Na manhã desta sexta-feira, 17, o reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e atual presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Marcus Vinicius David, participou de painel no “Summit Educação Brasil 2021 – A educação no pós-pandemia”, que discutiu os impactos da crise sanitária para o ensino superior do país. O webinar, organizado pelo jornal “Estadão”, também contou com a presença do reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Antônio José Meirelles; do diretor executivo da Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp); Rodrigo Capelato; com mediação da jornalista Renata Cafardo.
Durante o webinar, David fez um panorama sobre a realidade das 69 universidades federais brasileiras, ressaltando que a pandemia trouxe adversidades diferentes para as instituições que possuem especificidades próprias. Em relação à retomada das atividades presenciais, o reitor destacou que existe a preparação de um retorno, entretanto, reforçou que há um desafio em lidar com as comunidades internas, mas também com os alunos que vivem em outras cidades, o que exige políticas de biossegurança bem estruturadas.
“O ciclo vacinal dos trabalhadores da Educação, de acordo com a média brasileira, finaliza-se entre o final de setembro e outubro. A partir disso, podemos repensar em um retorno. Vale destacar que nossas atividades presenciais já estão sendo retomadas faz um tempo, por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão, e muitas delas foram dedicadas exclusivamente para o combate a Covid-19. Ainda em um segundo momento, priorizamos a área de Saúde, pois foram as mais prejudicadas pelo ensino remoto e agora, a partir da aceleração da vacinação, podemos aumentar essas atividades presenciais. Por último, estamos retomando as iniciativas práticas para em seguida focarmos nas teóricas”, conclui David.
Outro fator destacado por Marcus David durante o webinar foi sobre a logística do semestre letivo. “À medida em que avançamos os calendários acadêmicos das universidades, mais atividades práticas estão sendo dadas. Apesar de os calendários ainda estarem atrasados, essa evolução positiva dos indicadores possibilita uma retomada mais próxima da realidade que conhecemos a partir do próximo semestre.”
Questão orçamentária
O presidente da Andifes alertou sobre o quanto os cortes orçamentários, realizados pelo Governo federal, trazem impactos negativos para as universidades federais e prejudicam o retorno presencial, pois a pandemia tonificou, ainda mais, as desigualdades sociais e econômicas dos brasileiros e isso afeta diretamente o segmento estudantil. “Em 2020, tivemos um corte de 6% se comparado a 2019. Já em 2021, a redução de orçamento equivale a uma perda de 16% em comparação a 2020. O caos só não se instalou por causa da interrupção das atividades presenciais. Por outro lado, aumentou os gastos em políticas de assistência estudantil que buscou criar condições para que todos os segmentos da sociedade continuassem a ter acesso às universidades por meio do ensino remoto.”
Entretanto, para exemplificar a situação delicada dos institutos federais, David explicou que a redução drástica do orçamento, apesar dos esforços dos gestores das universidades, afetou essa política de assistência estudantil, pois foi preciso criar auxílios digitais para que estudantes pudessem permanecer nos cursos de graduação e pós-graduação. “O Ministério da Educação (MEC) demorou para criar alternativas para auxiliar a situação discente, então as universidades federais precisaram se antecipar em propor soluções, considerando a crise econômica e social vivida em território brasileiro em decorrência da Covid-19.”
Ensino remoto
David destacou que, além dos auxílios digitais, foi necessário desenvolver políticas para atender as demandas de saúde dos estudantes, situação agravada pelo quadro epidemiológico, e desenvolver estratégias para o oferecimento das disciplinas teóricas. Também explicou que o ensino superior federal não se trata apenas do aprendizado em sala de aula, mas das interações e oportunidades oferecidas por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, e que a ausência dessas interações sociais, das mais diversas naturezas, preconizam os processos formativos e essa é uma das angústias pensadas para a retomada das atividades presenciais.
“Acredito muito no sistema universitário e sei que nos reinventamos para evitar possíveis prejuízos no ensino. As perdas formativas se deram, pois o ensino superior federal não depende apenas da sala de aula, mas de outros processos. No entanto, acho que também devemos pensar nas várias potencialidades encontradas no ensino remoto. A própria Andifes fez um projeto piloto em que estudantes de instituições federais diferentes puderam se matricular em matérias oferecidas em cursos de outras universidades. Essa experiência foi muito positiva”, explicou o presidente da Andifes.
Princípio da autonomia
Quando questionado sobre o não cumprimento da nomeação de reitores que não foram os escolhidos pela comunidade acadêmica, David explicou que a situação é bastante delicada por ferir o princípio da autonomia universitária. “Tal princípio não pode estar associado ao alicerçamento de forças políticas, econômicas e religiosas. As verdades que são encontradas em pesquisas podem ser frustrantes para determinados grupos e ferir o pensamento que possuem.”
Dentro dessa lógica, apontou que é preciso considerar que os dirigentes da instituição são líderes escolhidos pela comunidade acadêmica. “Quando defendemos o princípio da autonomia, vivemos, diante dessas escolhas feitas pelo Governo federal, ambientes conturbados que prejudicam o desenvolvimento das instituições. Por isso, manifestamos posições contrárias.”
Diálogos
Durante o webinar, o reitor da Unicamp, Antônio José Meirelles, explanou sobre a situação da instituição, diante da pandemia, e apontou sobre os protocolos que estão sendo seguidos para a retomada gradual das atividades presenciais, entre elas, o avanço da vacinação e o cumprimento dos protocolos de biossegurança. Ainda abordou sobre as preocupações com o ensino e sobre a necessidade de ampliação das políticas de assistência estudantil em âmbitos pedagógicos, psicológicos e sociais. “É preciso separar a discussão do remoto e do presencial. Primeiro precisamos voltar ao presencial para depois vermos como esse hibridismo pode funcionar. Isso vai nos exigir criatividade, mas será possível usar essas experiências que nos permitem maior colaboração entre as universidades brasileiras e ampliar a nossa internacionalização”.
Já o diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, apontou como a pandemia afetou as instituições de ensino superior privadas. Segundo Capelato, o nível de evasão aumentou cerca de 5% durante a crise sanitária, subindo de 30% para mais de 35%, principalmente para os alunos do primeiro ano que não tiveram contato com a instituição de ensino e para aqueles que não tiveram condições financeiras de arcar com os gastos do ensino superior. Ainda alegou que as universidades particulares tiveram muitos prejuízos durante o quadro epidemiológico. “Também tivemos ganhos, pois professores se reinventaram e nós precisamos trazer essas experiências positivas. Acho que o formato híbrido pode facilitar a vida dos estudantes e enriquecer as experiências acadêmicas. No fim, trará um modelo mais rico para o ensino superior”, finalizou.
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