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Trabalho recebeu prêmio de melhor em sua categoria em congresso na USP (Foto: Twin Alvarenga)

Você sabia que seu olho diz mais sobre seu estado mental do que você imagina? A relação entre a perda neural na retina e o Alzheimer foi estudada pelos professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Leonardo Provetti Cunha, responsável pela pesquisa, Ana Laura Maciel Almeida e Leopoldo Antonio Pires. O estudo se destacou no 18º Congresso de Oftalmologia da USP, recebendo o prêmio de melhor trabalho na categoria geral.

Provetti conta que “a retina tem diversas camadas, que podem ser medidas pela Tomografia de Coerência Óptica (OCT), e a mais interna delas é formada por neurônios, denominada células ganglionares da retina. Daí surgiu a ideia do estudo: se o Alzheimer afeta os neurônios do Sistema Nervoso Central, será que esses presentes na retina também são afetados? Essa foi nossa proposta”. O exame, feito de forma rápida e não invasiva, é como se fosse uma “foto” do fundo do olho. Ele permite a obtenção de imagens de alta qualidade, que podem ser usadas para adquirir um grande volume de informações.

Segundo Provetti, o estudo tem diversas aplicações. “Em primeiro lugar demonstra que os pacientes com o diagnóstico do Alzheimer apresentam alterações nos neurônios da retina”, aponta. Atualmente, existem duas formas de avaliação para descobrir a doença: a cognitiva e os exames de tomografia ou ressonância do cérebro. “Portanto, os nossos resultados sugerem que o OCT pode ser uma ferramenta muito útil no diagnóstico, assim como no acompanhamento da doença”, completa.

Detectar o avanço da doença pelas formas de diagnóstico atuais ainda apresenta algumas limitações. Por exemplo, é difícil quantificar a extensão dessa mudança pelas respostas do paciente a questionários que avaliam o estado mental, pois a resposta a estes testes pode ser bastante variável. Esse exame possibilitará o acompanhamento e comparação dos resultados dos pacientes ao longo do tempo, permitindo entender melhor como a doença funciona e como ela avança.

Descobertas

(Foto: Twin Alvarenga)

Conforme o professor Leonardo Provetti a doença afeta também o neurônio da retina e, consequentemente, o nervo óptico (Foto: Twin Alvarenga)

O grupo fez um achado inédito: “No início, achava-se que o problema visual em quem tem a doença de Alzheimer era porque o cérebro estava afetado e, durante muito tempo, todo mundo acreditou nisso. O paciente falava, enxergava e andava mal e atribuía isto ao comprometimento no cérebro. Mas acreditamos que a resposta para este achado possa ser um pouco mais complexa, pois estes pacientes apresentavam um acometimento no fundo do olho. A doença afeta também o neurônio da retina e, consequentemente, o nervo óptico”, explica.  “Nós tivemos a felicidade de ser o primeiro grupo a conseguir demonstrar esta alteração em pacientes, ainda em vida, com doença de Alzheimer”.

O próximo desafio é o estudo com pacientes que apresentam déficit cognitivo leve, o chamado pré-Alzheimer. “Embora eles ainda não tenham o Alzheimer, queremos avaliar se estas alterações, mesmo que discretas, também já estão presentes. Também buscamos entender como a doença evolui no fundo de olho, encontrar marcadores que possam demonstrar sinais de progressão. Isso permitiria identificar a doença em uma etapa muito precoce e auxiliar no tratamento”, conclui Provetti.

Metodologia

Os pacientes deveriam atender a uma série de exigências. Além de ter pelo menos 65 anos e serem diagnosticados com a doença de Alzheimer, também era pedido um exame de ressonância ou tomografia prévia. O objetivo era atestar que o paciente não tinha nenhuma outra doença neurológica, exceto o Alzheimer, pois isso poderia influenciar os resultados. “Também observamos se existia alguma doença concomitante, como diabetes ou hipertensão, pois elas também provocam alterações no olho. O cuidado foi grande, pois queríamos avaliar apenas a alteração induzida pelo Alzheimer”, completa Provetti.

Os selecionados para o estudo também passavam por um exame de mini estado mental – teste cognitivo para identificar o estágio da doença. Foram incluídos pacientes em fases diferentes da doença. “Seria mais fácil perceber alterações em estágios avançados e, no caso de estágios iniciais, poderíamos não encontrar nada e comprometer os resultados da pesquisa. Optamos por avaliar pacientes em diferentes estágios da doença.”

Ao todo, 45 olhos, de 24 pacientes, foram testados. Os resultados foram comparados com um grupo controle, que apresentava as mesmas características de sexo e idade, mas sem a doença. Isso foi feito para que os resultados pudessem ser comparados, detectando, ou não, a diferença entre os grupos. Provetti conclui: “estamos animados com os resultados e esperamos que eles possam ser úteis para uma melhor compressão desta doença, que é a principal causa de demência no mundo”.