Em dezembro de 2021, a Editora UFJF retomou suas atividades com a publicação de uma série de e-books. Recentemente, novas três obras chegaram ao site e ao repositório da Universidade Federal de Juiz de Fora. Elas somam-se aos 37 títulos publicados em 2021 já disponíveis gratuitamente. A previsão é que, até o final deste ano, mais 58 livros sejam lançados.
Essas são informações passadas pelo diretor da Editora UFJF, professor Ricardo Bezerra Cavalcante, para explicar a importância da parceria entre o órgão da Universidade e os 14 Selos Editoriais da UFJF. “A publicação de e-books em parceria com os Selos Editoriais é algo inovador e que já tem alcançado frutos importantes para toda a comunidade. Os e-books têm possibilidade de maior disseminação e publicização gratuita do conhecimento e tecnologias produzidos por pesquisadores, estudantes, TAEs, Unidades Acadêmicas e Programas de Pós-Graduação (PPGs) envolvidos”, destaca.
Os modos de produção do jornalismo em transe
Quem assina o prefácio do e-book “Jornalismo em Equívoco: sobre o telefone e a invenção diferenciante”, do professor associado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFJF e docente do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Evandro Medeiros, é o pesquisador e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Renzo Taddei. Em um trecho de seu texto introdutório, Taddei resume a obra como uma pesquisa de natureza etnográfica, realizada nas cidades do Rio de Janeiro e Nova Iorque, nas redações e nas ruas, entre jornalistas “profissionais”, midiativistas e cidadãos sem maiores pretensões noticiescas, mas que calharam de estar com telefone celular em frente ao “fato extraordinário”. As novas tecnologias digitais de comunicação, portanto, transformaram (e continuam transformando) as pessoas, suas relações sociais e a natureza de seu acoplamento com as máquinas.
Foi observando os materiais jornalísticos produzidos por colaboradores, ou os chamados amadores, que Evandro Medeiros se sentiu inquieto. Após trabalhar durante mais de cinco anos como repórter de televisão, ele percebeu que uma boa parte de fotos e vídeos exibidos nos telejornais passou a ser feita pelos próprios telespectadores. A pesquisa teve início em 2013 no curso de doutorado em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Naquele ano, durante as manifestações de 2013 no Brasil, uma nova ambiência digital, o celular, ganhou nova ordem. Fui para a rua seguir a Mídia Ninja e outros coletivos, ao mesmo tempo em que acompanhei repórteres de televisão, sobretudo durante a Copa do Mundo de 2014. Depois disso, fui para Nova York fazer um doutorado sanduíche na Universidade de Columbia. Foi quando explodiu o movimento #BlackLivesMatter e pude acompanhar a atuação de mídias ativistas e jornalistas nas ruas”, comenta Medeiros.
Aguardando o lançamento do livro desde 2019, após ser selecionado em edital da Editora UFJF e aprovado por um conselho editorial, o pesquisador ressalta que a sua abordagem é entender a produção jornalística como algo produzido por uma “rede sociotécnica”, composta pelos mais diversos cidadãos, que possibilitam novos modos de narrar e de traduzir o mundo.
E nós, não binários, o que somos?
A terceira obra lançada pela Editora UFJF é “’Menino veste azul, menina veste rosa’ e nós?”, uma conversa entre pessoas incomodadas com a norma que determina opções binárias para o gênero. “Nem, nem” poderia ser um título alternativo para o e-book, de acordo com Neilton dos Reis, que assina o livro junto com os pesquisadores Cristal Silva Halfeld, Ori Sabino Carneiro e Nicholas Domingues Monteiro (in memorian).
A obra se torna uma provocação: nem homem, nem mulher; nem masculino, nem feminino; nem isto, nem aquilo. Trata-se de uma tentativa de responder às perguntas: o que se aprende com, diante e a partir desse movimento de recusa? Quais as identificações? Quais as diferenciações? É entre narrativas que subvertem o texto acadêmico que esses questionamentos vão se expandindo até explodir em um manifesto-pergunta: e nós?
Neilton dos Reis conta que a publicação nasceu da necessidade de continuar as discussões iniciadas durante sua pesquisa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFJF, sob orientação do professor Roney Pelato, que assina o prefácio do livro. O estudo trata de sentir e pensar os processos educativos em torno da não binariedade de gênero, ou seja da recusa em se identificar enquanto homem ou mulher.
“Quando defendi em 2018, fiz o convite para as pessoas que participaram da pesquisa como entrevistadas se tornarem autoras. Isso não é comum no cenário acadêmico, mas acreditamos que, além de justo com a ideia de propriedade intelectual, foi uma oportunidade de expandir o que já havíamos elaborado e mesmo de tensionar e borrar as fronteiras de pesquisador-pesquisado”.
Reis ainda lembra que Nicholas Domingues Monteiro se suicidou em 2017 e que a materialização da obra é uma forma de manter vivos os encontros que tiveram e os saberes construídos. “Hoje, percebo que esse fato tanto reflete o momento político que a gente vive quanto diz da urgência de tornar público o debate e a defesa pela vida. Escrever e publicar esse livro é ainda uma maneira de reivindicar outras possibilidades de modos de vida — seja em outros gêneros, outras literaturas, outras escritas, outros mundos”.
A Saúde em Versos
“ConVersando sobre Saúde” é uma construção coletiva de três enfermeiras, que permite a interação entre os saberes das área da saúde e da educação, utilizando-se da poesia como estratégia para o desenvolvimento de temas relevantes para a educação em saúde, tais como: diabetes, hipertensão arterial, câncer de próstata, gravidez na adolescência, dengue, higiene, dentre outros.
Uma das autoras da obra, a enfermeira do Hospital Universitário (HU) Cátia Aparecida Lopes Nazareth explica que a abordagem lúdica e criativa propicia maior atenção, compreensão e interação com o público-alvo. A ideia é que as poesias que estão no e-book possam ser recitadas ou cantadas por meio do teatro e que alcance o cidadão por meio dos profissionais da saúde, da educação e das artes.
“Iniciamos nossa trajetória com a escrita poética, juntamente com outras enfermeiras do HU, por volta do ano 2000, através do projeto de extensão ‘Processo educativo em sala de espera’, onde usávamos o teatro e o repente para a abordagem de temas voltados para a educação em saúde. Com base neste trabalho, lançamos o livro ‘A arte como estratégia para a educação em saúde: uma experiência em sala de espera’, em 2007. Acreditamos que a arte, a escrita poética contribui de maneira significativa na abordagem e assimilação dos temas pertinentes à saúde”, explica Cátia, que assina a obra ao lado de Regina Lucia Muniz de Almeida e Lúcia Aparecida de Souza, também enfermeiras do HU.
Cátia exalta a função da Editora UFJF na difusão de todas essas obras. “Importantíssimo o papel da Editora na socialização do saber, na oferta de oportunidade aos profissionais e servidores de mostrar seus talentos, seus trabalhos. Muitas vezes, boas ideias não encontram um caminho para serem desenvolvidas e, assim, produzirem frutos. Ela é a ponte que permite que nosso trabalho chegue a profissionais e cidadãos.”
Os três títulos estão disponíveis no site da Editora UFJF ou no Repositório da Universidade.