Grupo dedicado ao repertório francês menos conhecido das plateias contemporâneas, o Concert d’Apollon faz, neste sábado, 21, a abertura do 31º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, em sua primeira edição virtual. Realizado pela Pró-reitoria de Cultura (Procult) e pelo Centro Cultural Pró-Música, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o evento, com programação até 30 de novembro, terá transmissão por “streaming” pelo canal da UFJF no YouTube.
Assim como vai acontecer em todos os dias de evento, o professor de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, faz, às 19h, a contextualização histórica do concerto. Às 20h, tem início a transmissão da apresentação do grupo. O programa “Les petits joyaux des Mrs François Couperin et Marais Marais – Mélange des pièces pour le Clavecin, la Viole, l’Hautbois et le Violon” – é dedicado a dois dos maiores compositores do barroco francês. No palco – isto é, no ambiente intimista da casa do músico brasileiro, João Rival, em Haia (Holanda), onde o concerto especial foi gravado no início de novembro – reúnem-se Rival (diretor artístico e cravista), o também brasileiro Beto Caserio (oboé), o israelense Alon Portal (viola da gamba) e a holandesa Elise Dupont (violino).
“Será uma honra e espero que seja o primeiro de muitos concertos, virtuais ou não,” diz Rival. Mesmo à distância, a participação é um reencontro do cravista com o evento, do qual chegou a participar ainda na adolescência, como aluno. Em sua opinião, a realização da edição em formato on-line é uma iniciativa extremamente importante, por ser um incentivo à cultura e aos músicos no momento atual de isolamento social.
“Poder prover para a sociedade música de boa qualidade através de uma instituição de ensino federal, é, ao meu ver, crucial. Acredito que toda a sociedade está aprendendo a lidar com novas formas de comunicação. Ao mesmo tempo em que temos que ficar em casa, estamos todos entrando em contato com mais pessoas, e o acesso à informação e à cultura está, de certa maneira, mais próximo.”
Repertório inédito
O quarteto é apenas uma das formações possíveis do Concert D’Apollon, que pode chegar a reunir 30 músicos, dependendo do repertório a ser executado pelo grupo. Criado em 2015 pelo carioca João Rival, o Concert D’Apollon se propõe a interpretar a música francesa de maneira historicamente informada e, ao mesmo tempo, inovadora. “Utilizamos sempre edições feitas especialmente para cada programa. O objetivo do grupo é apresentar peças inéditas para o nosso tempo, trazendo o frescor, a elegância, a graciosidade e a imponência do barroco francês para o nosso cotidiano”, ressalta.
Segundo Rival, François Couperin e Marais Marais escreveram música de alta qualidade e tiveram carreiras prolíficas que representam muito bem o gosto musical francês da época. “Couperin é mais conhecido pela sua grande obra para cravo, e Marais, por sua vez, revolucionou a música para gamba.”
O programa gravado para o 31º Festival apresenta pequenas joias escritas pelos dois compositores para a formação de câmara. “As peças podem ser tocadas por diferentes instrumentos. Apresentaremos então algumas transcrições e adaptações da música de Marais e Couperin para cravo, oboé, violino e viola da gamba, trazendo ao espectador um concerto onde se possa degustar a música dos dois compositores de uma forma especial.”
Os músicos
João Rival (Cravo e Direção Artística): Nascido em 1982, no Rio de Janeiro, Rival é bacharel em cravo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Em setembro de 2008, foi admitido como aluno de Jacques Ogg, no Royal Conservatory de Haia (Holanda), concluindo o bacharelado em 2012 e o mestrado, em 2014. O músico teve a oportunidade de trabalhar como “continuo player” do “Rameau’s Les Indes Galantes”, numa coprodução do Royal Conservatory e da Orquestra do século XVIII, sob a direção de Frans Bruggen. No mesmo ano, criou o conjunto Le Concert d’Apollon, especializado em repertório de música barroca orquestral francesa. O grupo tocou por três anos no Festival de Música Antiga de Utrecht e, em 2018, no programa principal do Festival. Em 2017, Rival juntou-se à Orquestra de Câmara Australiana como músico contínuo em sua turnê nacional. Atualmente, faz doutorado no Orpheus Instituut Gent, na Universidade de Leiden.
Alon Portal (Viola da Gamba): Nascido em Tel-Aviv, em 1990, Portal iniciou sua educação musical na Academia de Música de Jerusalém, onde recebeu uma bolsa da America – Israel Cultural Foundation. Mais tarde, continuou seus estudos no Royal Conservatory, de Haia, onde se graduou no Utrecht Conservatory. O músico frequentemente se apresenta em séries de concertos e festivais pela Europa e Israel. Participou dos festivais de Música Antiga de Utrecht e Brighton, Potsdam Sanssouci e outros, e gravou CDs pelas gravadoras Sony, Pan Classics e Berlin Classics. Ele também se apresenta frequentemente com grupos como Concert Foscari, Zefiro Torna, Barrocade, e PRJCT Amsterdam, entre outros.
Beto Caserio (Oboé): Nascido em São Paulo em 1976, Caserio iniciou os estudos com flauta e clarinete e, um pouco mais tarde, com o oboé. Obteve seu primeiro diploma pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) em 1998. De 1999 a 2005, estudou oboé barroco no Royal Conservatory, de Den Haag, obtendo bacharelado e mestrado. Desde 2000, tem trabalhado com grupos de música antiga de destaque, como Netherlands Bach Collegium, Barok Opera Amsterdam, Ensemble Elyma, Bach Collegium Japan, Les Musiciens du Louvre, Akademie fur Alte Musik-Berlin, La Sfera Armoniosa e Ricercar Consort. Desde 2014, é oboé principal da Orquestra de Bach da Holanda. Também integra a Orquestra do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, de Juiz de Fora.
Elise Dupont (Violino): Quando Elise Dupont encontrou pela primeira vez a prática da performance historicamente informada, teve a certeza de seguir a carreira de violinista barroca. Elise completou seus estudos de bacharelado no Koninklijk Conservatorium Den Haag. Em setembro de 2020, finalizou seu mestrado na Royal Academy of Music, de Londres. Os destaques recentes foram uma turnê da Paixão Segundo São João de J. S. Bach, com o Nederlandse Bachvereniging, e liderando seu conjunto Le Concert d’Apollon, na edição de 2018 do Festival de Música Antiga de Utrecht. Em fevereiro de 2019, Elise liderou a segunda orquestra da Paixão Segundo São Mateus de Bach, conduzida por Trevor Pinnock. Nesse mesmo mês, ganhou o Prêmio Mica Comberti Bach. Desde 2017, toca violino emprestado do Nationaal Muziekinstrumenten Fonds. O instrumento foi construído em 1691, em Amsterdã, por Willem van der Sijde, e pertenceu à princesa holandesa Juliana.