Uma pesquisa, organizada por um dos alunos do curso de Especialização em Relações de Gênero e Sexualidades: perspectivas interdisciplinares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pretende coletar dados sobre as violências contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queer e intersexos (LGBTQI+) no município de Juiz de Fora. 

O estudante, idealizador da iniciativa e investigador da Polícia Civil, Cleber Giliard Rodrigues Miranda, explica que o objetivo é “identificar se há demanda dessa população para a criação de um núcleo de atendimento específico na Polícia Civil do município, ou seja, de um Núcleo de Atendimento  e Cidadania LGBTQI+ .”

A identidade dos entrevistados será preservada e o tempo médio de resposta é de dez a 20 minutos.  Acesse e responda ao questionário neste link.

“Os LGBTI+ não têm um lugar específico para procurar em caso de violência e são, normalmente, orientados a ir a uma delegacia comum, de área, como chamamos. Se for uma lesão corporal, será atendida como uma lesão corporal ‘comum’.  E, na verdade, essa lesão corporal pode ter como motivação a LGBTIfobia. A importância desse Núcleo é tratar a real causa da violência, tratar a LGBTIfobia em si, buscar punição para os autores, para que não se repita. Acredito que essa comunidade muitas vezes nem vá registrar violências por conta do temor de ser destratada, de ser revitimizada. O Núcleo poderá acolher essas pessoas”, avalia Miranda.   

Direitos LGBTI+

Cleber Miranda é aluno da Especialização em Relações de Gênero e Sexualidades (Foto: Arquivo pessoal)

Cleber Miranda é natural de Belo Horizonte, graduado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e investigador da Policial Civil desde 2009. Ele relata que a ideia de criação de um Núcleo de Atendimento  e Cidadania LGBTQI+ surgiu durante participação em conferência sobre os direitos dessa comunidade. 

 “No ano de 2012, 2013, eu participava daquelas conferências estaduais de direitos dos LGBT+ . Numa dessas conferências, realizada em Belo Horizonte, eu tive contato pela primeira vez com um Núcleo de Apoio ao Cidadão LGBTI+ da capital. Eu conheci uma investigadora de polícia que me contou sobre o projeto e  achei super interessante. Quando vim trabalhar em Juiz de Fora, em 2013, na Delegacia da Mulher, tive interesse em trazê-lo para cá, mas não foi para frente.”

Especialização em Relações de Gênero e Sexualidades

Segundo Miranda, a participação na Especialização em Relações de Gênero e Sexualidades: perspectivas interdisciplinares foi fundamental para que o projeto prosperasse.  O estudante conta que procurou pelo curso visando aprimorar a sua atividade profissional na Delegacia da Mulher, local no qual está lotado desde 2013.

“A importância desse Núcleo é tratar a real causa da violência, tratar a LGBTIfobia em si, buscar punição para os autores, para que não se repita” – Cleber Miranda 

“A especialização  vai me marcar para sempre, porque trouxe muitas questões importantes. O curso começou a despertar de novo o meu desejo de trazer esse Núcleo para cá. Vamos estudando as questões LGBT+, as violências, e percebemos que não há em Juiz de Fora um lugar para as pessoas LGBT+ se protegerem, denunciarem, recorrerem. Então, achei que era o momento de tentar fazer isso agora. A ideia foi bem aceita na instituição e a Delegacia Regional já autorizou a coleta de dados”, explica.

Para o coordenador e professor da Especialização, Roney Polato, a iniciativa demonstra a relevância do curso, que tem corpo docente interdisciplinar e também estudantes de diversas áreas. “Nós do corpo docente acreditamos que esta é a primeira iniciativa na UFJF com esse tema. A partir da proposta interdisciplinar do curso e com o vínculo com diferentes áreas temáticas e profissionais, alunos e alunas constroem possibilidades de pensar a atuação profissional nos seus diferentes campos. Cleber fez isso na área dele, como policial civil, na Delegacia da Mulher, assim como outros estudantes fizeram outras vinculações. O curso fomenta o debate de questões invisibilizadas tanto no âmbito acadêmico como fora dele, impactando o meio social.”        

III Semana Rainbow da UFJF: coleta de dados presencial  

Além do meio digital, a coleta de informações para o projeto do Núcleo de Atendimento e Cidadania LGBTQI+ de Juiz de Fora também será realizada de forma presencial até o dia 14 de julho, durante o “Esquenta Semana Rainbow”  e  entre 7 e 18 de agosto,  quando acontece a “III Semana Rainbow da UFJF”.

“Esse projeto é de extrema importância. Juiz de Fora precisa desse núcleo de atendimento, precisa dessa ação. Nesses dias do ‘Esquenta Rainbow’, Cleber estará com questionários para serem preenchidos, para conseguir dados que embasem a abertura desse núcleo”,  destaca o professor do Departamento de Turismo e coordenador da Semana Rainbow, Marcelo do Carmo.  

“É fundamental aproveitarmos essa coleta de dados para publicizarmos os atos lgbtfóbicos em Juiz de Fora” – Professor Marco Duarte

Cleber Miranda acrescenta que “foi na disciplina ‘Homossexualidades, turismo e festividades’, ministrada por Marcelo do Carmo, que a criação do Núcleo ganhou fôlego. Foi um projeto de conclusão dessa disciplina e, em seguida, o professor Marcelo contatou o professor Marco Duarte, da Faculdade de Serviço Social, e coordenador do Observatório da Diversidade Sexual e de Gênero (Diverse). Esses apoios estão fortalecendo a iniciativa.”

O professor da Faculdade de Serviço Social e coordenador do Diverse, Marco Duarte, destaca que a proposta é integrar os projetos.  “ O Observatório está estruturando um Polo de Referência e um Centro de Referência LGBTI+ em Juiz de Fora. Nesse sentido, a importância do Núcleo de Atendimento  e Cidadania LGBTQI+ (NAC), enquanto projeto ainda, para ser justificada do ponto de vista de uma real e concreta demanda do público LGBTI+. É de suma importância. Sabemos que a maioria das pessoas que passam por uma violência lgbtfóbica não vão a nenhum espaço, simplesmente porque não tem espaço. Por isso, nasce o Polo LGBTI+, com essa materialidade,  como espaço de acolhimento, atendimento e suporte. Na medida em que o NAC, a partir do Cleber, está conosco, é importantíssimo. É fundamental aproveitarmos essa coleta de dados para publicizarmos os atos lgbtfóbicos em Juiz de Fora.”

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