ex-alunos, ex-orientados. Muitos deles foram ser engenheiros na Marinha. Aqui tem esse esse lado de formação de mão de obra especializada, de alunos que vão para pesquisa ou vão pro mercado e estão atuando nessa área, particularmente na de energia”, conta.

Representação internacional

Integrando a maior sociedade de engenheiros elétricos do mundo – o Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) –, Barbosa iniciou como secretário tesoureiro na sede do IEEE em Minas Gerais, alcançando o cargo de diretor de uma sessão da América Latina. A experiência soma na vivência dos alunos, mas, principalmente, na cooperação e fortalecimento da UFJF como formadora de profissionais extremamente qualificados, que se equiparam com engenheiros de qualquer universidade do mundo. 

Para o docente, a rapidez dos processos e atualizações muitas vezes são estopins para a evasão de curso (Imagem: Leandro Mockdece | Arte: Gabriela Moroni e Gian Rezende)

“O engenheiro que a gente forma aqui em Juiz de Fora, não tem diferença nenhuma para um engenheiro formado em Campinas, no Rio de Janeiro ou mesmo para quem se forma nos Estados Unidos, na Alemanha, porque os nossos conteúdos estão muito interligados.”

“O IEEE permite que a gente fique bastante alinhado com as tendências mundiais, quer seja quanto ao mercado, quer seja quanto à área acadêmica. Isso acaba ajudando a fomentar a formação dos alunos dentro de alguns paradigmas, para avançar nesse desenvolvimento científico na área de engenharia elétrica”, destaca sobre a sociedade que conta com mais de 400 mil sócios. 

Desafios da pesquisa

Entendendo que educação pública e de qualidade é fruto de investimento e colaboração, o pesquisador compartilha dos desafios que são enfrentados de modo geral pelos cientistas do país: “Não é fácil. Muitas vezes a gente tem que buscar recursos na iniciativa privada, em agências de governo, e não é uma coisa simples de conseguir. Na maioria das vezes existe uma desconfiança geral de que esses recursos não vão ser bem usados, o que não é verdade.”

“Uma coisa que é muito difícil no Brasil é criar a cooperação. As pessoas aqui ainda não compartilham muito o conhecimento, e é muito difícil criar redes colaborativas”, lamenta o docente. Como um dos propósitos dessa série é justamente estimular todas as gerações de cientistas, o docente deixa um recado para quem está começando a carreira: “ter fé, força de vontade e seguir em frente. Os resultados não são imediatos. Tenham paciência e se planejem, olhem pro futuro e planejem onde querem ir e tracem os passos para chegarem naquelas posições que querem alcançar.”

Confira as outras reportagens da série:

Botânica em movimento: a jornada científica de Fátima Salimena

As ciências do corpo ganham forma nas pesquisas de Maria Elisa Ferreira