Com o ingresso na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), jovens cotistas começaram a fazer novos usos da cidade. Não foram só as portas da salas de aula e dos laboratórios que se abriram, mas novas experiências territoriais que ampliam o olhar acerca do espaço –  e elas estão sendo registradas no Instagram.

O projeto de pesquisa “Jovens cotistas e suas mediações espaço-temporais na cidade: política, território e juventudes”, coordenado pela professora Clarice Cassab, incentiva estudantes que entraram pelas ações afirmativas a compartilharem seus percursos cotidianos por meio da conta @jovenscotistas. São dez alunos participantes, e suas postagens geram uma base de dados que permite a análise dos usos da cidade. “Ao observarem suas fotos (e a dos colegas) eles expressam suas práticas, relações, olhares e entendimentos sobre a cidade. A ideia da metodologia é que, ao longo da pesquisa, possamos ter um mosaico de olhares sobre a cidade. A proposta é que eles sejam autores e protagonistas desse momento da investigação”, explica a pesquisadora.

A pesquisa já aponta mudanças no uso dos espaços pelos alunos. “Houve uma diferenciação na forma como percebem a cidade que ganha maior dimensão na medida em que ela vai se revelando pelas práticas cotidianas que são mediadas pelas atividades que se relacionam com sua formação: disciplinas, projetos de pesquisa e extensão, trabalhos de campo etc. Além disso, temos notado o maior uso de equipamentos culturais da cidade.” Parte dos jovens participantes da pesquisa são provenientes de outras cidades, e isso também tem sido considerado. “A mudança para Juiz de Fora trouxe para eles a necessidade de construir vínculos sociais e territoriais em uma nova cidade. Essa é uma questão que os desafia.”

Segundo Clarice, o projeto busca entender não só os códigos que organizam a vida e que estão expressos no espaço da cidade, mas também a importância da democratização do acesso ao ensino superior. “Há muitos trabalhos sobre o assunto, mas temos um olhar que se direciona para a forma como a política de cotas modifica a relação desses jovens com o espaço da cidade. A pesquisa também possibilita a criação de instrumentos que possam vir a potencializar a própria política de cotas na medida em que cria um conjunto de saberes que possibilitam incorporar a dimensão espacial.”

O aluno do 6º período de Engenharia Elétrica e participante do projeto, João Lucas de Castro conta que passou a explorar outros lugares da cidade por incentivo da UFJF. “Passei a frequentar não só os espaços da Universidade em si, mas também comecei a frequentar o Cine-Theatro Central, eventos musicais da orquestra da UFJF. A mudança foi principalmente cultural, eu não tinha costume de ir no teatro e em musicais e, após ingressar na universidade, passei a ter esse estímulo, esse incentivo. Além disso, eu participo de um projeto de extensão que me permite frequentar escolas públicas de diferentes regiões da cidade.” 

A próxima fase da pesquisa é a aplicação do questionário em alunos cotistas para ampliar o número de participantes e avaliar quatro dimensões: jovem-escola, jovem-cidade e lazer, jovem-trabalho e jovem-dimensão étnico-racial. “Dos formulários respondidos, selecionaremos alguns para uma conversa mais aprofundada”, explica Clarice. Nesta fase da pesquisa, podem participar alunos cotistas de todos os cursos da UFJF que tenham interesse. A pesquisa tem apoio do CNPq e é desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisa Geografia Espaço e Ação (NuGea) e pelo  Grupo de Pesquisa, Prática e Estudo da Educação de Jovens e Adultos (Gruppeeja).