Diante da pandemia da COVID-19, é preciso repensar a maneira como consumimos, manuseamos e armazenamos alimentos. O médico infectologista do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Rodrigo Souza, esclarece que, embora não existam evidências sobre a transmissão de coronavírus por meio da ingestão ou da manipulação de comidas, existem os chamados fômites, ou seja, “superfícies e objetos inanimados nos quais, dependendo do material, o vírus pode ficar vivo e infectante durante horas”.
“A aquisição do coronavírus depende do contato das mucosas com a secreção vinda de uma pessoa já infectada: ela pode vir diretamente, quando alguém tosse, espirra diretamente nos seus olhos, nariz e boca; através do contato com as mãos, que depois entram em contato com nossas mucosas; ou pelo toque de objetos contaminados, os fômites”, esclarece Souza. Um estudo publicado pelo New England Journal of Medicine aponta que o novo coronavírus pode sobreviver por horas em superfícies como papelão e plástico (até 24 e 72 horas, respectivamente). O pesquisador do Departamento de Nutrição da UFJF, Renato Nunes, explica que, embora o risco de contaminação ao tocar embalagens de comidas seja baixo, há razão para adotar cuidados. Confira abaixo quais são as formas de higienização e conservação de frutas, verduras, alimentos industrializados e comidas entregues em casa.
Frutas e verduras
Nunes explica que, no caso de frutas e verduras, existem cuidados para guardá-las e, depois, de consumi-las. Antes de armazená-las em sua casa, lave as frutas e verduras com um sabão líquido neutro, enxaguando-as e secando-as bem. Já antes preparar esses alimentos, é importante a higienização com uma solução para sanitização que, segundo o professor, é encontrada nos mercados. Caso não seja possível, ele ensina como fazer a solução de forma caseira: “basta diluir, em um litro de água filtrada, uma colher de sopa de água sanitária sem cheiro ou cor”.
Após deixar as frutas e verduras nesta solução por dez minutos, é necessário lavá-las com água filtrada e só então cortá-las. “Isso evita que outras contaminações que estão na casca passem para o interior do alimento”, aponta o pesquisador.
Nunes também explica formas de armazenamento para que frutas e verduras durem por mais tempo, evitando, assim, gastos desnecessários ou a necessidade de idas às feiras ou aos supermercados para repô-las. “Algumas frutas emitem um gás chamado etileno, que acelera o amadurecimento (banana, maçã, melão, tomate, mamão, abacate, manga, pimentão, abacaxi, pêra, uvas, figos). Elas devem ficar afastadas dos alimentos que estragam com facilidade, como batatas, folhas, cenouras, aspargos, brócolis e pepino.”
“É importante deixar maçãs e pêras separadas das bananas; já o alho, as cebolas e as batatas devem ficar longe da luz direta, evitando a aceleração dos seus amadurecimentos e o surgimento de brotos”, explica Nunes. “Ervas frescas podem ser conservadas em um pote com água, desde que ela seja trocada todos os dias. Folhas de hortaliças podem ser embaladas em um saco plástico umedecido e armazenado na parte de baixo da geladeira; isso faz com que algumas dessas folhas durem até 15 dias.”
Alimentos industrializados
O pesquisador chama atenção para o fato de que as embalagens de produtos industrializados são manipuladas desde a fábrica até a sua disposição nas prateleiras e gôndolas de estabelecimentos comerciais. “Além disso, podem ser manuseadas por outras pessoas durante essa exposição”, pontua. “Recomendo higienizar os alimentos embalados com água e sabão, ou passar um pano limpo ou guardanapo com álcool gel. Se possível, isso deve ser feito do lado de fora de casa ou na área de lavagem de roupas, antes de guardá-los nos armários e na geladeira.”
Além do coronavírus, Nunes chama a atenção para outros tipos de riscos que podem ficar acentuados caso não ocorra uma higienização. “Essas embalagens podem conter urina e fezes de insetos e outros animais, como roedores e aves. Essas práticas de higiene são recomendações universais, mesmo para períodos quando não ocorrem pandemias. Neste momento em particular, não podemos nos contaminar com outros organismos e contrair doenças que podem fragilizar nosso sistema imunológico e, por isso, devemos ter os cuidados básicos de higiene em todos os momentos.”
Comidas entregues em casa
Sobre as recomendações em relação aos alimentos pedidos por delivery, o pesquisador ressalta que, se o estabelecimento tomar todas as medidas necessárias de combate e controle dos possíveis agentes causadores de doenças infectocontagiosas, a entrega pode ser considerada geralmente segura. Existem, no entanto, algumas condições para isso: “você precisa escolher um estabelecimento de sua confiança que garanta que os alimentos perecíveis (como a carne, leite e ovos) sejam de boa procedência e estejam frescos. O processo de produção deve ser limpo e de qualidade”, justifica.
Nunes reforça que sua recomendação é voltada para estabelecimentos que possuem um responsável técnico para assegurar a qualidade e a higiene correta dos alimentos. “Caso o estabelecimento não possua um nutricionista, é preferível que sejam solicitados apenas alimentos cozidos, tendo em vista que as temperaturas acima de 52 graus eliminam o vírus da COVID-19.” No caso das compras de saladas e alimentos crus, a recomendação é ainda mais restrita: Nunes sugere evitar pedir esses tipos de comida em locais que não sejam de confiança do cliente ou não estão acompanhados por um profissional de nutrição.
Outro momento de preocupação é o da entrega. “Caso as pessoas estejam preocupadas com o risco de contato e transmissão de gotículas durante a interação com os entregadores do alimento comprado, peça para que a comida seja colocada na porta, em uma caixa ou um local onde você possa pegar em seguida. Assim que pegar, retire as embalagens da sacola e faça a higiene delas da mesma forma que se faz com as compras do supermercado. É importante lembrar que estas recomendações são para o bem de todos nós e, apesar de parecerem extremas, são necessárias para diminuir a curva de contaminação.”