O Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) realiza na próxima sexta-feira, dia 12, às 19h,  a transmissão ao vivo “Pesquisadora-sapatão ou sapatão-pesquisadora?”.  O encontro virtual, no Instagram, integra as iniciativas do Gesed, sob coordenação dos professores Anderson Ferrari e Roney Polato, para celebrar o Mês do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexos (LGBTI).  

Confira a programação completa aqui e siga o Gesed no Facebook e Instagram.

Professora da UFMT, Bruna Irineu, é a convidada para live do Gesed nesta sexta, dia 12 (Foto: arquivo pessoal)

Na live desta sexta-feira, 12, a convidada do grupo de pesquisa é a professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e atual presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (ABEH), Bruna Irineu

Em entrevista ao Portal da UFJF, a pesquisadora falou sobre a produção científica acerca das lesbianidades, a relevância da análise interseccional e os desafios na ABEH.

Confira abaixo a entrevista completa:

Portal da UFJF – Comente, por favor, acerca da produção acadêmica brasileira na atualidade no campo das relações de gênero e sexualidade com foco nas lesbianidades.

“A produção sobre lesbianidades tem se ampliado nos últimos cinco anos” – Bruna Irineu

Bruna Irineu – A produção sobre lesbianidades tem se ampliado nos últimos cinco anos, especialmente com os volumes do “Lesbianidades Plurais”, na editora Devires, organizados por Simone Brandão, Thais Faria e Mayana Rocha, e da publicação dos dossiês da “Cadernos de Gênero e Diversidade (UFBA)”, “PeriodiCUS” (UFBA) e “REBEH” (UFMT). Recentemente também foi publicado o “Dossiê do Lesbocídio”, coordenado por Milena Carneiro e o catálogo “Lésbicas que Pesquisam”, iniciativas de jovens pesquisadoras que têm oxigenado a comunicação em pesquisa com dados centrais publicizados, utilizando redes sociais, além da iniciativa do “Grupo Gir@” da UFBA, que criou um curso online chamado Pensamento Lésbico e que já formou mais de 300 cursistas, utilizando textos centrais para o campo das lesbianidades.

Portal da UFJF – De modo geral, os estudos acerca das lesbianidades no Brasil consideram outros marcadores sociais, como raça, classe, identidade de gênero, geração? Na sua avaliação, qual a relevância da análise interseccional?

“As leituras de Audre Lorde, Angela Davis, Ochy Curiel, Cherrie Moraga, Glória Alzandua são muito caras aos nossos estudos” – Bruna Irineu

Bruna Irineu – Considero que os estudos lésbicos no Brasil tem uma forte característica interseccional, raros são os textos que recebemos na “REBEH”, por exemplo, que não  operam com pelo menos mais um ou dois marcadores sociais da diferença. As leituras de Audre Lorde, Angela Davis, Ochy Curiel, Cherrie Moraga, Glória Alzandua são muito caras aos nossos estudos, isso mostra que o campo não trabalha com a dimensão exclusiva do gênero ou da sexualidade, e diz muito mais do que o fator interseccionalidade ser fundamental, pois reafirma que as lésbicas racializadas são centrais para o estudo das lesbianidades.

 “Nosso campo de estudos avança, fundamentalmente, quando ratificamos as lutas antirracistas, apoiando e construindo formas de enegrecer a universidade” – Bruna Irineu

Na condição de uma lésbica branca que dispõe de um lugar de privilégio racial e de classe social, sendo docente de uma universidade pública, posso dizer que nosso campo de estudos avança na medida que essas produções partilham da interseccionalidade, mas fundamentalmente quando ratificamos as lutas antirracistas, apoiando e construindo formas de enegrecer a universidade, na luta por cotas estudantis e por cotas nos concursos públicos, pois não é mais possível qualquer instituição de poder em um país como Brasil não possuir em seus quadros profissionais, negros e negras, assim como povos indígenas.  

Portal da UFJF – Você preside atualmente a Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (ABEH). Conte-nos, por favor, sobre a importância da ABEH para a consolidação dos estudos da Homocultura.

Bruna Irineu – A ABEH, que já teve um biênio na UFJF sob presidência do professor Anderson Ferrari, elegeu pela primeira vez desde sua criação em 2001, uma presidente lésbica. Há muitos desafios para a pluralização da associação, pois ela também reflete o campo dos estudos LGBTI como um todo. Do desencontro de gênero com a homossexualidade nos anos de 1980 e 1990 ao entrecruzamento destes temas, operando com ausências de outros marcadores sociais, até o momento atual de esforços para construção de estudos interseccionais, a ABEH produz e reproduz o campo. Sua atuação junto às pesquisadoras sempre esteve em torno do Congresso, mas as últimas avançaram ao ocupar conselhos nacionais de políticas públicas, criar revistas e consolidar publicações para além do congresso. A atual gestão está se dedicando a construir conteúdos audiovisuais, que versam sobre temas atuais e também sobre a memória da associação.

“Há muitos desafios para a pluralização da associação, pois ela também reflete o campo dos estudos LGBTI como um todo” – Bruna Irineu

Toda segunda-feira temos feitos live com pesquisadores/as de todo Brasil, temos apoiado a construção de um conselho popular LGBT após a extinção do Conselho Nacional LGBT pelo governo Bolsonaro, temos construído notas com posturas críticas às regressões de direitos, nos somando a outras sociedades científicas, temos somado forças na construção para junho de festivais virtuais do orgulho e organizado conteúdos mais contínuos nas redes sociais da ABEH. Vejo como uma estratégia importante de fortalecer o papel da ABEH para além do Congresso, ainda que tenhamos proporções pequenas no número de filiados/as, temos nitidez ao afirmar que a ABEH tem buscado desenvolver suas funções operando como outras associações acadêmicas.

Portal da UFJF – Neste contexto de excepcionalidade em virtude da pandemia de Covid-19, como se dará a programação de eventos acadêmicos da ABEH? 

Bruna Irineu – Estamos estudando as condições sanitárias e socioeconômicas para realização do evento este ano. E evidencia-se uma possibilidade de adiarmos para maio de 2021, o que também não podemos afirmar hoje, já que especialistas consideram uma segunda onda de contaminação para o início do próximo ano. A diretoria da ABEH certamente se dedicará a construir alternativas para realização do evento, mesmo que virtuais. Assim que definirmos isso, comunicaremos em nosso website: www.abeh.net.br

Portal da UFJF – Há alguma questão que você considere importante acrescentar?

Bruna Irineu – Não.

Outras informações: imprensa@comunicacao.ufjf.br