As atividades para celebração da “Consciência Negra” na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) terão como tema central a inserção da história e da cultura africana e afro-brasileira nos currículos de graduação e pós-graduação da instituição. A definição aconteceu nesta segunda-feira, 3, durante encontro aberto à participação da comunidade acadêmica, no Anfiteatro das Pró-reitorias, no campus sede.
Na reunião pública, organizada pela Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf), em parceria com o projeto de extensão “Encontro Temático da Comunidade Negra”, também ficou estabelecida a publicação, nos próximos dias, de um edital para submissão de propostas de oficinas, palestras, ciclo de debates, minicursos, mostras e workshops que vão compor o evento, além da data de realização da “Semana da Consciência Negra da UFJF”: de 7 a 18 de novembro de 2022.
O diretor de Ações Afirmativas e professor da Faculdade de Educação da UFJF, Julvan Moreira de Oliveira, recorda que o Brasil tem uma legislação em vigor há quase duas décadas, a Lei 10.639/03, a qual determina a inclusão no currículo oficial da temática “História e Cultura Africana e Afro-brasileira”. O objetivo do regramento é resgatar a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
“Precisamos debater o real cumprimento dessa que é uma conquista do Movimento Social Negro. A ausência desses conteúdos contraria a legislação federal, em vigor desde 2003. Nos currículos, devem estar presentes o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional.”
Invisibilização
Para a doutoranda em História e coordenadora geral da Associação de Pós-graduandos da UFJF, Dalila Varela, a aplicação da lei é urgente, dada a invisibilização dos referidos conteúdos. “A reunião de hoje foi bastante importante, assim como a escolha por essa temática da lei para a Semana da Consciência Negra da UFJF. Como falamos aqui, há um silêncio acadêmico sobre o assunto. É preciso romper com essa prática e fazer esse debate, inclusive, para além da Semana da Consciência Negra. O racismo na sociedade brasileira é estrutural e deve ser tema constante no debate público”, ressalta.
A avaliação é compartilhada pela mestranda em Educação, Lívia Canuto, e pela doutoranda em Ciência da Religião, Cláudia Santos Oliveira. “O silenciamento sobre a história e a cultura africana e afro-brasileira sinaliza o racismo velado, como se o único conhecimento válido fosse o europeu. Garantir o nosso espaço é falar da nossa história”, afirma Lívia. “É fundamental termos acesso à educação para as relações étnico-raciais nos cursos de graduação e pós-graduação”, acrescenta Cláudia.
Para o técnico-administrativo em Educação, bacharel em Direito e coordenador da Central de Atendimento da UFJF, Mauro Eduardo Leopoldino, “uma universidade pública, gratuita, inclusiva e de qualidade demanda que existam esses espaços de diálogo, atendendo aos anseios dos envolvidos, em especial quando tratamos do combate ao racismo, da difusão de saberes relativos à negritude e do enfrentamento das questões sobre o acesso e a permanência no ambiente universitário da comunidade negra.”
Parcerias
As ações da “Semana da Consciência Negra da UFJF” reforçam o compromisso da instituição com os movimentos antirracistas da sociedade brasileira, celebrando o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, 20 de novembro, data instituída oficialmente pela Lei nº 12.519/11.
“Também planejamos ações em parceria com o Conselho Municipal da Promoção de Igualdade Racial (Compir -JF) e com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). Nossa intenção é, para além do mês de novembro, unir esforços para a reparação de quase quatro séculos de escravização, bem como para a conscientização da luta cotidiana e do valor de ser negro”, ressalta o professor do Departamento de Matemática da UFJF, coordenador do projeto de extensão “Encontro Temático da Comunidade Negra” e representante da Universidade no Compir, Willian José da Cruz.
Outras informações
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