Intitulada “Aprendizagem escolar na pandemia: Que contribuições a ciência pode dar?“, a mesa-redonda coordenada por Roberto Lent (UFRJ) ocorreu na manhã desta quinta-feira (22) como parte do penúltimo dia da programação da 73ª Reunião Anual da SBPC. O evento, com tradução em tempo real para Libras, contou com a participação das seguintes pesquisadoras: Elaine de Paulo da Paixão (SEEDUC/RJ), Maria Beatriz Martins Linhares (USP) e Marianne Rossi Stumpf (UFSC).
Em sua participação, Marianne destacou os profundos impactos da pandemia nos estudantes surdos. Sem poderem ir à escola, a tendência é de que as crianças surdas convivam somente com seus familiares, além de notar a ausência de intérpretes na maioria das atividades remotas. Desta forma, a aprendizagem da primeira língua (Libras) fica comprometida, tendo em vista que a introdução tardia da linguagem de sinais é maléfica ao desenvolvimento social e pessoal dessas crianças.
Ela aponta a necessidade da revisão dos materiais didáticos digitais utilizados na aprendizagem de alunos surdos, tendo em vista que somente a tradução do português para Libras por muitas vezes não considera um contexto necessário ao aluno. Além disso, a ausência do canal visual direto nas plataformas digitais prejudica bastante a compreensão dessas crianças, contribuindo para a criação de lacunas comunicacionais, que são ampliadas devido ao não conhecimento da linguagem de sinais pelos pais que acompanham os filhos no ensino emergencial remoto.
Já a pesquisadora Maria Beatriz analisou aspectos relacionados à pandemia no desenvolvimento humano. Diante das situações de estresse ocasionadas pelo distanciamento social, ela destaca que os primeiros estudos do tema já apontam problemas como distração, irritabilidade e excesso de apego aos pais nas crianças. Sintomas relacionados à depressão também se sobressaíram diante das mães neste período, quando comparados ao período pré-pandêmico.
Para Maria, diante da ausência da socialização, assim como também no excesso de uso de telas, a pandemia afeta três necessidades básicas: a da competência, da autonomia e dos relacionamentos. Portanto, a reversão destes dilemas causados pelo atual momento somente podem ser combatidos por meio da comunicação sobre os medos e preocupações, assim como no incentivo ao brincar das crianças para um desenvolvimento saudável dessa população, destacando também o papel primordial das escolas e da família no cumprimento dessas questões.
Elaine, que é professora de Biologia no município do Rio de Janeiro, fez uma análise sobre a questão da saúde mental dos profissionais da educação, assim como os impactos da pandemia no ensino básico de maneira remota. Ainda que a tecnologia tenha possibilitado a continuidade do processo pedagógico nesse período, ela ressalta que a interação professor-aluno ficou severamente prejudicada, tendo em vista que nem todos os alunos têm facilidade de se comunicar diante da barreira tecnológica.
Sendo assim, ela conduziu uma pesquisa informal com trabalhadores da educação, pela qual notou que a grande maioria não se sentia em boas condições emocionais e profissionais para lidar com a questão do ensino remoto. Da mesma maneira, o impasse tecnológico também atrapalhou a maioria, tendo em vista a ausência de auxílios financeiros na aquisição de equipamentos essenciais. Por fim, ela destaca que a ausência do acolhimento presente nas escolas também é prejudicial, tendo em vista que a escola às vezes é um dos únicos redutos afetivos de alguns jovens.