Atenta aos desafios para adaptar o acompanhamento de pacientes idosos aos protocolos de biossegurança impostos pela pandemia de Covid-19, a equipe da Liga Acadêmica de Neurociências (LANC) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) desenvolveu uma pesquisa sobre a utilização de tecnologias de telecomunicações para o treinamento cognitivo de pessoas idosas em instituições de longa permanência. O estudo foi premiado na edição de 2021 da Alzheimer’s Association International Conference (AAIC), sediada em Denver, nos Estados Unidos.

Orientado pela professora do Departamento de Psicologia da UFJF, Nádia Shigaeff, e apresentado pela estudante Larissa Scoralich na AAIC, o estudo pode ser considerado pioneiro no sentido de avaliar o impacto do treinamento cognitivo realizado remotamente com pessoas idosas. A equipe aponta que, embora o estudo não tenha constatado, estatisticamente, diferenças cognitivas significativas, foi possível observar que, qualitativamente, os participantes do estudo apresentaram maior disposição e comunicação, além de um nível de atenção melhorado. Sendo assim, são necessários mais estudos para validar o treinamento cognitivo remoto como uma estratégia eficaz.

“Os resultados podem ser interpretados como se o treinamento cognitivo remoto contribuísse para proteger o desempenho cognitivo de uma piora”, Larissa resume em apresentação da AAIC. A pesquisa foi realizada em dois momentos: antes do início do treinamento cognitivo e após cinco meses decorridos do treinamento. Ao todo, doze participantes participaram do estudo, todos residentes de uma instituição pública de longa permanência, sendo divididos em três grupos de acordo com o nível de desempenho cognitivo apresentado: cognitivamente preservado, leve comprometimento cognitivo e grave comprometimento cognitivo. 

Para estimular os participantes, os responsáveis pelo estudo criaram, estruturaram e transmitiram uma série de atividades, envolvendo elementos como músicas, contação de histórias e apresentação de materiais para incentivar a memória. “A música, por exemplo, é muito estudada em casos de pacientes com cognição prejudicada; ela acessa uma via que não é verbal e não envolve raciocínio lógico, então acaba acionando a atividade de neurônios em cascata. É impressionante ver a resposta nos pacientes – mesmo os graves, conforme estimulamos, foram ficando mais desenvoltos nas falas, conseguiam ficar mais focados, portanto, a atenção melhorou”, explica Nádia Shigaeff. 

Ao longo das atividades desenvolvidas pelos pesquisadores, os idosos passaram por ferramentas de avaliação cognitiva, além da sintomatologia de depressão – ou seja, uma análise do conjunto de sinais e sintomas observados durante as sessões. Caso constatadas alterações expressivas de humor, a equipe encaminhava os participantes para os atendimentos específicos necessários. 

Ao avaliar os resultados obtidos pelo estudo – estatisticamente não significativos, porém qualitativamente positivos em relação à disposição e à comunicação dos idosos –, as pesquisadoras apontam que um número maior de sessões junto aos participantes poderia ter apresentado resultados mais expressivos, além da aplicação de um intervalo menor entre as intervenções e as avaliações dos grupos. A equipe reforça que são precisos mais estudos para validar a eficácia do treinamento cognitivo remoto junto a idosos. 

Premiação
Em julho deste ano, a pesquisa “Cognitive training in institutionalized older adults using telecommunication technology during social isolation” foi aprovada para compor a programação da Alzheimer’s Association International Conference (AAIC). A estudante responsável pela apresentação, Larissa Scoralich, foi premiada com uma travel fellowship que cobriu os custos da viagem para apresentar o trabalho em Denver, nos Estados Unidos, onde aconteceu a conferência. “Ficamos muito orgulhosos por ter a oportunidade de representar nossa Universidade e pesquisa no exterior, e agradecemos imensamente a oportunidade de pesquisa, extensão e ensino oferecida pela UFJF”, diz a estudante, em nome da Liga Acadêmica de Neurociências.

Outras informações:
Site da Liga Acadêmica de Neurociências da UFJF
Cognitive training in institutionalized older adults using telecommunication technology during social isolation