O prefeito Antônio Almas e o vereador Roberto Cupolillo (Betão) entregaram a condecoração ao reitor Marcus David (Foto: Alexandre Dornelas)

Reconhecer o trabalho de personalidades que contribuem para a produção e o crescimento de manifestações culturais e sociais dos negros. Essa é a proposta da medalha Nelson Silva, que é concedida anualmente. Na noite desta quinta-feira, 28, a homenagem realizou a sua 19ª edição no plenário da Câmara Municipal, onde dez pessoas foram agraciadas – dentre elas, o reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Marcus Vinícius David, a professora do Departamento de História, Fernanda do Nascimento Thomaz, e a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários, Fabrícia do Valle Arcanjo.

Nelson Silva foi um dos maiores compositores da história de Juiz de Fora e utilizava a música para retratar a situação do negro no Brasil e lutar por uma sociedade mais justa. Os selecionados para recebimento da medalha Nelson Silva são escolhidos pelo Conselho Municipal para Promoção da Igualdade Racial.

O reitor Marcus David, afirmou que há uma dívida social histórica da sociedade com negros e negras e reforçou a necessidade de trabalhar intensamente para a promoção da igualdade racial. “O racismo está em ações cotidianas da sociedade brasileira, fincou raízes no pensamento conservador e na política de modo geral”. O reitor ressaltou a presença de pesquisadores entre os homenageados e, em seguida, destacou a importância dos negros ocuparem seu espaço na produção acadêmica. Assista ao vídeo:

Marcus David ressaltou que a Universidade se preocupa com o acesso e a permanência de pessoas negras na instituição e lembrou iniciativas promovidas pela UFJF, como a adoção do sistema de cotas antes da obrigatoriedade; a criação da Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) e da Ouvidoria Especializada em Ações Afirmativas para, respectivamente, elaborarem políticas públicas de maneira participativa e tratarem, de forma institucional, denúncias de preconceito.

A doutoranda Fernanda Arcanjo recebeu a medalha do prefeito e do vereador Antônio Aguiar (Foto: Alexandre Dornelas)

O reitor lembrou, ainda, que a UFJF concedeu o título de Doutora Honoris Causa para  Adenilde Petrina, uma das referências do movimento negro em Juiz de Fora. “Este ato representou o nosso compromisso inquestionável com os movimentos sociais e com a juventude negra de nossa cidade”. A UFJF também abriu comissões de sindicância para apurar denúncias de possíveis fraudes no acesso pelas cotas raciais e  promoveu, neste mês de novembro, o 1º Encontro de Negros e Negras da instituição. “Por esses e outros motivos tenho a certeza de que a medalha que hoje recebemos é coletiva. Ela pertence, na verdade, a cada professor ou professora, técnico ou técnica, estudante ou trabalhador terceirizado, que na construção da UFJF teve o desafio de vencer o cotidiano racismo institucional e se reafirmar diante dessas dificuldades”, afirmou.

O diretor de Ações Afirmativas da UFJF, Julvan Moreira de Oliveira , garante que a instituição atua na luta pela inclusão da população negra, o que pode ser comprovado pelas políticas afirmativas adotadas nos últimos anos. “A presença de representantes da Universidade nesse evento só reforça o compromisso da instituição com a luta racial”, afirma.

Aluna e professora homenageadas

Grupo Batuque Afro-brasileiro Nelson Silva encerrou a cerimônia (Alexandre Dornelas)

A professora da UFJF homenageada, Fernanda do Nascimento Thomaz, ministra disciplinas de História da África no Departamento de História e no Programa de Pós-Graduação em História. Além disso, é coordenadora do grupo de pesquisa Áfrikas e do curso de pós-graduação lato-sensu em História da África. Fernanda não pôde comparecer à Câmara Municipal. Sua representante, a estudante do Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Humanas, Ana Emília Carvalho, recebeu a medalha.

Fabrícia é responsável pelo projeto Batuquedelas, que promove a participação de mulheres na batucada, além de ser mestre e doutoranda em Estudos Literários pela UFJF. A pesquisadora contou que ficou emocionada com a indicação para o recebimento da medalha Nelson Silva e que o evento é uma maneira de contribuir para o incentivo à produção da mulher negra na sociedade. “Quando o trabalho é feito com amor, com dedicação e com ética, esse reconhecimento acontece naturalmente, sem pisar na cabeça de ninguém, sem se atropelar, sem se perder”, destacou.

O encerramento da cerimônia contou com a participação do grupo Batuque Afro-brasileiro Nelson Silva, que apresentou as músicas Calango Dê, Serenô e Lamaçal.