Buscando repercutir os assuntos tratados em sala de aula e abrir espaço para a produção dos alunos, a Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) inaugurou a primeira intervenção artística em suas instalações. A pintura está instalada na rampa de acesso ao segundo andar e foi selecionada a partir de edital aberto no ano passado como ação da Comissão de Ocupação da Faced.
As propostas de intervenção poderiam partir de uma ou mais pessoas vinculadas à faculdade, estando aptos alunos matriculados em disciplinas da Faced, professores efetivos, substitutos, técnico-administrativos ou pessoas vinculadas aos núcleos ou grupos de pesquisa da unidade. O tema da proposta deveria guardar relação com os assuntos ou as discussões desenvolvidas em disciplinas e estar de acordo com as questões da diversidade, dos direitos humanos e com os princípios da instituição pública.
O professor Francione Carvalho esteve à frente do projeto, que “tem sua importância não só no fato de utilizar os espaços da Universidade para debater questões relevantes e atuais mas, ao mesmo tempo, valorizar a produção dos alunos”. Ele também é membro da Comissão de Ocupação da Faced e destaca que “a iniciativa foi nossa, mas a demanda de ocupar os espaços da faculdade surgiu dos alunos”.
O projeto selecionado no edital foi criado pelo Coletivo Descolônia, grupo formado por estudantes negros do Instituto de Artes e Design (IAD) interessados em produzir e pesquisar sobre Arte Afrocentrada e que questionavam a escassez da temática no currículo de seus cursos de graduação. Composto em sua maioria por alunos cotistas, teve início em maio de 2017 com a criação de produções artísticas que discutiam a temática e, desde então, realiza mesas e rodas de conversa para criar um espaço de fortalecimento e resistência frente a desafios impostos pela sociedade, como o racismo e a intolerância.
O painel, feito nas paredes do acesso à rampa da Faced, aborda elementos da visualidade afro-brasileira e foi realizado pelos artistas Renata Dorea, Matheus Assunção, Maré e Andressa Silva. Assunção é aluno do IAD e afirma “ser essencial que os estudantes possam intervir neste espaço artisticamente, principalmente as minorias, que compõem esses locais por meio de muita luta pessoal e coletiva.” Segundo ele, essa é uma maneira de tornar os espaços mais inclusivos e humanizados, apontando que os princípios que determinamos para um espaço ser o mais funcional e “limpo” possível não permitem que certos grupos se manifestem como sujeitos ativos desses locais. E completa: “é necessário discutir todos os espaços da Universidade” e faz um convite para que as pessoas pensem sobre o quão racista são nossos espaços físicos.
O edital de seleção das propostas foi aberto no fim do ano passado e dava ao vencedor o custeio dos materiais necessários para execução da obra. Como o mural tomaria lugar na rampa de acesso, esperou-se um período de inatividade da faculdade para viabilizar sua instalação. Francione comenta, ainda, que o painel é a materialização de “um tema cada vez mais presente na Universidade, não somente pelas ações institucionais, mas por conta dos próprios alunos que demandam e trazem essas discussões para dentro do campus”. Diante do resultado, afirma que outros espaços da unidade acadêmica também serão disponibilizados para realização de intervenções em futuros editais.
Outras informações: (32) 2102-3653 – (Faculdade de Educação)