Professor Anderson Ferrari conduz diálogo sobre gênero e inclusão com alunos do 8º ano (Foto: Marcella Victer)

“Não se nasce mulher, torna-se mulher. Da mesma forma, não se nasce homem, também se torna.” Parafraseando Simone de Beauvoir, um dos maiores expoentes da teoria feminista, o professor Anderson Ferrari, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed) da Faculdade de Educação, inspira os alunos do 8° ano da Escola Municipal José Calil Ahouagi a refletirem sobre como as questões de gênero e sexualidade influenciam o cotidiano de cada um.

O encontro, realizado na última quinta, 16, faz parte do projeto de extensão “A ciência que fazemos”. A iniciativa leva pesquisadores da UFJF até escolas da rede pública com o objetivo de humanizar a figura do cientista e trazer para perto dos alunos o processo científico em diversas áreas do conhecimento.

Guerra dos sexos?

Meninos a esquerda e meninas à direita: essa era a organização que os alunos e alunas escolheram ao se sentarem nas cadeiras dispostas em um círculo no centro da sala. Essa aparente divisão se expressava também nas falas dos alunos. “As meninas não sabem jogar futebol”, afirmavam os meninos com orgulho. Em meio à manifestação vocal das meninas, a professora de Ciências da turma, Letícia Tavares, questiona: “Mas como elas vão saber jogar se vocês não deixarem elas jogarem com vocês? Se vocês não darem chance para elas aprenderem?”

Estudantes da Escola Municipal José Calil Ahouagi participam do projeto de extensão “A ciência que fazemos” (Foto: Marcella Victer)

Ferrari explica que os papéis desempenhados pelos gêneros não são natos, são ensinados. “Meu pai era vascaíno e fez um trabalho para que os três filhos também torcessem para o mesmo time. Eu e meus irmãos não nascemos vascaínos”, exemplifica. Desde a preferência por presentear meninas com brinquedos que remetem ao cuidado e aos meninos objetos que instigam a criatividade, imaginação e a agressividade, até a forma como esses papéis são abordados na mídia, nos filmes e nas redes sociais e em instituições como a família, igreja e na escola, “o gênero vai organizando a nossa forma de estar no mundo e a forma de nos relacionar com os outros”, esclarece Ferrari.

“A ciência surge de uma inquietação”

“Quando eu tinha a idade de vocês eu sofria bullying por ser gay e eu não entendia aquilo”, conta Ferrari à turma. “A ciência surge de uma inquietação. Queremos entender porque as coisas acontecem”. De acordo com Letícia, projetos como o “A ciência que fazemos” levam novos olhares e pensamentos para dentro da escola, ampliando o mundo e os sonhos dos alunos. “O projeto desmistifica o papel do ‘cientista’ e os estudantes podem se ver nesse lugar de saber e questionamento”, afirma a professora.

Outras informações:

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