
Segundo o professor Francione Carvalho, um dos objetivos da pesquisa é verificar o impacto do currículo do Novo Ensino Médio no aprendizado em Artes (Foto: Carolina de Paula)
Uma pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) está mapeando o ensino e a aprendizagem da Arte no Ensino Médio, nas escolas públicas da Zona da Mata Mineira, após a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os estudos foram iniciados este ano e vão ser desenvolvidos até 2025. Ao todo, estão sendo analisadas sete microrregiões: Juiz de Fora, Ubá, Muriaé, Viçosa, Cataguases e Ponte Nova.
“Pretendemos conhecer a estrutura física, a proposta pedagógica, os materiais e dispositivos utilizados nas aulas de Arte, o trabalho desenvolvido por professoras e professores a partir da BNCC e o cotidiano das escolas”, explica o coordenador da iniciativa e professor da Faculdade de Educação da UFJF, Francione Oliveira Carvalho.
Conforme o docente, o objetivo é, em parceria com professores da educação básica e a partir do cruzamento dos documentos das mais diversas fontes, compreender os obstáculos, os impactos das políticas públicas e pensar estratégias para o fortalecimento do ensino da Arte nas escolas da Zona da Mata.
Ele destaca a importância da abertura das escolas para a pesquisa e para a parceria com a Universidade. “A UFJF não está indo às escolas para levar alguma coisa pronta, mas para construir junto com as escolas. Essa parceria é fundamental. Os fenômenos contemporâneos são muito complexos e, nesse sentido, precisam de muitas áreas do conhecimento e de sujeitos que estão em lugares diferentes para serem compreendidos. A pesquisa aproxima esses ambientes, além de colaborar para a formação dos nossos estudantes em todos os níveis”, avalia.
Novo Ensino Médio
Uma das motivações da pesquisa é a mudança implementada este ano por meio da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que instituiu o chamado “Novo Ensino Médio”. Segundo Francione, a proposta foi gerida por grandes fundações ligadas a empresas e encontra bastante resistência entre professores e pesquisadores da educação, “porque prioriza uma visão técnica, pensando as habilidades práticas e retirando as dimensões filosóficas, culturais, artísticas, que são a dimensão humana.”
Ainda conforme o docente, disciplinas como Arte, Sociologia e Filosofia foram reduzidas no currículo, o que vai na contramão de uma reivindicação histórica de educadores.
“Houve uma intensa luta nos anos de 1990, do movimento de arte-educação e dos pesquisadores, pela autonomia do ensino de Arte na escola, que era muito descontextualizado. Os alunos faziam uma prática qualquer, não entendiam o motivo e para onde aquilo levava, não havia uma continuidade. Não havia a dimensão estética, de autoria daquele processo.”
Devido à mobilização de pesquisadores e professores da área, no final dos anos de 1990, o ensino de Arte passou a estar presente nas escolas de uma maneira autônoma. “A arte é uma disciplina que tem conteúdo, que tem temas, objetivos, dimensões muito próprias e que devem ser valorizadas. Com o Novo Ensino Médio, a Arte novamente deixa de ser uma disciplina autônoma e volta a ser pensada como uma disciplina que está a serviço das demais. Isso foi um retrocesso muito grande e o mesmo se dá com outras disciplinas.”
CNPq, Fapemig e parcerias
A pesquisa “Mirando Arte no Ensino Médio: um panorama do ensino e aprendizagem da Arte na Zona da Mata” tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). “Vivemos um tempo de muitos cortes na educação e na pesquisa. É muito importante o fortalecimento das agências de fomento à pesquisa. É a partir delas que é possível construir e desenvolver pesquisas realmente importantes e que impactam a sociedade”, ressalta Carvalho.
Além do docente, participam da iniciativa 23 pesquisadores. Integram a equipe os professores Olga Maria Botelho Egas, da Faculdade de Educação da UFJF; Pedro Augusto Dutra de Oliveira, do Colégio de Aplicação João XXIII da UFJF; Flávio Américo Tonnetti, da Universidade Federal de Viçosa (UFV); Thalita de Cassia Reis Teodoro, bailarina formada pela UFV e doutoranda em Educação na UFJF; dentre outros doutorandos, mestrandos e graduandos.
Ainda conforme Carvalho, a intenção é também firmar parceria com a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), que oferece o curso de Teatro. Dessa forma, todas as quatro linguagens da Arte – Teatro, Dança, Música e Artes Visuais – estariam contempladas pelas instituições participantes do projeto. “A UFJF oferece duas dessas formações: Artes Visuais e Música, e a UFV licenciatura de Dança. Por isso, a importância do trabalho conjunto”, finaliza.
Outras informações: Grupo de Estudo e Pesquisa em Visualidades, Interculturalidade e Formação Docente (Mirada)
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Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU
As ações de pesquisa da UFJF estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). A pesquisa citada nesta matéria está alinhada ao ODS 4 (Educação de Qualidade), 5 (Igualdade de gênero) e 10 (Redução das desigualdades).
