O professor do Departamento de Matemática do Instituto de Ciências Exatas (ICE) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Willian José da Cruz, recebe, nesta sexta-feira, dia 26, a Medalha Nelson Silva, honraria que reconhece o mérito cívico de pessoas físicas e jurídicas que se notabilizaram na produção, na difusão e no engrandecimento das manifestações artístico-culturais e sociais da raça negra, nos âmbitos municipal, estadual e nacional. O evento acontece nesta sexta, às 19h, no Câmara Municipal de Juiz de Fora (CMJF), e será transmitido pela JFTV Câmara.
“O que levou a esta indicação foi o trabalho que estamos desenvolvendo no Programa de Extensão Encontro Temático da Comunidade Negra de Juiz de Fora. O objetivo deste é destacar personalidades na arte, na educação, na representatividade, nas ciências. Com tudo o que percebemos neste programa até então e nos estudos que fizemos, entendemos que não conhecemos a comunidade negra no âmbito da própria UFJF”, afirma o docente.
O Encontro Temático, segundo Cruz, surgiu a partir da observação sobre a necessidade de uma maior representatividade negra dentro da Universidade. “Começamos como um projeto de pesquisa, com a finalidade de conhecer as produções acadêmicas que tratam da atuação do negro na UFJF. Já fizemos o primeiro levantamento sobre bibliografias e o próximo passo é entender a quantidade de alunos e professores negros em cada curso e os trabalhos desenvolvidos por eles.”
Ao professor se juntarão outras personalidades (cinco mulheres, três homens e um grupo) da cultura negra juiz-forana e da região. Como parte das celebrações pelo mês da Consciência Negra, a Medalha Nelson Silva foi instituída pela Resolução nº 1.120, de 1999. A honraria foi criada em parceria com o Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva, e é concedida anualmente. Os agraciados foram selecionados pelo Conselho do Mérito, formado por representantes do Batuque Afro-Brasileiro, da Secretaria de Educação e da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), da Prefeitura de Juiz de Fora, da própria UFJF, da CMJF, do Conselho Municipal de Valorização da População Negra e do Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora.
“Todos esses trabalhos a serem homenageados são importantes para toda a comunidade juiz-forana, fortalecem nosso compromisso de desenvolver a todo momento práticas antirracistas. Não se trata de um trabalho para um determinado grupo, mas para a sociedade como um todo e é, claro, para aumentar também o respeito à população negra que produz e muitas vezes não é reconhecida pelo que faz”, salienta Cruz.
Nelson Silva
O cantor e compositor Nelson Silva nasceu no dia 22 de janeiro de 1928 em Juiz de Fora. Foi contador, tipógrafo e um dos maiores compositores da história do município e do país. Atento à situação do negro no Brasil, retratou a dura realidade enfrentada pela raça em cantos e lamentos, usando uma forma de linguagem típica do escravo.
Em 1964, fundou o Batuque Afro-Brasileiro. A ideia inicial era criar um grupo musical, formado somente por negros para interpretar uma parte da peça “Aquarela do Brasil”, idealizada pelo também jornalista. Nelson faleceu por insuficiência cardíaca, em 1969, deixando aos integrantes do Batuque a sua herança de luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
“Nelson Silva é uma inspiração. Não conhecia a sua obra, mas quando me deparei com alguns de seus trabalhos representando a situação do negro no Brasil e a dura realidade enfrentada pela raça, pude perceber que ele, além de um dos maiores compositores da história de Juiz de Fora e do Brasil, é um fator de motivação para que possamos trabalhar no desenvolvimento de práticas antirracistas na nossa comunidade”, exalta Cruz, também um dos idealizadores do primeiro encontro de Pesquisadores Negros e Negras da UFJF, realizado em 2019.