O surgimento de novas variantes do coronavírus era uma questão de tempo – que foi encurtado devido ao descontrole da pandemia no Brasil, resultando no risco de contaminação pelas variantes enquanto ainda não existe uma ampla imunização da população. Agora, adicionado às pesquisas que já são realizadas em tempo recorde para dar conta do avanço da pandemia, também são desenvolvidos novos estudos para compreender as mutações e atestar a eficiência das vacinas disponíveis frente aos novos cenários possíveis.
“O coronavírus apresenta uma transmissão menor do que outros vírus de RNA: cerca de um quarto da taxa de mutação do vírus HIV e metade da taxa de mutação do vírus Influenza, que causa a gripe. Porém, mesmo com essa taxa mutacional melhor, o alto número de pessoas infectadas resulta em um cenário em que essas mutações acabam sendo mais comuns”, explica o pesquisador do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista em Virologia, Aripuanã Watanabe.
A variante brasileira é mais agressiva ou transmissível?
A variante brasileira, chamada de P.1, preocupa autoridades nacionais e internacionais por apresentar um maior potencial de contágio. Ela é associada ao colapso do sistema de saúde no Amazonas, porém não é a única responsável pelo cenário crítico na região – segundo pesquisadores, o afrouxamento de medidas de isolamento social e a falta de amparo e de informação da população são igualmente perigosos para o agravamento da pandemia.
“Ainda não é possível fazer uma relação entre a transmissão e a agressividade da variante. Mas, assumindo que ela tem o mesmo nível de agressividade do que a original, é esperado que o número de casos graves siga aumentando junto com o crescimento do número de infecções”, aponta Watanabe. Um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Oxford sugere que, além da P.1 espalhar-se mais rapidamente, há a possibilidade da mesma causar reinfecção – ou seja, pessoas que já pegaram Covid-19 anteriormente podem ser infectadas novamente.
Eficácia de vacinas contra as novas variantes
Testes e estudos preliminares sugerem que as vacinas da Sinovac (CoronaVac), da AstraZeneca (Oxford) e da Pfizer são capazes de neutralizar a P.1. Pesquisadores também estão testando a eficácia contra as variantes identificadas no Reino Unido (chamada B.1.1.7) e na África do Sul (B.1.351). “Fabricantes internacionais já estão verificando e revisando a composição das vacinas para que, eventualmente, caso necessário, sejam incluídas proteínas das novas variantes. Esse é um processo que dá para ser feito em um tempo relativamente curto. Então, se conseguirmos atualizar e modificar essas vacinas rapidamente, junto a um processo de vacinação eficaz da população, é possível que não tenhamos grandes problemas”, avalia Watanabe.