Diretor de Ações Afirmativas da UFJF, Julvan Oliveira (à esquerda), estudante Andressa Borges e professor Willian Cruz contribuem com pesquisa que retrata número reduzido de negros no quadro profissional da UFJF e de temáticas étnico-raciais nas pesquisas de pós-graduação (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

Uma pesquisa de iniciação científica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) identifica a sub-representação de pessoas negras no quadro profissional da instituição nos dois campi. Em Juiz de Fora, 76,32% dos professores e técnico-administrativos em Educação (TAEs) são brancos e, em Governador Valadares, 66,67% dos profissionais. No campus sede, é verificada uma situação ainda mais drástica: a ausência total de trabalhadores negros em três unidades, sendo duas administrativas e uma acadêmica. Os dados coletados junto à Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progepe) referem-se ao ano de 2021.

O estudo realiza também levantamento bibliográfico, no Repositório Institucional da UFJF, das temáticas pertinentes às questões étnico-raciais, com o objetivo de verificar como o conteúdo é abordado nos diversos programas de pós-graduação. São utilizadas cinco palavras-chaves na busca – raça, África, cultura negra, afro-brasileiro e africanidades – e constatado que, na última década, apenas 20 teses e dissertações trabalharam temas relacionados à negritude.

De acordo com o coordenador da pesquisa, Willian Cruz, dados revelam urgência de iniciativas antirracistas (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

“Num país cuja a maioria da população é negra, correspondendo a mais de 54% dos brasileiros, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados revelam a urgência de iniciativas antirracistas. Foi nesse sentido que elaboramos este projeto de iniciação científica. A intenção é abrir debates públicos, fortalecer práticas antirracistas e reconhecer produções relevantes na academia científica brasileira de autores e pesquisadores negras e negros”, destaca o professor do Departamento de Matemática da UFJF e coordenador da pesquisa, Willian José da Cruz.  

Retrato social
O projeto de iniciação científica intitulado “Conhecendo a Comunidade Negra no âmbito da UFJF” contou com uma bolsista, a aluna do curso de Nutrição, Andressa Costa Borges, 23 anos, que colaborou com Cruz na apuração das informações. A estudante já havia atuado, como voluntária, no projeto de extensão “Encontros Temáticos com a Comunidade Negra”, também sob a coordenação do docente. “Fiz o levantamento teórico para a construção do projeto. Foi uma experiência muito importante para mim ter podido participar desta pesquisa e também da atividade de extensão”, afirma Andressa.

Bolsista de Iniciação Científica, Andressa Borges colaborou com levantamento teórico para a construção do projeto (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

Conforme Cruz, o resultado indica as semelhanças entre a UFJF, as demais instituições e a sociedade brasileira em geral. “Essa pesquisa mostra um retrato da Universidade que corresponde ao retrato da nossa sociedade. Estamos lutando por uma mudança efetiva, que não fique somente no discurso. Temos menos de 20% de pessoas negras no nosso quadro funcional, ou seja, que se autodeclararam pretas ou pardas, e precisamos realmente pensar que tipo de sociedade queremos construir a médio e longo prazos.”

A intenção do docente é dar continuidade às pesquisas sobre a temática, bem como à realização de atividades extensionistas. “Pretendemos compreender como docentes e técnicos que se autodeclaram pretos e pardos estão se envolvendo com o combate ao racismo estrutural, institucionalizado. Práticas antirracistas surgem do envolvimento e da ação efetiva sobre todas essas demandas que são muito importantes, como os debates da negritude, da cultura e história afro-brasileira, do movimento social negro e nossas lutas.”

O relatório final da atividade de iniciação científica será convertido em artigo científico e, desse modo, divulgado na íntegra. Também contribuem com a pesquisa os docentes da UFJF, Fernanda Thomaz, do Departamento de História,  Zélia da Costa Ludwig, do Departamento de Física, Francione de Oliveira Carvalho, da Faculdade de Educação, e Julvan Moreira de Oliveira, da Faculdade de Educação e  diretor de Ações Afirmativas.

Confira o resultado parcial da pesquisa aqui.

Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU 

As ações de pesquisa da UFJF estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). O projeto “Conhecendo a Comunidade Negra no âmbito da UFJF” está alinhado ao ODS 10 (Redução das desigualdades).

Confira a lista completa no site da ONU.

Outras informações
etcomunidadenegra.ufjf@gmail.com