Germana Barata, do Labjor da Unicamp, foi uma das convidadas do 6° Fala Ciência (Foto: Maria Otávia Rezende)

Jovens protagonizando vídeos no Youtube, anedotas contadas em tirinhas, conversas descontraídas que você pode ouvir a qualquer momento, postagens em redes sociais – todos esses cenários têm em comum, por mais improvável que possa parecer, a possibilidade da divulgação da ciência. Para responder as questões sobre como falar – e disseminar – o conteúdo científico, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) recebeu o 6° Fala Ciência, promovido pela Rede Mineira de Comunicação Científica.

O evento aconteceu nesta quinta-feira, 22, e reuniu cerca de cento e cinquenta pessoas — entre jornalistas, pesquisadores e outros curiosos — para compartilhar suas experiências como divulgadores e debater as várias maneiras de cativar as pessoas em relação à ciência.

Para a vice-reitora Girlene da Silva, a ciência é uma das formas da universidade resistir a desafios (Foto: Maria Otávia Rezende)

“A ideia do conhecimento guardado nos laboratórios foi superada”
Inaugurando a programação, os componentes da mesa de honra do evento apontaram a importância do trabalho conjunto dos diversos setores da Universidade para fortalecer a comunidade científica e aproximar a Academia da sociedade. “A ideia do conhecimento guardado nos laboratórios foi superada. A UFJF aceitou o desafio de fortalecer todos os seus eixos, da Pesquisa e Extensão até a Cultura e Divulgação Científica. É através desse trabalho que a Universidade Pública irá resistir aos desafios que vêm pela frente, fazendo ciência que impacte na redução das desigualdades”, defendeu a vice-reitora da Universidade, Girlene da Silva.

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A construção de um sonho
A primeira apresentação do Fala Ciência foi conduzida pelo diretor do Centro de Ciências, Eloi Teixeira, e pela diretora de Divulgação Científica do Instituto Serrapilheira,  Natasha Felizi. A conversa foi mediada pela pesquisadora e divulgadora, Zélia Ludwig. “As coisas funcionam melhor quando a gente trabalha junto”, começou o professor Eloi, contando a história da criação do Centro de Ciências, ainda em 2006.

Nascendo em um galpão no antigo Parque Científico e Tecnológico da UFJF (Partec, anexo ao Colégio de Aplicação João XXIII) com quase nenhum equipamento, o Centro foi aos poucos — e com a colaboração de diversos bolsistas e professores — tomando forma, até chegar ao seu novo espaço, considerado um dos complexos de divulgação científica mais completos do Brasil, inaugurado em 2017. Natasha, por sua vez, explicou a criação e o funcionamento do Serrapilheira, instituto privado dedicado a apoiar iniciativas inovadoras de pesquisa e divulgação científica. “Temos que mostrar a diversidade do que é ser cientista. No Serrapilheira, procuramos divulgadores que tenham rigor no método científico e na linguagem, combinado à informalidade e criatividade”, explicou a diretora.

Zélia, uma das selecionadas para o primeiro edital público para divulgadores do Serrapilheira, conduzindo a conversa com bom humor e desenvoltura, comentou sobre sua jornada entre pesquisadora e divulgadora científica. “Uma das melhores coisas desse trabalho é que formamos uma rede entre esses novos divulgadores. É importante destacar, também, o surgimento desses institutos de fomento privados, que vêm inovando o campo e complementando os órgãos públicos.”

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Questionada pela audiência sobre qual a forma mais eficiente de comunicar a ciência, Natasha respondeu: “Não existe uma fórmula. Mas a divulgação científica eficiente é sempre comprometida com o diálogo e preocupada com as pessoas, além de atenta às diferenças entre elas.”

“Precisamos fazer mais do que produzir informações”
“Precisamos nos encontrar mais. No atual cenário mundial, onde a ciência vem sendo colocada à prova, precisamos fazer mais do que produzir informações. Temos que engajar o público, tocar as pessoas”, defendeu a pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor – Unicamp), Germana Barata, no início de sua apresentação, mediada pelo pesquisador do departamento de Química da UFJF, José Guilherme Lopes.

