Em cerimônia realizada no prédio da Reitoria, representantes do Fórum 8M, de outros coletivos e organizações feministas da cidade e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) assinaram termo de doação de seu acervo para o Arquivo Central. O evento, transmitido pelo canal do Laboratório de Pesquisa em História e Arquivologia no Youtube, foi realizado na segunda-feira, dia 28, e contou com a presença da vice-reitora Girlene Alves da Silva e de representantes da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), da Fórum 8M e do Arquivo Central da UFJF.
O acervo ficará disponível ao público, que terá acesso a várias possibilidades de pesquisa em temas como história dos movimentos feministas e políticas públicas de proteção às mulheres, principalmente às que dizem respeito à violência de gênero, a manutenção da Lei Maria da Penha, os investimentos públicos e os direitos das trabalhadoras. O Arquivo Central tem sob sua guarda um acervo que registra a história da sociedade local e regional. Durante o mês de março, como parte da celebração do Dia Internacional da Mulher, vem divulgando seu acervo relacionado às causas e aos movimentos feministas.
A diretora do Arquivo Central, Alessandra de Carvalho German, ressaltou que a ideia de receber o acervo do Fórum 8M surgiu durante a 5ª Semana Nacional de Arquivos, realizada em junho de 2021 tendo como foco a temática Empoderando os Arquivos.
“Chegamos à conclusão de que não temos um acervo de mulheres e movimentos sociais femininos. Convocamos uma mesa para falarmos sobre essa dificuldade. Percebemos que esta problemática era nacional: a dificuldade de se pesquisar arquivos feministas. Amadurecemos a ideia, com a parceria do Fórum 8M, e agora estamos recebendo a primeira leva de doações, que fará parte de um fundo de arquivo de mulheres.” Disse, ainda, que o projeto contará com parceria da Funalfa.
Busca por novas vozes
A chefe de gabinete da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), da Prefeitura de Juiz de Fora, Maria Luisa Igino Evaristo destacou a preocupação da atual gestão da Funalfa, formada, em sua maioria, por mulheres negras. “A Funalfa tem buscado pensar a cultura de forma mais ampla, e não só como promotora da arte e de editais públicos. Nessa nossa visão, estamos em busca de trazer novas vozes, aquelas que sempre estiveram silenciadas. Queremos colocar à frente as mulheres e seus múltiplos atravessamentos. Para isso acontecer, a pesquisa e a memória são muito importantes. Como pesquisadora, egressa do curso de História e da pós-graduação em Ciência da Religião da UFJF, percebo que, em Juiz de Fora, temos histórias de muitas mulheres que não foram registradas adequadamente. Acredito que essa parceria é uma forma de tentar amenizar esta realidade.”
A articuladora do Fórum 8M, Lucimara Reis, corroborou com o discurso de Maria Luísa sobre a importância do enfrentamento por meio da valorização dos registros históricos como forma de ação. “Dentre as muitas simbologias que podemos inferir deste momento, ressalto a da práxis feminista. Nos é inerente refletir a ação na medida em que agimos. Agir para que nossas vozes não sejam caladas, silenciadas e, acima de tudo, agir para que, de objetos, possamos nos apresentar como sujeitos da construção do conhecimento e das narrativas históricas do nosso tempo. A criação deste fundo, junto ao Arquivo Central da UFJF, visa ainda resgatar vozes não ouvidas, vozes de um mosaico de lutas e resistências que ultrapassam a visão já em desuso, porém, contraditoriamente, ainda muito utilizada, do que vem a ser um documento histórico.”
Acesso à história das mulheres
Após a assinatura do documento de doação, a vice-reitora da UFJF, Girlene Alves da Silva, encerrou o evento agradecendo a todas as representantes do Fórum 8M por escolherem a UFJF como a instituição que não somente irá guardar, mas possibilitar o acesso à história das mulheres.
“Vivemos em um país ainda muito machista, sexista. Ao incorporar esse acervo a um órgão da UFJF, temos um compromisso maior do que o de guarda. Devemos possibilitar, através dessas histórias, a construção de outras histórias. O Arquivo Central acolhe um patrimônio, que deverá ser transformado em algo que diminua todas as assimetrias da nossa sociedade. Temos uma responsabilidade muito grande, pois este gesto de doação reafirma o lugar da Universidade como de estabelecimento e redução das desigualdades sociais.”
Outras informações: Arquivo Central-UFJF