Ao longo de meses dedicados ao combate e ao estudo da Covid-19, os sintomas causados pela infecção do Sars-CoV-2 já são facilmente reconhecidos pelos profissionais da saúde, facilitando tanto o diagnóstico quanto a manutenção das sequelas – visto que, até o momento, não existe tratamento específico para a doença causada pelo coronavírus. Nesta matéria, especialistas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) explicam o como acontece o surgimento e quais as possibilidades de reversão de dois sintomas característicos da Covid-19: a perda de paladar e de olfato.
“Um número reduzido de pacientes ficará com perda olfatória definitiva por destruição dos neurônios.”
Processo inflamatório
A perda do paladar está diretamente associada à perda do olfato. A médica otorrinolaringologista e docente da UFJF, Leticia Bakary, explica que a perda em pessoas infectadas pelo coronavírus ocorre por um intenso processo inflamatório no bulbo olfatório, que resulta na destruição de células de sustentação e das células basais. Segundo uma explicação simplificada de especialista, o processo de captação de um odor começa pela entrada do mesmo nas narinas, com absorção da mucosa nasal. Durante essa absorção, os neurônios “traduzem” a informação do odor que, posteriormente, passa pelo nervo olfatório e chega ao bulbo olfatório – este, por sua vez, trata-se de uma estrutura cerebral responsável por receber a informação dos neurônios olfativos para identificar o cheiro.
Possibilidade de perda permanente de olfato
Em comparação com outras doenças respiratórias, existem particularidades na ausência de olfato e de paladar em decorrência da infecção pelo coronavírus: entre os contaminados por ele, a perda dessas sensibilidades acontece repentinamente e pode persistir além do tempo de infecção da doença. “Interessante observar que este pode ser o único sintoma de um quadro de Covid-19 que, normalmente, não vai apresentar congestão nasal e coriza”, pontua a otorrinolaringologista Rosana Caiaffa, preceptora do Hospital Universitário (HU) da UFJF.
“A maioria dos pacientes que tem esses sintomas após infecção pelo coronavírus não tem morte neuronal, ou seja, o olfato eventualmente volta ao normal. Cerca de 3% dos pacientes, no entanto, não recuperarão esse sentido devido à perda olfatória definitiva por destruição dos neurônios. Neste caso, a pessoa deve ser orientada para medidas de segurança quanto a identificar vazamentos de gás, princípios de incêndio e alimentos estragados, por exemplo, já que ela não sentirá cheiros”, explica Letícia Bakary.
Dados apontam que 65% dos pacientes que apresentam casos leves da Covid-19 recuperam a função olfatória em torno de 14 dias. No entanto, de acordo com as especialistas, esse período depende da evolução em cada pessoa infectada. Nos casos em que o paciente não recupera a sensibilidade dentro do tempo de infecção estimado, é possível que a perda olfatória e do paladar seja mais severa e prolongada, perdurando por meses.
Opções para reverter as sequelas
O tratamento para a perda de paladar e olfato deve ser primeiro avaliado por um médico especialista para, depois, ser definir o processo adequado para cada caso. “Têm sido usadas medicações para conter este processo inflamatório com liberação de substância lesivas aos componentes do bulbo olfatório”, compartilha Letícia Bakary.
Nos casos em que o paciente segue sem sentir o cheiro e não identifica o sabor pelo paladar, mesmo após o tempo de infecção, é necessário realizar um tratamento específico elaborado por um profissional otorrinolaringologista. A médica Rosana Caiaffa explica que há um protocolo para estimular o olfato. “Existem algumas alternativas de tratamento, sendo a principal delas o que chamamos de treinamento olfativo, que consiste em estimular o olfato através de alguns cheiros como café, baunilha, mel, vinagre, cravo, pasta de dente de menta, entre outros produtos e alimentos. O paciente irá cheirar cada substância a cada 15 segundos, dando intervalos de 10 segundos entre cada amostra, duas vezes ao dia.”