O repertório italiano para flauta doce e cravo é destaque no concerto que Inês d’Avena e Claudio Ribeiro apresentam nesta segunda, 23, no 31º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. Gravada especialmente para a edição virtual do evento, a apresentação será exibida pelo canal do Centro Cultural Pró-Música no YouTube. O programa reúne obras de Martino Bitti, Francesco Durante e Alessandro Santini, compositores cujos trabalhos integram as pesquisas realizadas atualmente pela dupla brasileira na Itália.

Duo brasileiro Inês d´Avena e Claudio Ribeiro gravaram especialmente para a edição virtual do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga (Foto: Sébastien Smeur)

O evento, realizado pela Pró-reitoria de Cultura e pelo Centro Cultural Pró-Música, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), se estende até 30 de novembro, sempre via plataformas virtuais. As transmissões acontecem diariamente a partir das 19h, com palestra do professor de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, destinada a fazer uma contextualização histórica dos programas dos concertos. Em seguida, às 20h, as apresentações são transmitidas. 

Os músicos brasileiros estão em Veneza, em sua segunda residência artística, durante a qual se dedicam exclusivamente à pesquisa e à performance do repertório italiano para flauta doce e cravo e para cravo solo. Segundo Inês, “esta experiência nos proporciona acesso direto a diversos arquivos, bibliotecas e coleções deste riquíssimo património musical que tanto contribuiu para a história da música, em especial dos séculos XV a XIX. Aqui buscamos autores, repertórios, práticas e estilos mais esquecidos, e decidimos compartilhar algumas dessas redescobertas com o público do Festival”. 

O programa inclui uma sonata de Martino Bitti (1655/6-1743), uma “toccata” de Francesco Durante (1684-1755) e outra sonata de Alessandro Santini, autor sobre o qual nada se sabe. A apresentação é aberta com a “Sonata V”, composta em 1711 por Bitti, que trabalhou como violinista para o grão duque Cosimo III e para o príncipe Ferdinando de Medici. Suas oito sonatas para flauta doce e baixo foram publicadas em Londres, em 1711 e 1712, pela famosa editora de John Walsh. “O estilo das sonatas é um tanto particular para um autor italiano do começo do século XVIII, ainda se utilizando de danças como Allemanda, Sarabanda e Giga, muito mais comuns nesse período na França”, ressalta Inês.

Já Durante foi um dos principais compositores do barroco napolitano, tendo sido professor de vários outros compositores do período, entre eles Pergolesi e Paisiello. A “toccata” em dó menor encontra-se em um manuscrito na British Library e, segundo a pesquisadora, representa bem o estilo napolitano da primeira metade do século XVIII.

Seis sonatas manuscritas de Santini – até onde se sabe são suas únicas composições – encontram-se na coleção da Fundação Querini Stampalia, em Veneza, em uma cópia limpa e bem escrita, num estilo já tendendo ao barroco tardio (estilo galante), típico do repertório de flauta dos anos 30 do século XVIII. O programa do concerto apresenta a “Sonata Sesta”, que, por ser a última da coleção, finaliza a obra com um conjunto de variações, prática comum nas coleções instrumentais do período.

Alcance
Com a experiência de quem já teve a oportunidade de vivenciar a atmosfera do Festival juiz-forano presencialmente, Inês d’Avena afirma que o evento “é um marco no calendário nacional e tem também papel importante dentro da América Latina, especialmente para aqueles que se interessam e se dedicam à prática e ao estudo da música antiga”.

Segundo ela, embora a interação imediata entre músicos e público num mesmo espaço acústico não seja reproduzível on-line, “a necessidade de troca e de comunicação nesse momento de recolhimento e de dificuldades só se acentuou”. Na opinião da musicista, a realização on-line do evento aumenta o alcance do Festival, fazendo-o chegar a outros públicos, e “pode vir a facilitar a divulgação do mesmo para aqueles que ainda não conhecem nem o festival e nem a música antiga”.

Os músicos
Desde 2004, a flautista Inês d’Avena e o cravista Claudio Ribeiro são convidados a se apresentar como duo em renomadas salas de concerto e festivais, não só no Brasil e na Holanda, como também na Itália, Coreia, Inglaterra, França, Bélgica e Alemanha. Em 2011, o duo foi premiado no célebre concurso Prêmio Bonporti. No ano passado, lançaram o CD “Anonimo Venexian” (Ramée/Outhere Music), com obras inéditas do barroco veneziano. 

Inês d’Avena – Flauta Doce
Nascida no Rio de Janeiro em 1983, a flautista doce Inês d’Avena destaca-se por unir com naturalidade suas atividades como concertista, pesquisadora e professora. Dedicada exclusivamente à flauta doce no repertório antigo, nos últimos 15 anos especializou-se na pesquisa e divulgação do repertório barroco italiano e mais especificamente napolitano, além de investir na redescoberta e estudo de flautas barrocas italianas, encomendando cópias e apresentando instrumentos e repertório inéditos em concertos e gravações. 

Inês foi vencedora do II International Competition Prince Francesco Maria Ruspoli (2010) e do segundo prêmio nos prestigiosos Premio Bonporti (2011) e Van Wassenaer Concours (2016). Apresenta-se regularmente como solista, musicista de câmara e em formações orquestrais por toda a Europa e Ásia, e também no Brasil e no Peru. Seus CDs, publicados pelos selos Passacaille, Challenge Classics, ORF Edition Alte Musik, Channel Classics, Ramée/Outhere e Sony Classical, têm sido recebidos com entusiasmo pela crítica especializada, que exalta seu refinamento, virtuosismo e timbre único. 

A musicista é membro da Amsterdam Baroque Orchestra desde 2008 e membro fundador do La Cicala, Schifanoia e New Collegium, com o qual foi premiada com um Diapason d’Or pelo CD Chameleon. Inês é bacharel e mestre pelo Conservatório Real de Haia e doutora pela Universidade de Leiden, e, desde 2012, é professora e orientadora de mestrado no Conservatório Real de Haia, já tendo sido convidada a ministrar masterclasses no Royal College of Music, em Londres; na Universidad Nacional de Música, em Lima; no Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, em Juiz de Fora; no Blokfluitdagen Mechelen e na 3ème Académie des musiques anciennes en Pays de Savoie em Belmont-Tramonet. 

Claudio Ribeiro – Cravo
Radicado na Holanda desde 2000, Claudio Ribeiro atua como cravista e regente em diversas orquestras e conjuntos, paralelamente a suas atividades didáticas. Ribeiro é diretor artístico e maestro al cembalo do New Collegium, co-fundado por ele, em Haia, em 2006, e com o qual tem se apresentado em toda a Europa. É diretor da Companhia de Música (Brasil) e membro na Europa do La Cicala, Barokopera Amsterdam e Radio Antiqua.

Já recebeu importantes prêmios em concursos no Brasil e na Europa (Prêmio Rotary 1999, Prêmio Bonporti 2011, Van Wassenaer Concours 2016 e um Diapason d’Or, com o CD Chameleon do New Collegium). É professor convidado e acompanhador do Conservatório Real de Haia, além de ser regularmente convidado para lecionar em importantes festivais de música antiga. 

Ribeiro é bacharel em regência, pela Unicamp (SP), e bacharel e mestre, pelo Conservatório Real de Haia. Aparece regularmente em CDs de selos como Ramée, Ricercar, Edições Ambronay, ORF, Brilliant & Passacaille, e em transmissões de rádio e TV internacionais.