A melodia harmoniosa dos violinos, dos violoncelos, das violas, dos contrabaixos, dos oboés, das trompas, do fagote e do cravo, tocados pela Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), encantou cerca de 1.200 pessoas que se reuniram no Cine-Theatro Central da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), na noite do último domingo, dia 21, para a abertura do 30º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga.
O concerto, que apresentou diferentes estilos do período final do barroco, encantou alunos da Universidade e inscritos de algumas das 28 oficinas oferecidas durante a semana do Festival. O barroco alemão e francês apresentado no repertório atraiu também habituais frequentadores do Festival, assim como pessoas que não tiveram contato anterior com a música e compareceram ao evento pela primeira vez.
Já é a sexta vez que a musicoterapeuta e psicóloga Denise de Azeredo e o professor Frederico Feitosa participam do Festival. Mas, para os filhos do casal, de 11 e 6 anos, o evento ainda é novidade. “Eles estudam música, então o Festival proporciona descobrir mais sobre a área desde cedo e encontrar novos caminhos para que, mais tarde possam escolher qual seguir”, comenta a mãe.
Com mais de 90 anos de atividades ininterruptas, a Sinfônica da UFRJ se apresentou pela primeira vez no palco do Central em um concerto aberto ao público. Entretanto, não é o primeiro contato que o regente da orquestra, Felipe Prazeres, tem com a cidade e com o evento. Felipe foi aluno do Festival e ressalta a importância dele em sua formação como músico. “Voltar à cidade depois de 12 anos é como voltar às origens. É um retorno muito gratificante, ainda mais tocando música barroca, que nós da orquestra adoramos apresentar ao público.”
O supervisor do Pró-Música e diretor do Festival, Marcus Medeiros, reitera o papel do evento na trajetória de profissionais e nas iniciativas semelhantes desenvolvidas pelo país. “O Festival é um marco no Brasil, por ser o pioneiro na organização de um evento especialmente dedicado à música colonial brasileira e antiga. Ao longo desses 30 anos, ele foi responsável pela formação de uma geração de músicos e pesquisadores e, até o fim da semana, ainda vai trazer apresentações especiais com repertório clássico nunca antes apresentado na cidade.”
Contextualização
Antes do início do concerto, as portas do teatro se abriram para o público interessado em entender mais sobre o contexto da música barroca, em palestra com o professor do Departamento de Música do Instituto de Artes e Design (IAD) da UFJF, Rodolfo Valverde. Durante todas as apresentações do Festival, antecedendo cada concerto noturno, o professor introduz o repertório, explicando didaticamente, aos que não têm contato habitualmente com a música, as circunstâncias históricas, as características estilísticas do momento, o que deve ser ouvido com mais atenção e os principais instrumentos utilizados.
“Aqueles que já se acostumaram, vêm sempre. Mas há sempre pessoas novas chegando. O melhor retorno que recebo é saber que depois da explanação eles entendem e aproveitam muito mais o concerto. É claro que a música pode ser fruída independente de conhecimento qualquer, mas a partir do momento que o público entende o contexto e como o discurso se desenvolve, a apreciação é muito maior.”
O aposentado Murilo Rodrigues confirma a afirmativa do professor. Participando do Festival pela primeira vez e com pouco conhecimento sobre o barroco, ele não sabia o que esperar da apresentação de uma orquestra. “Quando o concerto começou, lembrei das explicações do professor, e me atentei a detalhes que provavelmente nunca notaria se não tivesse participado dessa conversa antes.”
O concerto
Dividido em três partes, o programa começou com o barroco francês, representado por Rameau, com a Suíte da ópera” Les Indes Galantes”, passando pela Suíte “Música Aquática em Fá Maior”, de Händel, uma obra própria de um compositor que nasceu na Alemanha, viveu na Itália e se estabeleceu profissionalmente em Londres (Inglaterra).
Já a última parte, o barroco alemão representado pelo “Concerto de Brandemburgo no.1”, de Bach, obra com constante diálogo entre cordas e sopros e oposição entre massas sonoras, entre solistas e o tutti orquestral, fez o público levantar de seus assentos e aplaudir fervorosamente a Orquestra no palco.
Kethleen Formigon era uma das pessoas de pé, ovacionando a equipe. A estudante de Rádio, TV e internet da UFJF participa pela segunda vez do Festival, não somente apreciando os concertos, mas também envolvendo-se nas oficinas ministradas pelos profissionais da área. “Eu amo participar de concertos de orquestras. Nada supera a sensação de assistir a um conjunto de pessoas tocando com tanta harmonia e dedicação que me transmitem tantos sentimentos.”
Já Américo Galvão Neto participa do Festival há tanto tempo que afirma nem se lembrar exatamente qual foi a edição em que esteve presente pela primeira vez. No entanto, não importa o ano, sempre que o professor universitário e psicólogo prestigia o evento, nunca se decepciona. “O Festival é uma comunhão com a cidade e com aqueles que precisam ser reconduzidos à vivência cultural através de um trajeto histórico e apresentações tão belas. Assim como Nietzsche já dizia: ‘A vida seria muito ruim se não tivesse a música’”, menciona, contente por criar mais uma lembrança do Festival.
O 30º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira é uma realização da Pró-reitoria de Cultura (Procult) da Universidade Federal de Juiz de Fora e do Centro Cultural Pró-Música/UFJF, que acontece até o próximo dia 28, com oficinas e concertos noturnos e vespertinos gratuitos. Os convites são distribuídos no Centro Cultural Pró-Música (na Avenida Rio Branco 2.329, no Centro da cidade) no dia de cada apresentação, das 8h às 18h.
Confira a programação completa do 30º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga
Outras informações: (32) 2102-3964 (Pró-reitoria de Cultura-UFJF)
(32) 3218-0336 (Centro Cultural Pró-Música/UFJF)