A servidora técnico-administrativa em Educação (TAE), Miriam Dias, lotada na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e o estudante do Bacharelado em Música – Teoria e Composição Musical, Rick Guilhem, receberam a Medalha Nelson Silva 2023, outorgada pela Câmara Municipal de Juiz de Fora. A honraria é entregue a cidadãos e instituições com atuação destacada na produção, difusão e engrandecimento das manifestações artísticas e sociais da população negra. 

Honraria é entregue a cidadãos e instituições com atuação destacada na produção, difusão e engrandecimento das manifestações artísticas e sociais da população negra (Foto: Reprodução JFTV Câmara)

Miriam Dias
Miriam Dias é projetista da UFJF há 29 anos. Graduada em Arquitetura e Urbanismo e mestre em Ambiente Construído pela UFJF, a servidora é pesquisadora no Laboratório de Estudos em Conforto Ambiental e no Laboratório Multidisciplinar Casa Sustentável, com pesquisas dedicadas às áreas de Conforto Ambiental, Eficiência Energética e Representação Gráfica Digital. Miriam também dedica-se à pesquisa sobre a presença da cultura negra na arquitetura brasileira. 

Miriam expressou sua honra de falar em nome dos homenageados na cerimônia, a quem chamou de destemidos desbravadores. “Os homenageados são bandeirantes dos saberes e da cultura afro-brasileira, que lutam todos os dias para abrir o caminho do conhecimento que será pavimentado pelas próximas gerações.”

Projetista da UFJF há 29 anos, Miriam Dias expressou sua honra de falar em nome dos homenageados na cerimônia, a quem chamou de destemidos desbravadores (Foto: Alexandre Dornelas/UFJF)

A pesquisadora também destacou a importância de revisitar a história da população negra como forma de revelar conquistas, vitórias e heróis – segundo ela, “estruturalmente apagados durante gerações”. A arquiteta recordou pessoas negras que tiveram funções importantes relacionadas à Arquitetura e à Engenharia no Brasil nos séculos XVIII e XIX, como o arquiteto Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas (1721-1811), escravizado que conseguiu sua alforria e trabalhou na ornamentação de edificações importantes de São Paulo, e o engenheiro André Rebouças (1838-1898), idealizador da ferrovia que liga Curitiba à cidade litorânea de Paranaguá, obra do século XVIII, considerada ousada na época.

Em conversa com o Portal da UFJF, Miriam destacou a importância de se valorizar não apenas as trajetórias de pessoas negras, mas também dos seus conhecimentos. Para a arquiteta, as histórias de sofrimento também não podem ser esquecidas. “Eu penso que essa não é uma conquista pessoal, não é uma vitória da Miriam. Na verdade é um memorial para que a gente tenha consciência de que nós estamos apenas começando. Ainda tem um caminho grande a ser trilhado, temos uma parte da história que não vamos conseguir recuperar. Temos uma militância que apresenta uma África que as pessoas não conhecem”, avalia. 

Rick Guilhem

Músico e estudante da UFJF, Rick Guilhem fundou a Associação Cultural Bloco Afro Ilú Axé Muvuka, em Juiz de Fora (Foto: Marcella Calixto/Reprodução Instagram)

Estudante do curso de Bacharelado em Música – Teoria e Composição Musical, Henrique Oliveira Guilhem, conhecido artisticamente como Rick Guilhem, é músico, compositor e produtor cultural. Guilhem também é formado em Percussão Popular pela Universidade de Música Popular – Bituca. Em 2019, fundou a Associação Cultural Bloco Afro Ilú Axé Muvuka, em Juiz de Fora. O projeto promove letramento racial por meio da música e demais formas artísticas. Em 2023, o artista foi convidado a integrar a Academia Prêmio Multishow, que indica os vencedores de 17 categorias da premiação – a de maior relevância da área musical no país. 

Para Guilhem, receber a Medalha Nelson Silva é “profundamente significativo” por conta de o prêmio ser homenagem ao compositor juiz-forano. O músico e estudante da UFJF acredita que a honraria valida sua dedicação à música, além de reforçar sua conexão com as raízes afro-brasileiras. “Representa um momento de reflexão sobre minha trajetória e um estímulo para seguir buscando autenticidade e excelência artística. Esse reconhecimento é um marco em minha carreira, incentivando-me a continuar explorando e celebrando a riqueza da música e cultura afro-brasileira, assim como Nelson Silva fez em seu tempo”, avalia o músico, que destaca, ainda, a importância da preservação da cultura afro-mineira, da qual Nelson Silva é um expoente. 

UFJF e os outros homenageados
Outros homenageados com a Medalha Nelson Silva neste ano têm em comum a presença da UFJF em suas trajetórias profissionais. A artista, pesquisadora e educadora Fabrícia Valle possui graduação, especialização, mestrado e doutorado em Letras pela Universidade e cursou o Ensino Médio no Colégio de Aplicação João XXIII; Fabrícia é musicista e trabalha como professora na Rede Municipal de Ensino de Juiz de Fora.

Também agraciado com a medalha, o historiador e escritor Roberto Dilly foi professor da Universidade. Dilly é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora e é coordenador do Museu do Crédito Real. O historiador também é autor do livro “Banzo – Poemas Africanos”. 

A medalha
A cerimônia de entrega da Medalha Nelson Silva 2023 foi realizada no plenário da Câmara Municipal no dia 30 de novembro. O compositor juiz-forano Nelson Silva (1928-1969) dá nome à condecoração. Artista versátil, Silva compôs sambas, boleros, toadas, hinos religiosos e canções de outros gêneros musicais. Fundador do Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva, sua obra mostra a realidade da população negra no Brasil e resgata a linguagem do escravizado.