Protesto em memória das vítimas da ditadura (Foto: NurPhoto/PA Images)

Os pesquisadores Fernando Perlatto e Odilon Caldeira Neto, ambos vinculados ao departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), são autores convidados do “Dossiê contra o negacionismo da ciência  – A importância do conhecimento científico”, livro publicado pela editora PUC Minas em parceria com a Rede Mineira de Comunicação Científica (RMCC). O capítulo assinado por Perlatto e Caldeira Neto é dedicado à reflexão sobre o uso do negacionismo histórico como instrumento político pela extrema direita brasileira – abordando, especificamente, a negação do Holocausto e da ditadura militar de 1964. A obra está disponível gratuitamente.

“O fenômeno negacionista não está recluso às dinâmicas da historiografia”, aponta Odilon Caldeira Neto (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

“Nosso ponto central é discutir como esse fenômeno, em momentos distintos da história política brasileira recente, acaba sendo um elemento de coesão interna e de articulação da extrema direita – tornando-se até mesmo fonte para uma narrativa sobre o passado para grupos extremistas de direita, cujas medidas caminham no sentido de um modelo antidemocrático”, resume Caldeira Neto. Perlatto acrescenta que “é preciso ressaltar que nossa intenção não é equiparar o negacionismo do Holocausto e o da ditadura brasileira, mas pensar a questão do negacionismo a partir de uma interface entre esses dois fenômenos. Mesmo não tendo relação direta entre si, eles têm elementos em comum.”

O peso do presente no passado
Os pesquisadores concordam que a atual conjuntura político-social brasileira contribui para que as discussões sobre o negacionismo ganhem mais repercussão. “Particularmente, o negacionismo da ditadura se torna muito escancarado em determinadas articulações políticas com impacto no cotidiano brasileiro atual. Por sua vez, o negacionismo do Holocausto tem uma presença no debate público ao longo dos anos 1980 até os anos 2000”, pontua Caldeira Neto. “A presente conjuntura do Brasil possibilita reavivar esses discursos”, completa Perlatto. Episódios como as comemorações oficiais do governo brasileiro durante a data que marca o início da ditadura militar no Brasil – 31 de março, celebrado anualmente desde 2019 – são exemplos do que é elucidado pelos professores. 

Dossiê está disponível gratuitamente e é destinado para toda sociedade

Fernando Perlatto aponta o desafio de contribuir para o debate público e manter as reflexões ancoradas academicamente (Foto: Carolina de Paula/UFJF)

“Enquanto professores e pesquisadores, temos um desafio que é contribuir para o debate público e, ao mesmo tempo, manter os argumentos da discussão ancorados em reflexões acadêmicas. Essa, inclusive, é uma das forças da universidade”, reflete Perlatto. Ambos os pesquisadores explicam que, para dialogar com a sociedade, o dossiê contra o negacionismo – que aborda diversas vertentes, além da histórica, para discutir o fenômeno – conta com textos voltados para um público amplo. “Isso tem a ver com o movimento chamado História Pública, relacionado à disputa de narrativas no âmbito popular.”

Caldeira Neto acrescenta que publicações como a do dossiê carregam uma dimensão política, ligada à defesa das instituições públicas de pesquisa. “Efetivamente, o fenômeno negacionista não está recluso exclusivamente às dinâmicas da própria historiografia. Ele ultrapassa diversos tecidos sociais e acaba impactando, inclusive, a forma como a sociedade interage com a construção do saber científico.” O pesquisador ainda reforça que a obra também reflete uma iniciativa de divulgação científica.

“Dossiê contra o negacionismo da ciência  – A importância do conhecimento científico”
O livro está disponível em formato digital (Kindle), acessível por meio de plataformas digitais gratuitas. De acordo com os organizadores, a razão de ser da obra se justifica pela necessidade de reafirmar o conhecimento científico como indispensável “para a construção de um mundo mais humano, esclarecido e autossustentável”. O dossiê reúne textos de professores e pesquisadores de instituições de ensino superior e de pesquisa integrantes da Rede Mineira de Comunicação Científica.

Iniciativa está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU
A Coordenação de Divulgação Científica da Diretoria de Imagem Institucional, em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), está promovendo uma estratégia de fortalecimento das ações de pesquisa da Universidade, mostrando que estão alinhadas a um ou mais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. A iniciativa de divulgação científica citada nesta matéria está alinhada com o ODS 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes).

Outras informações:
Livro “Dossiê contra o negacionismo da ciência  – A importância do conhecimento científico”