Obra “A casa em movimento somos nós”, de Ana Berenice (Foto: Divulgação)

Qual é a sua história? A pergunta adesivada logo na fachada do Memorial da República Presidente Itamar Franco da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)  funciona como um convite. Do lado de dentro, a exposição coletiva “Tantas Trajetórias”, cuja abertura acontece na quinta-feira, dia 23, às 19h, aponta para uma construção que só se completa quando alcança o todo: a história coletiva só existe quando contempladas as narrativas individuais. A premissa da mostra é desdobrada de maneiras distintas por nove artistas da cidade, de diferentes gerações e práticas, da instalação à colagem, passando por pintura, fotografia, escultura e outras técnicas. A mostra pode ser visitada até 19 de agosto.

Às obras somam-se dezenas de trechos de textos de autores brasileiros e estrangeiros, da jovem poeta Laura Conceição à polonesa Wislawa Szymborska, impressos no chão de todo o espaço expositivo. “Inserimos no piso nossos referenciais poéticos para a reunião dessas obras. Todas falam sobre a vida como um percurso vivido, como um emaranhado de histórias. Nossa perspectiva é bastante simples e considera que todos fazemos uma trajetória. E a sociedade é resultado desse entrecruzamento”, explica o curador Mauro Morais.

Substituindo os personagens reais por objetos que os representam, a fotógrafa Nina Mello exibe “Relicários”, reunindo “retratos de família” (nome da série que a obra integra), acompanhados por áudios nos quais um familiar reflete sobre suas memórias. “A série busca, a partir do registro de objetos de lembranças – envoltos da memória afetiva que tais peças encerram – e da oralidade, construir uma fotografia de família, de acordo com os vestígios do passado confrontados com o presente”, pontua a artista, cujo trabalho ativa diferentes sentidos. 

Assim como “Pan em Glória”, instalação de Francisco Brandão, que aciona o tato, a visão e a audição ao justapor segmentos de portas repletos de fechaduras, cadeados e olhos mágicos. “Uma porta sem suas paredes separa, por prazer, apenas simbolicamente. O pânico do exterior garante ao interior a força das travas e cadeados – a arma contra a potência dos desejos alheios. O portal negocia a poética da passagem, da permissão, dos desejos secretos e do íntimo em público”, observa Brandão.

Peça de Júlia Vitral (Foto: Divulgação)

Com sua escultura em forma de coração, Júlia Vitral também acena para a perspectiva da passagem, tomando Carlos Drummond de Andrade e alertando que “há uma pedra no meio do caminho” e, assim, inserindo uma pedra no coração esculpido. Brandão também alerta para as interdições como processo cíclico ao propor seu ready-made de placas de rua, três delas, cada uma com uma inscrição – “trajetória interrompida”, “avenida independência”, “retorno”. Irônico, o artista retorna à rua que hoje leva o nome de Itamar Franco, que também nomeia o espaço expositivo, para falar sobre as mudanças, sobre os percursos alterados. “O trabalho de César Brandão localiza a própria exposição dentro do Memorial, um espaço que contempla a narrativa de uma trajetória, de Itamar Franco. Ao propormos esta coletiva também expomos nosso desejo de contemplar outras tantas narrativas. É importante que o espectador se perceba na história de Itamar e apreenda os tantos outros memoriais que se entrecruzam aqui e que são possíveis e não menos importantes”, defende Mauro Morais. “Essa, inclusive, é nossa proposta educativa para a exposição.”

Representado pela pintura de um cemitério de automóveis, Brandão chama atenção para esse emaranhado de histórias, assim como Perillo, ao projetar uma geografia onde se encontram pessoas e rotas, numa trama humana e espacial. Mais jovem entre os artistas, Ana Berenice faz sua estreia em uma exposição apresentando colagens sensíveis e poéticas nas quais acentua a capacidade de se metamorfosear. Apresentando uma narrativa íntima e pessoal, Adauto Venturi resgata, em três gravuras em metal, um trecho de sua vida que vai da reclusão à libertação, também propondo esse trajeto rumo a um outro lugar, a outra consciência. 

Sintetizando as muitas histórias que cabem numa só história, a professora do Instituto de Artes e Design (IAD) e pró-reitora de Cultura da UFJF, Valéria Faria, exibe a instalação “Nosso Senhor dos mesmos passos”. Na obra, enfileira 15 pares de sapatos usados pelo pai. Por onde andaram? O que viram? Sobre o que pisaram? Quando descansaram? São muitas as perguntas despertadas pelos calçados, testemunhas de tantas trajetórias.

 Além de Francisco Brandão, Adauto Venturi, Júlia Vitral, e Valéria Faria participam da exposição os artistas Ana Berenice, Nina Mello, Ramon Brandão e Petrillo. Valéria Faria

A exposição coletiva tem visitação gratuita de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h. Agendamentos para visitas mediadas de grupos ou individuais podem ser feitos pelo e-mail cultura.memorial@ufjf.br.

O Memorial da República Presidente Itamar Franco fica localizado na Rua Benjamin Constant 790, no Centro da cidade.

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