Nathan_Barros_professor_PPG_Ecologia_UFJF__Foto_Twin_Alvarenga_UFJF

Professor da UFJF, Nathan Barros, único representante brasileiro no encontro. (Foto: Twin Alvarenga)

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mais importante órgão ambiental internacional relacionado ao clima, realizou na Austrália, em abril desse ano uma força tarefa com especialistas mundiais para Avaliação Técnica do Guia para inventários nacionais de gases de efeito estufa (GEE). Os especialistas foram reunidos em quatro principais áreas definidas previamente pelo IPCC: “Emissões por áreas alagadas”; “Fontes não identificadas de perfluorcarbonos”; “Emissões pelo solo” e “Uso do solo”. Entre os convidados pelo IPCC para esta força tarefa, esteve o professor da UFJF, Nathan Barros.

Barros atuou junto de outros 17 pesquisadores no grupo de trabalho “Emissões por áreas alagadas”. Como áreas alagadas entende-se reservatórios para diversos fins, tanques de pisciculturas, canais de águas e todos os outros ambientes com armazenamento de água criados pelo homem. O grupo foi reunido com o objetivo de responder uma pergunta: existem dados científicos disponíveis no mundo para a inclusão das áreas alagadas nos inventários globais de emissões de GEE? Após dois dias discutindo dados e pesquisas relacionados ao tema, produzidos por diversos países, os especialistas concluíram que os impactos causados por essas áreas alagadas são relevantes, e documentado o suficiente para ser incluído no âmbito do IPCC.

“Já era sabido do impacto desses ambientes como emissores de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), mas, até então, esses números não eram incluídos nas avaliações do IPCC por se acreditar não haver dados suficientes para todos os continentes. A partir desse encontro, nós concluímos que já existem pesquisas suficientes para que essas emissões possam ser contabilizadas nos futuros inventários nacionais de emissões de GEE”

Nas próximas reuniões, programada para esse ano, o IPCC determinará os fatores de emissão para cada zona climática do mundo. Conforme o professor, a localização geográfica pode influenciar diretamente na quantidade de gases do efeito estufa emitidos pelas áreas alagadas, devido ao volume de biomassa disponível e à temperatura em que esse material orgânico se decompõe. Dessa forma, por exemplo, um lago na Amazônia (região de clima tropical) tende a causar maior impacto na atmosfera que outro lago no Canadá (região de clima temperado).

Nathan Barros, que leciona no Instituto de Ciências Biológicas da UFJF desde 2014 para o curso de medicina veterinária, é autor de diversos trabalhos sobre o tema e alerta para o impacto dessa mudança para os modelos globais de ciclagem de carbono e para as metas de diminuição das emissões globais de GEE.

“Até muito pouco tempo os ambientes aquáticos de água doce eram considerados apenas dutos que carregavam o carbono produzido no solo para o oceano. Recentemente, os lagos foram incluídos no cenário global de ciclagem de carbono. A inclusão de áreas alagadas no contexto do IPCC é um primeiro passo para que ambientes de água doce construídos pelo homem possam também ser incluídos nos modelos globais de ciclagem de carbono. Existe também um impacto na redução das emissões de GEE acordado na cúpula da ONU sobre desenvolvimento sustentável. Vários países do mundo, inclusive o Brasil, assumiram com a ONU, um compromisso de reduzir suas emissões de GEE até 2030 aos níveis de emissão de 1990. Se for concretizada a inclusão de áreas alagas nos inventários de emissões de GEE este compromisso pode vir a ser revistos uma vez que em vários países a emissão por áreas alagadas pode ser comparável a outras fontes emissões de GEE.

Para saber mais:

Iniciativa Verde

Science Direct

www.nature.com

www.iopscience.iop.org