No mês de janeiro, acontece a campanha Janeiro Roxo, voltada à importância do diagnóstico e tratamento da hanseníase, uma doença ainda cercada de mitos e estigmas. O objetivo é a divulgação de ações e formas de como evitar a doença. O Dia Mundial de Combate e Prevenção à Hanseníase é celebrado no último domingo de janeiro. 

Janeiro Roxo busca informar e prevenir contra a doença, ainda cercada de mitos e estigmas (Foto: Visualhunt)

Segundo o Painel de Monitoramento de Indicadores da Hanseníase no Brasil, divulgado pelo Ministério da Saúde, foram registrados quase 20 mil novos casos da doença no país entre janeiro e novembro de 2023. A Região Nordeste lidera este ranking, com 7.779 registros da doença. Em Minas Gerais, foram 957 novos casos; seis deles em Juiz de Fora. 

Sintomas
A hanseníase é uma doença infecciosa, cujo agente etiológico são as bactérias da espécie Mycobacterium leprae, também conhecida como bacilo de Hansen, em menção ao médico bacteriologista e dermatologista norueguês Gerhard Armauer Hansen (1841-1912), que identificou a bactéria. Daí também se origina o nome da doença. 

De acordo com a diretora da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Angélica Coelho, a hanseníase pode causar danos neurais severos e, em muitos casos, se evidencia no corpo do paciente a partir do surgimento de manchas esbranquiçadas, amarronzadas ou avermelhadas na pele e na redução da sensibilidade térmica, dolorosa e tátil em regiões do corpo. 

As áreas do corpo mais atingidas pela hanseníase são as extremidades das mãos e dos pés, rosto, orelhas, nádegas, costas e pernas. Outros sintomas da doença são sensação de formigamento, fisgada, choque e dormência; perda de pêlos; redução da sudorese no local afetado; redução da força muscular das mãos e dos pés, além de caroços pelo corpo. 

“A evolução da doença ocorre de forma lenta e progressiva, e pode levar a incapacidades físicas, que impactam na qualidade de vida nos âmbitos de atividades de vida diária, socioeconômico, psicológico, e da dor e no bem-estar geral”, afirma Angélica, que também atua como pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Hanseníase da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (Nephans/UFMG). 

Transmissão
A pessoa infectada e que não faz o tratamento pode transmitir a doença por meio do espirro, tosse ou fala. Além disso, o contato muito próximo e prolongado com uma pessoa contaminada contribui para a infecção. As pessoas que carregam muitos bacilos – multibacilares (MB) – constituem o grupo contagiante, mantendo-se como fonte de infecção enquanto o tratamento específico não for iniciado.

De acordo com o Ministério da Saúde, a hanseníase não é transmitida pelo abraço, compartilhamento de pratos, talheres, roupas de cama e outros objetos.

SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza tratamento e acompanhamento nas unidades básicas de Saúde (UBSs). O procedimento usado para tratar a doença é chamado de Poliquimioterapia Única (PQT-U), em que são administrados três antimicrobianos no paciente. O período de tratamento pode variar de acordo com cada caso e os pacientes são acompanhados por profissionais de saúde. A recomendação é que o tratamento seja iniciado logo após o diagnóstico da doença.

Discriminação
A hanseníase continua a ser uma doença estigmatizante no Brasil, levando os pacientes a sofrerem com a discriminação e o preconceito. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBD), o país é o segundo com o maior índice de casos da doença no mundo. Na avaliação de Angélica, baixos investimentos na área da saúde pública e em pesquisas sobre o tema estão entre as causas que explicam a grande incidência da hanseníase no Brasil. 

Segundo a pesquisadora, a falta de profissionais de saúde capacitados e com sensibilidade para lidar com a hanseníase contribui para a manutenção da dificuldade dos serviços de saúde em controlar a doença. “Acredito que a discriminação tem relação com a falta de informação, pois a falta de conhecimento sobre a doença acaba por fortalecer o medo e o estigma que permeia a hanseníase ainda nos dias atuais”, reflete. 

Curso
Um curso de extensão promovido no âmbito da UFJF promove capacitação de profissionais da saúde sobre a hanseníase. O projeto tem o título “Cenários de simulação clínica em hanseníase: capacitação de profissionais da atenção primária à saúde da Superintendência Regional de Saúde de Juiz de Fora”. 

A ação é realizada pelo Núcleo de Estudos em Infecções e Complicações Relacionadas à Assistência à Saúde (Neicas), do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, e pela Liga Acadêmica de Hanseníase (Lahansen), vinculada à Faculdade de Enfermagem.

A intenção é contribuir com as estratégias de redução da doença, por meio de ações educativas e capacitações que favorecem o diagnóstico oportuno e a redução do estigma. A busca ativa de novos casos e o incentivo à pesquisa também são promovidos pela iniciativa. 

A demanda relacionada ao curso surgiu a partir do trabalho realizado pelo Grupo de Trabalho Interinstitucional de Enfrentamento à Hanseníase, da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). Em sua última edição, realizada em 2023, a capacitação contou com nove turmas. Participaram profissionais de Juiz de Fora e de outros municípios da região, como Bias Fortes, Rochedo de Minas, Oliveira Fortes, Santa Bárbara do Monte Verde, Maripá de Minas, Pequeri, Rio Novo, Mar de Espanha, São João Nepomuceno e Pedro Teixeira. 

O projeto é coordenado pela professora Angélica Coelho. De acordo com a docente, os profissionais passam por resgate teórico, com o objetivo de destacar os conceitos cruciais para o manejo da hanseníase na Atenção Primária à Saúde. 

A prática também é abordada a partir da demonstração de como deve ser realizado o exame clínico junto ao paciente. De acordo com a coordenadora, os participantes podem, por exemplo, “realizar o exame clínico uns nos outros e vivenciar a prática clínica, com a simulação de atendimentos.” 

Para o ano de 2024, de acordo com a docente, a proposta é dar continuidade à capacitação dos profissionais da Atenção Primária à Saúde dos 37 municípios pertencentes à SRS de Juiz de Fora, porém com foco na prevenção e tratamento de incapacidades físicas causadas pela hanseníase. O curso, ainda sem previsão para o início este ano, é realizado em parceria com a fisioterapeuta Liliany Fontes Loures, do Hospital Universitário (HU-UFJF), e com a enfermeira Ana Amélia Dias de Souza, do Departamento de Epidemiologia da Superintendência Regional de Saúde de Juiz de Fora.

Participaram também profissionais das cidades de Andrelândia,  Aracitaba, Arantina, Belmiro Braga,  Bicas, Bom Jardim de Minas, Chácara,  Coronel Pacheco,  Ewbank da Câmara,  Goianá,  Guarará,  Lima Duarte, Matias Barbosa,  Olaria, Passa Vinte,  Piau, Rio Preto,  Santa Rita de Jacutinga e Senador Côrtes.

Outras informações
Liga Acadêmica de Hanseníase (Lahansen)