Originalmente, professor da Faculdade de Medicina, Valverde conseguiu conciliar sua grande paixão com o ensino, na Música (Foto: Carolina de Paula)

O professor Rodolfo Vieira Valverde, do Departamento de Música do Instituto de Artes e Design (IAD) recebe, nesta terça-feira, 29, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A homenagem, com a máxima distinção, é  concedida a personalidades que se destacam pela atuação em defesa das artes, das ciências, das letras, mas que não necessariamente são portadoras de uma graduação ou pós-graduação. A cerimônia será realizada no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) às 19h.

No parecer, assinado pela pró-reitora de Cultura e membro do Conselho Superior (Consu) da UFJF, Valéria Faria, a trajetória de Valverde dentro da Universidade é exaltada. Uma trajetória que começa no ano de 1983, na Faculdade de Medicina (Famed), onde ingressou como aluno, formou-se e para onde retornou como docente substituto em 1995, permanecendo como efetivo do Departamento de Clínica Médica por mais de uma década. “Minha formação inicial foi na Medicina. No entanto, a música sempre foi uma grande paixão, na qual investi muito, um hobby que foi abraçado com tanto interesse que se tornou profissão”, declara Valverde.

No ano de 2005, Valverde iniciou sua relação mais próxima com o IAD, em disciplinas de música, substituindo o professor André Pires, hoje aposentado. E, das salas do Instituto, ele nunca mais saiu. Valverde foi um dos responsáveis pela criação do curso de Música da UFJF, um “sonho que se tornou realidade” em 2009, do qual participou nas fases de implementação curricular, formação e integralização dos primeiros egressos. “No IAD, pude participar da implantação de um curso de Música no nível que a nossa Universidade e a nossa cidade precisam”.

Nesses primeiros momentos do Departamento de Música, Valverde ainda estava vinculado à Faculdade de Medicina. Depois de ser transferido para o IAD, atuou como coordenador do curso de bacharelado entre os anos de 2011 e 2017 e, nos últimos anos, como vice-chefe do departamento e na cooperação com o curso de licenciatura.  Foi justamente em 2011 que houve, inclusive, a primeira proposta de concessão do título a Valverde, por recomendação da equipe do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais Anísio Teixeira (Inep), pedido reforçado depois pelo corpo docente do departamento de Música do IAD e pela Pró-Reitoria de Cultura (Procult).

Do Centro Cultural Pró-Música à crítica no Jornal do Brasil

Estudioso de ópera, os projetos e a atuação profissional de Valverde tentam democratizar e desmistificar o gênero (Foto: Carolina de Paula)

Profundo estudioso e pesquisador da História da Música Ocidental e, em particular, da ópera, Valverde ministrou cursos e palestras em festivais de música e centros culturais do país sobre os diversos estilos, compositores e obras do universo musical e operístico. Muito antes de chegar ao IAD, atuou junto ao Centro Cultural Pró-Música, em projeto de formação de plateia.

“Antes de cada concerto do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, por exemplo, apresentava ao público o repertório que seria executado naquele dia, falava sobre os compositores, períodos históricos e conjunturas que levavam à constituição daquelas obras. A música é uma linguagem universal, mas existem vários códigos utilizados por cada artista. Se esses códigos não fazem parte do nosso momento, eles precisam ser decodificados, para que haja compreensão. Se há compreensão, há uma verdadeira apreciação”, relembra o professor, que ainda é coordenador do projeto Orfeu de Teatro Musical e Iniciação à Ópera, que leva o teatro musical e a ópera à comunidade juiz-forana.

Por conta dessas experiências, foi convidado para integrar a equipe do Jornal do Brasil, um dos mais importantes veículos do país, como crítico musical e colunista, entre os anos de 2008 e 2010. Em seguida, nas temporadas 2010/2011 e 2011/2012, tornou-se comentarista das transmissões ao vivo do Metropolitan Opera, de Nova York, e dos balés do Teatro Bolshoi, de Moscou. “Tive a oportunidade de participar de grandes eventos, conhecer muitos artistas. Todos esses trabalhos representam uma forma de conscientizar o público sobre aquilo que está sendo oferecido em salas de concerto e teatros”.

Em reconhecimento à trajetória dentro e fora do campus, em 2020, Valverde recebeu a maior honraria concedida pela UFJF a profissionais que se destacam nas atividades de ensino, pesquisa e extensão. “Sinto tanto prazer no que faço e no lugar onde estou que nem penso em reconhecimento. Mas, quando há esse tipo de reconhecimento, como a Medalha JK, a grande felicidade é perceber que estamos ao menos tentando seguir no caminho certo”.

Ao receber este título, vejo como a Universidade é abrangente e interdisciplinar. Nós precisamos transitar entre as áreas

Agora, a homenagem é outra: a concessão do título de Doutor Honoris Causa. Valverde se junta a nomes como os do líder indígena, ambientalista, filósofo e escritor Aílton Krenak, da historiadora e expoente do movimento negro Adenilde Petrina, do líder sindical e político Clodesmidt Riani e do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, presentes na lista personalidades agraciadas com a honraria.

“Ao receber este título, vejo como a Universidade é abrangente e interdisciplinar. Nós precisamos transitar entre as áreas. Me formei em Medicina, me dediquei todos esses anos, de maneira autodidata, à música. O que ensino é fruto deste autodidatismo. Portanto, quando a UFJF me concede o título de Doutor Honoris Causa, a Instituição está chancelando que existem várias formas de aprender e ensinar, maneiras alternativas que são fruto do amor pelo que se faz e que podem e devem ser reconhecidas academicamente”, finaliza Valverde.