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Abordando sua experiência no Labjor, Germana falou sobre a importância de trabalhar linguagens adequadas às redes sociais, ocupando espaços (até então) repletos de informações falsas: “temos que sair da nossa zona de conforto”. Trabalhando no mapeamento de divulgadores no Canadá, onde vêm realizando pesquisas, a professora ressaltou ainda a necessidade da Academia reconhecer outras métricas para avaliar pesquisadores. “Existem várias formas de impacto da ciência, além da citação em artigos. Muitas vezes, uma pesquisa ser noticiada nos jornais ou utilizada na criação de políticas públicas é igualmente(ou ainda mais) capaz de alterar as realidades. Isso precisa ser reconhecido.”

Familiarizar o estranho e estranhar o familiar
Encerrando a programação do Fala Ciência, foi a vez da mesa redonda com as presenças da podcaster e demonologista Tupá Guerra, do cartunista Marco Merlin (ambos colaboradores do portal Dragões de Garagem) e dos youtubers Lucas Miltre e Vinícius Marangon, com mediação da jornalista Laís Cerqueira.

Conciliando informação e entretenimento, os participantes falaram sobre as plataformas possíveis para divulgar a ciência e comentaram sobre a importância de trabalhar linguagens e temas atraentes para o público. Após Lucas Miltre descrever para a plateia um vídeo que produziram com uma câmera de super câmera lenta, ainda que sem um conteúdo puramente científico, Vinícius Marangon emendou: “Uma pessoa que assiste a esse tipo de conteúdo — mesmo sem muita preocupação em aprender alguma coisa, só porque é divertido — recebe a informação. E ela pode sair do grupo de WhatsApp, do Facebook dela com um conhecimento e uma consciência diferente, que enriquece a nossa ciência do dia a dia.”

Já Tupá Guerra explicou seu trabalho no podcast Dragões de Garagem, destacando a praticidade de produção e disseminação desse formato de conteúdo. “Nós temos que nos preocupar não só com o que acreditamos que a população precisa saber, mas também com o que as pessoas querem saber e em como elas querem saber. A sociedade não vai apoiar a ciência e o cientista se ela não entende o que a gente faz.”

Falando sobre a produção de seus quadrinhos, que combinam (e, às vezes, confrontam) situações cotidianas com conhecimento científico, Marco Merlin ponderou que “a gente só consegue tocar as pessoas quando elas se sentem de alguma forma representadas, ou sentem que aquilo não é tão distante do universo delas.”

“Então é essa a sugestão que eu tenho para quem faz ciência… não apenas dizer o que é feito, mas fazer as pessoas se enxergarem dentro desse conhecimento. Sentirem que a ciência é, também, o mundo delas, não só do mundo abstrato, ou do laboratório.”

Ao fim do evento, o pesquisador e youtuber Lucas Miltre convidou os presentes a se juntarem para registrar o evento (Foto: Lucas Miltre)

Momento crucial
A diretora de Divulgação Científica da UFJF e organizadora do evento, Bárbara Duque, explicou que o Fala Ciência foi pensado para apresentar diferentes possibilidades de comunicação, “reunindo pesquisadores da área, jornalistas, podcaster, youtubers e cartunista. Além de contribuir com a formação de novos divulgadores, tivemos a oportunidade de abordar a importância e o estágio da divulgação da ciência no país.”

“O Brasil vivencia um momento crucial para a produção do conhecimento, com um crescimento tanto na quantidade, quanto na qualidade das pesquisas. Mas, apesar disso, a sociedade ainda está distante desse processo. Para democratizar esse conhecimento e seus benefícios, é fundamental que a comunidade científica se mobilize. É importante que professores pesquisadores e estudantes se comprometam com a divulgação da ciência que produzem”, concluiu.